Definir ações estratégicas de mobilização social para o enfrentamento da doença na Bahia. Este foi o principal objetivo da reunião do Comitê Estadual de Combate à Dengue, nesta sexta-feira (25), na Secretaria da Saúde, sob a presidência do secretário Jorge Solla e da superintendente de Vigilância e Proteção da Saúde, Lorene Pinto.

Revitalizado pelo governador Jaques Wagner no lançamento da campanha de mobilização popular contra a dengue, no dia 18 deste mês, o comitê reúne 37 entidades da área de saúde e dos mais diversos segmentos da sociedade. Presentes ainda à primeira reunião, os secretários municipais da Saúde de Salvador, Antonio Brito, de Senhor do Bonfim, Angeli Matos, e de Jequié, Stella Souza, representantes do Conselho Estadual dos Secretários Municipais de Saúde (Cosems).

O próximo encontro está marcado para o dia 9 de maio, quando será apresentada a minuta do regimento do comitê e discutida e avaliada a realização das medidas propostas nesta sexta.

Na reunião ficou constada a necessidade de se falar uma mesma linguagem, a fim de unificar a linha de conduta e fortalecer as ações, e de se agregar o maior número de pessoas na prevenção da dengue.

O diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Saúde da Rede Privada, Antonio Carlos Figueiredo, sugeriu um maior suporte dos governos estadual e municipais aos trabalhadores da reciclagem. “Eles contribuem para diminuir o número de criadouros do mosquito, quando recolhem plásticos, garrafas e outros materiais, sendo armas eficientes no combate à dengue”, afirmou.

Falando em nome do Conselho de Saúde (CES), a sindicalista e conselheira Tereza Deiró disse que o CES “está à disposição, alerta e quer ser parceiro nesta luta, que é de todos”. O diretor de Operações da Embasa, Eduardo Oliveira, informou que a empresa vem desenvolvendo ações específicas, participando de mutirões, e irá incorporar mensagens sobre a doença às contas de água, até quando for necessário.

A diretora regional adjunta dos Correios, Alba Neiva, destacou a contribuição importante que os mais de 5 mil funcionários da empresa – os carteiros que visitam mais de 500 imóveis na cidade – podem dar na divulgação das formas de combate à dengue, e que o trabalho interno também será feito, vasculhando-se os imóveis da instituição para prevenir ou erradicar possíveis focos de criação do Aedes aegypti.

“Estamos pensando em fazer um dia de mutirão, junto com os líderes comunitários. Queremos trazer 300 associações de moradores para contribuir como parceiras”, adiantou Sandra Munhoz, da Federação das Associações de Moradores do Estado da Bahia.

Vera Lúcia Cerqueira, gerente médica do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, disse já ter sido iniciado, na terça-feira passada, o treinamento para médicos e enfermeiros que trabalham nos ambulatórios do TJ. “Já fizemos também divulgação com cartazes e folhetos, nos moldes do Ministério da Saúde. Levar informação, progressivamente, é uma das estratégias”, comentou.

Desrespeito

Enquanto o representante da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), Jorge Araújo, chamava a atenção para a necessidade de intensificar o trabalho nos municípios onde há comunidades indígenas e que são territórios fechados, de acesso restrito, o diretor da Fiocruz Bahia, Mitermayer Galvão, colocou à disposição as dependências e equipamentos da instituição para pesquisas de cunho científico sobre o mosquito e capacitação de profissionais de saúde.

“É importante popularizar a ciência, levando a informação às escolas, e mais importante ainda é mobilizar, envolver e capacitar os profissionais de saúde, principalmente os médicos, para saber o que fazer diante de uma suspeita de dengue”, enfatizou o cientista.

A intervenção mais impactante foi mesmo a de Rosielma da Cruz Santos, representante da Associação Cultural de Preservação do Patrimônio Bantu (Acbantu). Ela apontou a resistência e desrespeito que muitos profissionais de saúde demonstram diante dos símbolos dos terreiros de candomblé. “Há um grande preconceito não só por parte dos agentes de saúde, mas de profissionais de todas as áreas. E, quando a gente é discriminada, se tranca”.

Por isso, ela afirma que muitos babalorixás e ialorixás se recusam a dar acesso aos agentes de saúde. “Estamos discutindo como fazer com as quartinhas, os assentamentos que ficam a céu aberto. A água é nossa vida e o povo de santo tem o maior respeito com as águas. A partir de agora, estamos pensando de outra forma e vamos pedir que a Acbantu reúna os terreiros para trabalhar com o comitê e o povo de candomblé”.