De olhos vendados e sem poder falar. A sensação de almoçar com essas dificuldades foi vivenciada pelos profissionais que estão participando do 1º Curso de Surdocegueira, capacitação promovida pela Coordenação de Educação Especial, da Secretaria da Educação do Estado (SEC), no Instituto Anísio Teixeira, na Paralela.

A aula prática aconteceu, nesta quinta-feira (9), no restaurante do IAT, para que os educadores percebessem as reais dificuldades do aluno com deficiência visual.

Eles só podiam apenas se comunicar com os respectivos guias pela datilologia (técnica de soletrar palavras com as mãos). Desta forma saíram da sala de aula até o restaurante e lá fizeram a refeição. “Meu sentimento é saber que tenho confiança na minha professora. Só consegui perceber que tem uma melancia aqui na minha bandeja porque ela se comunicou comigo pela datilologia e pelo cheiro percebi que tem peixe”, afirmou o professor de Libras, Jeferson Santos, da Escola Dr. José Seixas Filho, localizada em Mata de São João.

Por atuar com estudantes especiais há alguns anos, ele experimentou algumas vivências em casa, mas destacou que num ambiente diferente a dificuldade é grande. Por isso, é de extrema importância um professor capacitado para ter uma visão maior da situação e entender melhor as necessidades do aluno, criando, assim, uma relação de confiança.
Já a vice-diretora do Colégio Estadual Professor Alexandre Leal Costa, em Barreiras, Sinisia Pinto, que participou da aula prática como guia, disse que pode perceber a dependência dos alunos com o guia e que esta é uma forma de abrir caminhos para melhorar a comunicação.

“Percebi a importância do guia quando aprendi que a mão do aluno fica em cima da de quem o está guiando, pois este só o leva ou coloca o membro do seu corpo em locais que não represente perigo. Então, é uma relação de extrema confiança e respeito e quem faz este trabalho tem que fazer com amor”, afirmou.

Salas multifuncionais

Oferecer atendimento de excelência nas salas multifuncionais aos portadores de necessidades especiais, atingindo o objetivo maior da Educação, que é a melhoria da qualidade de ensino. Essa é a proposta da Coordenação de Educação Especial ao realizar capacitações dos profissionais que atuam nesta área.

De acordo com o coordenador João Prazeres, as ações estão acontecendo num momento importante em que o Estado está recebendo recursos do MEC para acessibilidade e instalação de mais 40 salas multifuncionais.

O Curso de Surdocegueira, que orienta os docentes a lidar com o aluno e criar estratégias de avaliação e cuidados em sala de aula, prossegue até terça-feira (14). O próximo curso será de Libras, que acontece no período de 13 a 24 deste mês.

Criar estratégias

A capacitação tem carga horária de 60 horas e é mesclada entre teoria e prática. Para a presidente do Grupo Brasil de Apoio ao Surdo-Cego, de São Paulo, Shirley Maia, que está em Salvador para ministrar o curso, a parte da vivência é importante por mostrar os verdadeiros sentimentos de uma pessoa surdocega e criar estratégias para se trabalhar a comunicação que é o maior obstáculo. Na opinião dela, “é uma forma também de saber o momento exato de esperar, além de trabalhar a paciência e muitas vezes, enxergar a necessidade de mudar o lugar dos móveis e objetos da sala”.

Durante o curso são trabalhadas as formas de avaliação, que pode ser feita por meio da visita à casa do estudante, do comportamento dele com outras pessoas e pelo contato. Além disso, integra a programação, temas como comunicação, currículo funcional e a fase adulta do surdocego.

A Coordenação de Educação Especial já realizou outras capacitações para os profissionais que atuam ou atuarão nas salas multifuncionais, como Dosvox, que é um programa de informática que permite que o computador fale o texto.
Também o curso de Orientação e Mobilidade, para ensinar ao aluno se movimentar em espaços internos e externos. O próximo será de Libras.