Mais de 220 mil baianos com 15 anos ou mais acabam de conquistar o direito de saber ler e escrever. Começou este mês e vai até julho a formatura das primeiras turmas de alfabetizandos do programa Todos pela Alfabetização (Topa), que vai atender a 1 milhão de baianos até 2010. Para este ano, a meta é alfabetizar mais 300 mil e garantir que, pelo menos, 70% dos egressos do Topa dêem continuidade aos estudos.

Em 2007, primeiro ano, o programa esteve presente em 364 dos 417 municípios baianos, contou com um investimento de R$ 18,08 milhões e atendeu a mais do dobro do público estimado inicialmente.

Para o programa, a Secretaria da Educação (SEC) contratou 15.183 alfabetizadores, 1.189 coordenadores de turma e 89 tradutores da Língua Brasileira de Sinais (Libras). “Apesar das dificuldades, avaliamos de forma muito positiva o primeiro ano do programa. Conseguimos dobrar nossa meta inicial que era de alfabetizar 100 mil baianos, saltando para mais de 220 mil”, avalia a coordenadora do Topa, Elenir Alves.

O sucesso que o programa de alfabetização alcançou na Bahia tem feito dele modelo para outros estados e uma das referências do Brasil Alfabetizado, do Ministério da Educação (MEC). O resultado é creditado ao investimento feito na formação de alfabetizadores, coordenadores de turma e intérpretes de Libras, à participação dos movimentos sociais, à parceria com as universidades e à construção coletiva do programa de alfabetizadores.

Também foram realizadas escutas abertas com movimentos sociais, onde se debateu desde a construção do calendário de aulas às demandas específicas locais, para adequar o programa às necessidades de cada região.

Para o secretário da Educação, Adeum Sauer, esta é uma vitória compartilhada com mais de 220 mil baianos que aceitaram o convite para irem à sala de aula assegurar um direito garantido por lei: o da Educação. “A secretaria apostou alto e sem medo nessa jornada pela dignidade do povo da Bahia”, destaca Sauer.

Solenidades

Os 364 municípios que aceitaram o desafio da SEC e juntos somaram esforços para minimizar os índices do analfabetismo no estado agora entram em contagem regressiva para celebrar a conquista. No dia 21 de maio, às 16h, o palco da celebração será o Cine Teatro na cidade de Itambé, com a formatura de 1.609 alfabetizandos que integraram 163 turmas do Topa. As demais solenidades de formatura do programa prosseguirão até o mês de julho.

Em Coronel João Sá, município que apareceu com um índice de analfabetismo de 54% no último censo realizado pelo IBGE, a mobilização tem sido grande. Nessa primeira fase do programa, 684 estudantes vão receber o certificado do curso de alfabetização. “É uma grande oportunidade de reverter esta realidade. Já passaram vários programas de alfabetização pelo município, mas acreditamos no sucesso do Topa pelo seu diferencial”, avalia a coordenadora do programa no município, Graziela Fabiana de Jesus Santos.

Com a maior parte da sua população, estimada em 20 mil habitantes, vivendo na zona rural, o programa conta 43 turmas, sendo 27 na zona rural e 16 na sede.

Desafios

Este ano, o programa passará por alguns ajustes para que consiga obter sucesso maior ou semelhante ao ano anterior. No último encontro pedagógico, por exemplo, realizado no início do mês em Bom Jesus da Lapa, foram definidos alguns pontos prioritários para a continuação do Topa, como a meta de 300 mil novos alfabetizandos, embora não se descarte a possibilidade de alcançar números maiores.

Outro desafio é ter um maior alcance na capital baiana. Com 5,8% da sua população analfabeta, Salvador teve uma participação irrisória no primeiro ano do programa – contou com apenas mil alunos. A expectativa da secretaria é que haja um maior envolvimento da capital nessa luta contra o analfabetismo.

O Topa, cujo projeto visava inicialmente a alcançar a adesão de 32 municípios no estado, chegou à marca de 364 prefeituras parceiras. Estas, que já manifestaram desejo de permanecer no programa, geram uma demanda de 340 mil novos alunos. Esse número estimado ainda não contabiliza os alfabetizandos que virão e novos municípios, das entidades, organizações e movimentos sociais, que devem chegar a um total de 200 parceiros.

Outra importante meta dos educadores do Topa é fazer com que os alfabetizandos mantenham seus estudos nas escolas que ofereçam a modalidade de Educação de Jovens e Adultos (EJA).

Essa é a primeira vez que um governo abre espaço para os movimentos sociais. Essa é a opinião da supervisora do Topa em Bom Jesus da Lapa, Virginelani Souza. “Isso é muito importante, porque antes, quando havia a contrapartida de uma política pública do estado para com o povo, havia condicionantes implícitos. E hoje percebemos que há realmente uma abertura sincera”, entende.