Mais de 20 famílias de uma comunidade de fundo de pasto, localizada a 30 km do município de Campo Formoso, serão beneficiadas com a implantação de um projeto habitacional inovador. O projeto, batizado de Fazenda Quina, prevê a construção de unidades habitacionais com fogões que geram energia elétrica, captação da água da chuva para cisternas individualizadas e um biodigestor coletivo para a produção de gás e fertilizante. O assunto foi tema de um debate realizado nesta quinta-feira (29) com a comunidade e os secretários de Desenvolvimento Urbano, Afonso Florence, e de Ciência, Tecnologia e Inovação, Ildes Ferreira, que realizaram uma visita técnica ao local.

Fundo de pasto são comunidades do semi-árido brasileiro, comuns em Pernambuco, Bahia, Ceará e Paraíba, que tradicionalmente ocuparam áreas nos arredores de grandes propriedades rurais. Os agricultores dividem um espaço aberto, acessível a todos e criam bois, carneiros, bodes, galinhas, plantam e convivem de forma comunitária, dividindo a terra e combinando o uso que dela podem fazer. Essa forma de organização, conhecida é reconhecida pelo governo brasileiro como uma das comunidades tradicionais do país, ao lado de quilombolas, índios, açorianos, pescadores, quebradeiras de coco, dentre outros.

O projeto prevê recursos do estado e do governo federal, através do Ministério das Cidades e Caixa Econômica Federal, sob a coordenação das secretarias estaduais de Desenvolvimento Urbano (Sedur) e de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti). Segundo Florence, esta é uma iniciativa piloto que poderá ser replicada em outras comunidades de fundo de pasto, já que na Bahia são mais de 350 cadastradas pela Coordenação de Desenvolvimento Agrário. Ele disse que a iniciativa poderá contar com o reforço de outras secretarias, como a de Agricultura, que sinalizou positivamente para o fornecimento de caprinos.

Os 21 lotes ocuparão uma área de 42 hectares, dos quais 20 serão destinados à criação coletiva de caprinos, cujos excrementos serão utilizados como matéria-prima para o biodigestor. Cada uma das 21 casas contará com três quartos, sala, cozinha e banheiro, ocupando uma área de 60 m². A idéia é que a construção das unidades habitacionais gere empregos na comunidade.

Durante quatro anos, a comunidade do local lutou para conseguir a posse legal da terra. Ela é formada por famílias descendentes de antigos trabalhadores de grandes fazendas agropecuárias. A aposentada Amélia Maria da Silva vive há 60 anos no local e nunca tinha visto um secretário de estado por lá. Mãe de 12 filhos e ex-trabalhadora rural, Amélia acompanhou o debate com atenção. “Acho que com esse projeto, a comunidade terá uma renda melhor e mais qualidade de vida”, disse.

Na área comunitária, está prevista a implantação de uma escola e de uma unidade coletiva produtora de mel. De acordo com o secretário Ildes Ferreira, a Fazenda Quina poderá ser auto-sustentável do ponto de vista energético. “Os fogões previstos para serem disponibilizados possuem capacidade de garantir o fornecimento de energia para um eletrodoméstico e três lâmpadas para cada família. O biodigestor poderá produzir o equivalente a três botijões de gás por mês para a comunidade”, disse.