A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que apenas 15% dos partos sejam realizados com intervenção cirúrgica – porcentagem referente aos partos de risco, aqueles em que a cesárea é indispensável. A média, no Brasil, é de 43% de cesarianas e, entre as mulheres que utilizam planos de saúde, esse índice chega a 80%.

No SUS, a média de cesáreas é de 26%, conforme mostram os dados de 2006. Na Bahia, na rede SUS, em 2007, 49.153 mulheres fizeram cesárea, correspondendo ao percentual de 21,4%. Para discutir o assunto, a Secretaria da Saúde do Estado (Sesab) promove nesta quarta-feira (9), às 8h30min, no auditório da Associação Baiana de Medicina (ABM), o “Seminário Parto Normal é Parto Natural”.

O Ministério da Saúde lançou, em maio deste ano, uma campanha para incentivo ao parto normal, com o objetivo de reduzir o alto número de cesarianas desnecessárias, realizadas anualmente no Brasil, mostrando as conseqüências negativas para a mulher, bebê, família e sociedade.

Um dos aspectos já identificados pelo ministério como causa para o aumento das cesáreas é o menor tempo de assistência médica necessária, em relação ao parto normal. A campanha teve ampla distribuição de material informativo, cartazes, filmes para TV e gravações para as rádios, com mensagens sobre o processo do parto normal e a sua importância. O material da campanha contribuiu para esclarecer às famílias que tudo tem o tempo certo e que o bebê também tem seu tempo para nascer.

Equívoco

No Brasil, segundo explicam os especialistas, ocorre o entendimento equivocado de que com o parto cesáreo, simplificamos o processo para indolor e mais seguro. Contudo, o parto cesárea não indicado adequadamente pode gerar sérios problemas de saúde ao bebê e à mãe, além de atrasar e interferir no processo do aleitamento materno. O alto índice de partos realizados com intervenção cirúrgica provoca vários problemas de saúde para a mãe porque aumenta o risco de hemorragias e infecções, além de comprometer o futuro obstétrico da parturiente.

Para os bebês, o parto antecipado, como ocorre na maioria das cesarianas, os estudos demonstram que os nascidos entre 36 e 38 semanas, antes do período normal de gestação (40 semanas), têm 120 vezes mais chances de desenvolver problemas respiratórios agudos, resultando em maior número de internações em unidades de cuidados intermediários, ou mesmo UTI Neonatal.

Além disso, no parto cirúrgico há uma separação abrupta e precoce entre mãe e filho, num momento primordial para o estabelecimento de vínculo e início da amamentação. Quando a amamentação é iniciada o mais rápido possível, aumenta as defesas da criança e diminui o risco de diarréia, que é uma das principais causas de óbito infantil. As infecções causadas pelo parto representam a terceira maior causa de morte dos recém-nascidos e elas acontecem muito mais em partos cirúrgicos.

A cesariana, quando utilizada nas suas indicações técnicas baseadas em evidências científicas, se constitui em grande avanço da ciência para as situações de risco para a mãe e/ou bebê. Entretanto, explicam os médicos, tem sido comumente utilizada desnecessariamente, sem uma indicação precisa, o que aumenta as chances de complicações e morte para ambos.

A conferência do consultor do Ministério da Saúde, Adson França, às 9h, iniciará a programação do seminário. Durante o dia haverá palestras da presidente da Associação Brasileira de Obstetrizes e Enfermeiros Obstetras do Rio de Janeiro, Heydy Alves, da representante da Associação Brasileira de Enfermagem do Paraná, Kleyde Ventura, da Universidade Estadual de Feira de Santana, Juliana Freitas, entre outros especialistas.