A partir desta sexta-feira (8), às 19h, no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM), a memória e a identidade serão materializadas em apurados registros fotográficos, ganhando vida, respectivamente, nas exposições Olhei Tanto que Vi: Carlos Moreira encontra German Lorca, de Carlos Moreira e German Lorca (Galeria 3), e Transfigurações, de Lucia Guanaes (Galeria subsolo).

A abertura oficial das mostras, viabilizadas pela parceria do MAM com a Pinacoteca do Estado São Paulo e a Casa da Photografia, acontecerá dentro da programação do “A Gosto da Fotografia – 4º Festival Nacional”. As exposições permanecem abertas à visitação até 14 de setembro.

Oferecendo uma observação singular da cidade de São Paulo, a exposição de Carlos Moreira e German Lorca foi pensada especialmente para o MAM. De acordo com Diógenes Moura, curador de fotografia da Pinacoteca do Estado de São Paulo e do A Gosto da Fotografia, a exposição Olhei Tanto que Vi: Carlos Moreira encontra German Lorca é um encontro inédito entre dois grandes fotógrafos paulistas, que proporciona uma reflexão sobre a forma como a Bahia trata sua memória.

“A exposição sugere uma sutiliza ímpar na preservação da memória por meio da fotografia. Este tema pode proporcionar uma reflexão sobre a forma como a Bahia vem tratando sua memória nos últimos 20 anos que, ao meu ver, é uma forma muito alegórica e pitoresca, carnavalizada”, disse o curador.

Diógenes destaca ainda a importância da fotografia na Bahia. “Não podemos deixar de lado o fato de que Salvador tem uma grande e pesada tradição fotográfica, que não pode ser esquecida, tampouco interrompida. Precisamos movimentar este cenário. Aliás, estamos movimentando. Estas duas exposições são exemplos disso.”

Em Transfigurações, Lucia Guanes concentra-se no registro de identidades, por meio de fotos de homens travestidos de mulher, com o desafio de fugir de imagens estereotipadas. A idéia da exposição, de acordo com a própria artista, nasceu na capital baiana, durante o carnaval de 1999.

“No meio da multidão havia um homem sozinho, vestido de ‘pele de onça’ e peruca loira. Não sei se por acaso ou por instinto, perguntei-lhe se podia tirar seu retrato”, conta. Daí em diante, a artista, que reside em Paris desde 1977, mergulhou na folia carnavalesca entre 2000 e 2006, para retratar os homens fantasiados.

Apesar de temas e formas de registros diferenciadas, é possível enxergar um traço comum entre as duas exposições, de acordo com Diógenes Moura. Ambas oferecem, segundo ele, retratos originais para além dos estereótipos. “Salvador é uma cidade de intenso fluxo cultural, que precisa ser retomado para além de seu caráter carnavalizado. Neste sentido, estas duas exposições vêm contribuir para o desenvolvimento do cenário artístico soteropolitano, sobretudo, para o cenário da fotografia”, afirma.

Oferecendo uma noção geral sobre as mostras, Solange Farkas, curadora internacional e diretora do MAM resume o seu pensamento – “No cubo branco da Galeria 3, espaço expositivo mais tradicional, a fotografia clássica, elegante e em preto e branco dos fotógrafos Carlos Moreira e Germam Lorca se aproximam e dialogam.

Na Galeria do Subsolo, com seu despojamento de paredes de tijolos aparentes e arcadas, os elevados da fonte de Lina Bo Bardi se transformam em palco para os personagens de Lucia Guanaes. Nas imagens, o registro de um cotidiano mundano, do underground da cidade, com toda a sua beleza kitsch, seu glamour.

Dois universos distintos que se aproximam pela intervenção e olhar sensível do curador Diógenes Moura, apresentados ao público baiano graças à parceria do MAM com a Pinacoteca do Estado de São Paulo e com a Casa da Photografia”.

Bate-papo

Neste sábado (9), Lucia Guanaes e Diógenes Moura participam de um descontraído bate-papo sobre a fotografia e suas trajetórias profissionais. O encontro acontece a partir das 14h, na Galeria 1, do MAM, com entrada gratuita.

Fotografia e Cinema

Como parte da programação das exposições, o Museu de Arte Moderna da Bahia traz, em parceria com a Pinacoteca de São Paulo, uma série de vídeos e filmes documentários sobre fotografia. São eles a série “Foto.doc”, com cinco vídeo sobre importantes fotógrafos brasileiros, “Nicolas Bouvier: A Coruja e a Baleia”, um filme de Patrícia Platner sobre as viagens do escritos e fotógrafo Nicolas Bouvier, e “Cosmos – Três Olhares Sobre a Rússia”, um filme de Luis Gustavo Dias sobre a viagem a Moscou e São Petersburgo dos fotógrafos Maurício Nahas, Paulo Mancini e Ricardo Barcellos. As exibições acontecem gratuitamente de segunda a quinta, à tarde, na Sala de Arte -MAM.

Artistas

Carlos Moreira – Paulistano, o economista Carlos Moreira iniciou-se na fotografia aos 28 anos de idade e nunca mais parou. Tornou-se, ao lado de Cristiano Mascaro, um dos grandes cronistas visuais da cidade de São Paulo. Em 2004, fez a exposição "São Paulo Dos Olhos Para Dentro", realizada na Pinacoteca do Estado, comemorando 40 anos de carreira e os 450 anos da metrópole. Esta exposição lhe rendeu o premio da APCA de melhor mostra do ano. Além de fotografo "amador" (como se auto-intitula), é conhecido e reconhecido como grande professor de fotografia.

German Lorca – É fotógrafo profissional desde 1948, concluindo aprendizado no Foto Cine Clube Bandeirante de São Paulo. Em 1954, abriu um estúdio próprio, especializando-se em fotografia publicitária e fotografando para as maiores agências. Colaborou, também, como free-lancer para o jornal O Estado de São Paulo e para as revistas Casa Cláudia, Desfile, Casa & Jardim e Vogue. Acumula cerca de dez exposições individuais, 14 coletivas e importantes premiações, como a Medalha de ouro – prêmio Alexandre Del Comte na exposição internacional de Buenos Aires, e o Mérito – fotos publicitárias em Miami.

Lucia Guanaes – Paulistana nascida em 1955, Lucia Guanaes vive em Paris desde 1977. Em 1983, formou-se em Comunicação Visual na École Nationale Supérieure des Arts Décoratifs e fundou, junto com Marc Dumas, o estúdio de design Tout pour Plaire, que tem colaborado com importantes instituições culturais francesas: Centre Georges Pompidou, Centre des Monuments Nationaux, Cité de la Musique e La Villette, entre outros. Desde 1986, desenvolve um trabalho fotográfico autoral. Suas fotografias fazem parte do acervo da coleção MASP-Pirelli do Museu de Arte de São Paulo.