De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), cada pessoa necessita de 3,3 metros cúbicos de água por mês, o correspondente a cerca de 110 litros por dia, para atender às necessidades de consumo e higiene. No Brasil, o consumo por habitante pode chegar a mais de 200 litros/dia. Um desperdício diário e contraditório diante da realidade vivida no semi-árido brasileiro que, ao mesmo tempo, compromete a capacidade de atender às necessidades das gerações futuras.

Alternativas e soluções para combater o desperdício e a escassez de água foram discutidas por representantes da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e da Companhia de Engenharia Rural da Bahia (Cerb) no 2º Momento Técnico 2008, que aconteceu recentemente na empresa.

No encontro, o engenheiro agrônomo da Cerb Lindemberg Mello, e os pesquisadores da Ufba, Asher Kiperstok, Eduardo Cohim e Martha Shaer apresentaram a proposta de um novo modelo de saneamento, baseado nos princípios de sustentabilidade ambiental.

Lindemberg abriu o ciclo de apresentações, mostrando a preocupação da Cerb com a preservação do meio ambiente, por meio do uso de tecnologias limpas para a geração de energia. E explicou que a empresa tem amadurecido o conceito de desenvolvimento sustentável, utilizando, em ação pioneira na Bahia, energia eólica e solar para bombeamento de água em locais castigados pela seca e com difícil acesso à eletricidade.

Para Eduardo Cohim, professor de Engenharia Ambiental da FTC e pesquisador da Rede de Tecnologias Limpas da Ufba, “o princípio básico do conceito de sustentabilidade ambiental é a reutilização. Um bom exemplo do uso racional da água é a reciclagem das águas cinzas”, conta Cohim.

Esse processo consiste no reaproveitamento da água dos lavatórios, chuveiros e tanques de lavar roupas para atividades domésticas em que o uso da água potável não é imprescindível, como a limpeza da casa, irrigação do jardim e lavagem dos carros. Outra forma de evitar o desperdício é optar pela instalação de aparelhos economizadores como torneiras com sensores de presença e vasos sanitários a vácuo.

Saneamento ecológico

Além de evitar o desperdício, reaproveitando as águas cinzas, o novo modelo de saneamento básico proposto pelos pesquisadores pretende reciclar também urina e fezes humana. “Nós precisamos lidar com as excretas como recursos reutilizáveis e não descartáveis”, explicou a pesquisadora do grupo de Recursos Hídricos da Ufba, Martha Schaer, apresentando a proposta da sua pesquisa.

Juntamente com outros pesquisadores, Martha visitou países como Suíça e México, onde conheceu práticas bem-sucedidas de ecosaneamento, como o sanitário ecológico seco. O vaso seco possui separação para fezes e urina e não utiliza água. Dessa forma, o processo economiza água, evita a contaminação dos aqüíferos e propicia a utilização dos nutrientes das excretas humanas no solo.

Em projeto experimental, o grupo de Recursos Hídricos da Ufba implantou um modelo de vaso seco em São Domingos, a 252 quilômetros de Salvador, no semi-árido baiano. A família beneficiada já está utilizando a urina misturada com água para regar as plantas, enquanto as fezes são depositadas numa vala para maturação e posterior aproveitamento como adubo. O sanitário não tem mau cheiro e os excrementos são utilizados como fontes de nutrientes para o solo.

O coordenador da Rede de Tecnologias Limpas da Ufba, Asher Kiperstok, destaca a importância desse tipo de discussão para que o conceito de desenvolvimento sustentável ultrapasse o nível da idealização. Para ele, um dos grandes problemas da escassez é o desperdício praticado devido à crença errônea da fartura dos recursos naturais. “Para atingir a sustentabilidade é necessário eliminar o conceito de resíduo. Produzir a menor quantidade possível e tratar os resíduos gerados”, completa o pesquisador.