Publicada às 14h10
Atualizada às 19h10

O Laboratório Central da Polícia Técnica da Bahia acaba de ganhar uma Coordenação de Entomologia Forense – ramo da medicina legal que estuda a biologia dos insetos e sua relação com eventuais fatos criminosos. O espaço, que vai ajudar na solução de crimes como homicídio, estupro, envenenamento e tráfico de drogas, foi inaugurado, nesta terça-feira (9), durante um ciclo de palestras na sede do Departamento de Polícia Técnica (DPT), com a participação de especialistas que vieram de estados como Rio de Janeiro, São Paulo, Amazonas, Paraná, Amapá e Distrito Federal.

Com a aplicação da entomologia em procedimentos legais, pode-se obter uma estimativa de morte. “Com base na sucessão de insetos encontrados num cadáver em decomposição, é possível inferir quanto tempo ele está ali, além de fazer ligações com suspeitos que estiveram presentes no local”, explica o perito criminal e coordenador do laboratório, Torriceli Thé.

Ele afirma ainda que a entomologia trabalha também com vestígios de substâncias tóxicas entorpecentes encontradas nos insetos – e das quais eles se alimentam. O estudo pode indicar se o indivíduo foi vítima de overdose de cocaína ou fez uso de qualquer tipo de medicamento, veneno, chumbinho e afins.

Os insetos mais comuns encontrados em cadáveres são os dípteros e os coleópteros – moscas e besouros, respectivamente. Eles também podem auxiliar na solução de casos ligados ao tráfico de drogas.

Torriceli Thé explica que é comum haver resto de insetos, por exemplo, na maconha que é transportada. Por serem próprios de determinadas regiões geográficas, estes insetos, ao serem estudados, podem apontar de onde veio a droga. “E assim conseguimos um traçado da rota do tráfico”, detalha.

A entomologia forense não perde a eficácia quando o intervalo entre a morte e o início das análises é longo – ao contrário dos métodos da medicina legal convencional, que se tornam menos eficazes quando este tempo é muito prolongado.

A Bahia é o primeiro estado do país a implantar uma coordenação desse tipo numa instituição policial. A infra-estrutura para a instalação do espaço foi financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb). O local vai contar com o trabalho de entomologistas, peritos, alunos de graduação e pós-graduação.

A entomologia forense, ao analisar insetos associados a um cadáver humano, pode ser capaz de determinar a data da morte, e, quando for possível, deduzir as circunstâncias que cercaram o fato, antes ou depois do ocorrido. Também é possível verificar se o corpo foi movido para um segundo local após a morte ou manipulado por animais – ou até pelo próprio assassino, que pode ter retornado à cena do crime. As pesquisas nesta área são feitas desde a década de 1850 e vem obtendo progressos nos últimos anos.