A entrega dos 200 enxovais para gestantes de baixa renda, realizada, nesta sexta (30), na sede das Voluntárias Sociais da Bahia, em Salvador, exemplifica, com clareza, a profunda fase de transformação pela qual passou a entidade em apenas um ano e meio.

Selecionadas por meio de associações comunitárias cadastradas nas VSBA, as mulheres grávidas que desejam receber o enxoval, primeiro participam do Programa de Melhoria da Saúde Materna e Neonatal, que faz avaliação e monitoramento das condições de saúde dela e do bebê.

“Na própria associação, elas preenchem um formulário para informar se estão fazendo pré-natal, quais exames realizaram e se já tomaram as vacinas indicadas”, explica Tânia Nogueira, coordenadora de Ação Social das Voluntárias.

A folha de atendimento da gestante do 5º ao 8º mês é acompanhada passo a passo pelas VSBA que, além de informar as vacinas que devem ser tomadas e os 12 exames a serem realizados e repetidos, encaminha a paciente para as unidades do Sistema Único de Saúde (SUS).

Tantos cuidados foram essenciais para a manicura e cozinheira profissional Cláudia Oliveira. Aos 37 anos, grávida do 11º filho, ela descobriu estar com uma gestação de alto-risco e, imediatamente, foi encaminhada para ser acompanhada por um especialista da Maternidade Climério de Oliveira, vinculada à Ufba.

“Fui atendida aqui, nas Voluntárias, e me encaminharam para fazer o pré-natal com esse médico, que é ótimo e tem me dado tratamento especial”, conta Cláudia.

Segundo Tânia, essas ações “visam à redução dos indicadores de morte materna e neonatal. Por isso, atrelamos as concessões dos enxovais ao trabalho de conscientização da importância do pré-natal e puerpério” (período do pós-parto ou resguardo, que dura de 6 a 8 semanas e só termina com o retorno das menstruações).

Sacrifício

O Programa de Melhoria da Saúde Materna e Neonatal das VSBA começou no ano passado, quando foram distribuídos 520 enxovais, em duas etapas: 300, em maio, e 220, em dezembro. Este ano, o processo foi aperfeiçoado.

Há um revezamento entre as 300 associações comunitárias parceiras em três etapas de entrega (maio, agosto e dezembro), em que cada uma das 10 associações selecionam 20 mulheres, resultando nas 200, por período, e 600, no total do ano de 2008.

Liderada por Selma de Souza, a Associação Beneficente Educacional e Cultural de Ilha de Maré cadastrou e trouxe para o programa 17 gestantes, com idades entre 17 e 37 anos. Sete delas são moradoras da comunidade quilombola de Praia Grande, onde o acesso para postos de saúde e hospitais é ainda mais difícil.

“Fizemos um grande sacrifício para realizar o pré-natal por causa da travessia nas embarcações, que fica pior quando o tempo está ruim”, afirma Arlene de Carvalho, 23 anos. O Ministério da Saúde recomenda para o pré-natal, no mínimo, seis consultas médicas, um direito de todas as gestantes, via rede SUS.

Para receber o enxoval nesta sexta, às 10h da manhã, as grávidas da Ilha de Maré saíram às 5h30, atravessaram a Baía de Todos os Santos de barco e pegaram dois ônibus.

Qualquer sacrifício justifica a ação comprometida com a política de saúde prevista no Pacto Nacional pela Redução da Mortalidade Materna e Neonatal, assinado pelo governador Jaques Wagner ,com o Ministério da Saúde, no dia 8 de março de 2007. 

O índice da mortalidade materna na Bahia é considerado alto para a Organização Mundial de Saúde (OMS): 63 mortes maternas por cem mil nascidos vivos, quando o aceitável é entre 10 e 20 óbitos por 100 mil nascimentos.

A redução da mortalidade infantil e a melhoria da saúde da gestante fazem parte dos oito objetivos para o desenvolvimento do milênio, estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) para todo o mundo e é voltada para isso que as VSBA estão atuando.

Transparência

“Passamos a ser indutoras de ações sociais vinculadas às políticas públicas, buscando parceria com os governos federal e estadual para dar suporte ao trabalho das diversas secretarias afins”, esclarece Fátima Mendonça, presidente das VSBA.

Enfermeira por formação, a primeira-dama do Estado situa que, ao assumir a nova gestão, recebeu demanda de pessoas com indicações políticas, “porque essa era a prática comum, anteriormente”, diz. “Mas mudamos essa concepção. Agora, não fazemos nenhuma doação a prefeituras e associações que não prestem contas”, ressalta.

Outra atitude tomada pela presidente foi a suspensão temporária de doações de óculos, colchões e filtros de água de forma aleatória, como ocorria na antiga gestão. Hoje, as VSBA executam seis programas:

1. Programa de Melhoria da Saúde Materna e Neonatal
2. Programa de Acesso aos Benefícios de Prestação Continuada
3. Programa de Supervisão e Tratamento da Tuberculose
4. Programa de Reabilitação das Deficiências
5. Programa de Ações Educativas para o Planejamento Sexual/ Reprodutivo e Prevenção das DST/Aids
6. Programa de Promoção da Autonomia das Mulheres Vítimas de Violência.

As Voluntárias também são responsáveis pelo projeto de inclusão social Jovem Aprendiz, voltado para jovens com renda familiar até 2 salários mínimos. Na última seleção, para a Embasa, houve 635 inscritos para 180 vagas.

“Descobrimos que a primeira colocada no processo era filha de um alto funcionários dos Correios e tinha renda familiar muito superior ao estipulado. Por isso, ela foi imediatamente desclassificada”, conta uma funcionária das VSBA.

Transparência e solidariedade são duas marcas fortes da nova administração, como prova a campanha Carnaval Sem Fome, em que foram arrecadadas e doadas 150 toneladas de alimentos. “E vem aí, o São João Sem Fome, numa parceria com o Arraia da Capitá”, informa Fátima Mendonça.

Ao finalizar a entrevista, para receber, em sua sala, indígenas da região de Rodelas, ela completa: “Atendemos a todos, indistintamente, sem orientação partidária”.