Os ideais defendidos por antigos estudantes, hoje tidos como históricos heróis contra a ditadura na Revolução de Maio de 1968. Esta foi a principal tônica da abertura do evento 68+40, hoje à noite, na Reitoria da Universidade Federal da Bahia.

Líderes estudantis à época, o deputado José Dirceu e o economista Vladimir Palmeira, que ao longo dos últimos 40 anos também se destacaram em importantes cargos públicos, participaram do debate que abriu a programação especial comemorativa.

Para o público, formado por autoridades, intelectuais, professores e estudantes, eles lembraram os princípios defendidos pelo Movimento Estudantil a partir de 64, em plena ditadura militar, bem como a violenta repressão enfrentada, a partir de instrumentos ditadores que culminaram no Ato Institucional nº 5 (AI-5), já no final de 68.

O evento foi promovido pela Secretaria de Cultura, universidades federais da Bahia e do Recôncavo, União Nacional dos Estudantes (UNE), Aliança Francesa, Instituto Cultural Brasil-Alemanha (Icba) e Associação dos Professores Universitários da Ufba.

“Falar de 68 tem muito de recordações e sonhos, mas sempre é importante lembrar que os sonhos são construídos, eles não surgem do nada”, disse José Dirceu, ao abrir o debate. “A partir do Movimento Estudantil, o ano de 68 simbolizou a luta contra a ditadura e o imperialismo, mas especialmente no Brasil foi também um marco da revolução do comportamento, num movimento amplo e libertário”, completou Dirceu.

Segundo ele, a maior lição que fica dos movimentos de 68 é a de que “sem luta e organização, não se conquista nada”.
Irreverente e bem-humorado, Vladimir Palmeira disse que embora se tenha mudado a conjuntura, a repressão à liberdade de expressão ainda está presente nos dias de hoje.

Ele citou os exemplos baianos da reação à Marcha da Maconha e a condenação de um estudante universitário apenas por ter dito que uma coordenadora era “péssima”.

Palmeira foi taxativo: “É um retrocesso proibir a liberdade de expressão”. Para ele, o ano de 68 foi um marco no século XX. “Agora, a própria velhice acomoda muitos antigos revolucionários, mas os jovens têm ainda muitos desafios a vencer na conjuntura atual”, disse.

Presente ao debate, um dos diretores da área de cultura da União Nacional dos Estudantes (UNE), Luís Parras, concordou: “É da juventude que historicamente partem as grandes transformações da sociedade”.

Edital

O debate com os heróis de 68 abriu a série de eventos, com conferências e exposição de documentários e longa metragens sobre época, prevista para este ano. Na abertura, a Secretaria de Cultura e Turismo também lançou um edital que incentiva produções culturais que promovam uma reflexão sobre as repercussões nos dias de hoje dos eventos de 1968 no Brasil e no mundo, a exemplo da revolução de Paris, na França.

“O Movimento de 68 é símbolo de um momento que durou mais do que um ano e cujas repercussões estendem-se até hoje, daí porque estamos incentivando iniciativas culturais que retratem a importância dessa época porque é no reaprendizado de 68 que criaremos sempre novos momentos para novas conquistas e um futuro melhor”, declarou o secretário de Cultura, Márcio Meirelles, que também participou do debate, entre outras autoridades.

O edital prevê apoio de R$ 600 mil para as produções, no total, em categorias diversas, como arte visual, dança, teatro, música, livro, rádio e TV. As inscrições serão abertas no dia 26 de maio e encerram-se no dia 14 de julho. Nos próximos dias, a íntegra do edital será disponibilizada no site da Secretaria de Cultura: www.cultura.ba.gov.br .