Enólogos e apreciadores de vinho em geral não precisam mais sair da Bahia para conhecer um complexo enoturístico. Neste sábado (11), o mais novo produto turístico baiano foi lançado em grande evento na região conhecida como Lagos do São Francisco, no município de Casa Nova, a 573 quilômetros de Salvador.

A Fazenda Ouro Verde, de propriedade do grupo Miolo Wine Group, expandiu sua área de produção com novas instalações que incluem um receptivo com salas de degustação e loja de varejo com todos os produtos da marca que engloba sete empresas nacionais e estrangeiras, com mais de 70 itens.

A cerimônia reuniu mais de 400 convidados entre operadores de turismo, jornalistas, empresários do ramo hoteleiro e representantes do governo. Ao lado dos diretores da Lovara , Osborne e Miolo, o governador Jaques Wagner e a presidente das Voluntárias Sociais, Fátima Mendonça, inauguraram a nova linha de engarrafamento. As vinícolas investiram cerca de R$ 30 milhões no empreendimento que deverá expandir a produção dos atuais 3 milhões de litros/ano para 10 milhões de litros/ano até 2012, gerando 300 empregos diretos.

“Decidimos expandir nossa produção para atender à crescente demanda pelos vinhos da linha Terranova, que desde que chegou ao mercado vem conquistando um público fiel progressivamente”, afirmou Adriano Miolo, diretor-superintendente da Miolo Wine Group, se referindo à marca que foi criada para identificar os vinhos produzidos na região do São Francisco.

Para se ter uma idéia do potencial do negócio, hoje 15% dos vinhos finos produzidos no Brasil são oriundos do Vale do São Francisco. Segundo o sócio Eurico Benedetti, a beleza da região e sua vocação como produtora de vinhos finos “a torna um ponto turístico potencial para o brasileiro e para os estrangeiros”.

O Roteiro

Na Fazenda Ouro Verde, os turistas terão visitas guiadas ao parreirais e aos locais de produção e armazenamento, com acesso à cantina, clave subterrânea, engarrafamento, destilaria e sala de degustação. Nos campos, os visitantes vão entender como o tempo de maturação e de exposição das uvas ao sol é essencial para a qualidade do vinho. Substâncias como taninos, açúcares e polifenóis, que dão corpo à bebida, são apuradas mais rapidamente.

“Quanto mais sol, mais calor e amplitude térmica, a uva produz essas substâncias de forma mais acelerada”, explica o enólogo Henrique Benedetti.

Em Ouro Verde, numa área que se expandirá dos atuais 200 para 400 hectares em 4 anos, são produzidas cerca de 8 variedades de uva viníferas, entre as do tipo moscatel, cabernet sauvignon e shiraz destinadas à produção de espumantes, vinhos finos e brandies.

Os vinhos finos são elaborados com processos de alta tecnologia, em que a recepção das uvas ocorre por gravidade, com processo de maceração cuidadosa que preserva ao máximo a integridade das frutas e com controle de temperatura durante todo o processo. O envelhecimento se dá em tanques de inox e alguns produtos envelhecem em barricas de carvalho.

Já o brandy Osborne é feito a partir da destilação do vinho cabernet em que apenas 10% são extraídos num processo artesanal de envelhecimento e destilação conhecido como sistema de solera, tradicionalmente usado na Espanha.

Brandy é o nome apropriado para toda a bebida do tipo conhaque que é produzida fora da região francesa de Cognac, mas que nada tem a ver com os aromáticos produzidos no Brasil com cachaça e folhas, do tipo alcatrão e seus congêneres. Em 2005, o trabalho que já era desenvolvido na Fazenda Ouro Verde pelas vinícolas Miolo e Lovara desde 2001 despertou o interesse da espanhola Osborne, maior produtora de brandy na Espanha, para produzir a bebida na Ouro Verde. O projeto exigiu investimentos da ordem de U$ 5 milhões em plantio de novos vinhedos, destilaria, infra-estrutura e desenvolvimento do produto. Hoje, o processo de produção do brandy na Fazenda Ouro Verde, no sertão do São Francisco, é igual ao da Osborne na Europa.

“Resolvi apostar no negócio porque aqui se produz uva de boa qualidade, num bom clima e temperatura e com irrigação do rio São Francisco, que resulta na produção de um brandy de excelente qualidade”, afirma categoricamente Ignácio Osborne, presidente do Conselho da empresa, que veio da Espanha para o lançamento do novo empreendimento.

Enoturismo no São Francisco

O turismo do vinho surgiu há apenas 13 anos na Itália, e se disseminou em todo o mundo, sendo no Brasil a iniciativa mais bem sucedida a do Vale dos Vinhedos no Rio Grande do Sul, que fomenta o fluxo de 130 mil visitantes por ano.

No Vale do São Francisco, que desponta como principal rota do enoturismo no nordeste brasileiro, além da visita às vinícolas para conhecer os vinhedos e degustar os vinhos, o turista tem outras opções de lazer, como passeios pela cidade de Juazeiro e no lago de Sobradinho, 2º maior lago artificial do mundo onde é feita a eclusagem das águas para a mudança de rumo das embarcações. Somam – se a isso, o folclore, o artesanto e a culinária da região, ancorada nos pratos à base de peixe e carne de bode.

“Esse produto tem tudo para agradar o turista estrangeiro, porque tem calor, sol, culinária local e a beleza natural do São Francisco, além é claro do vinho que já é apreciado há muito tempo pelos europeus e aqui, na Bahia, se produz um vinho de qualidade”, afirma Geraldo Bentes, chefe de gabinete da Embratur.

Domingos Leonelli, secretário estadual de Turismo, diz que a grande novidade é a associação do turismo à atividade econômica local, algo que vem sendo incentivado em sua gestão. “Apostamos na regionalização e inovação das zonas turísticas de acordo com cada vocação local porque acreditamos que vamos dar o 3º salto no setor”, fala o secretário, explicando que o 1º salto se deu na década de 30, com a descoberta da Bahia de Caymmi, e o 2º nos anos 70, com os investimentos maciços em infra-estrutura.

Além dos recursos da Fazenda Ouro Verde, o empreendimento teve o apoio do governo do Estado por meio da Desenbahia e Bahiatursa, órgão responsável pela coordenação e execução de políticas de promoção, fomento e desenvolvimento do turismo estadual. Com o enoturismo, estima-se que o número de visitantes na região dos Lagos do São Francisco, composta por Juazeiro, Casa Nova, Paulo Afonso, Remanso, Santa Brígida, Curaçá e Sobradinho, aumente para 5 mil por mês.

“Todo empreendimento é sinal de esperança de desenvolvimento, seja econômico, social ou tecnológico e para o povo do sertão, que tem uma capacidade enorme de superação, é ainda mais promissor”, afirmou o governador Jaques Wagner, anunciando a reforma completa do aeroporto de Casa Nova para impulsionar ainda mais o enoturismo na região.

Parceria com a Uneb

Durante o lançamento do Enoturismo baiano, o secretário Domingos Leonelli e o reitor da Universidade do Estado da Bahia, Lourisvaldo Valentim, acertaram parceria para a implantação, em Juazeiro, de Escola de Turismo, em cuja grade curricular constem disciplinas com características operacionais. “É para que o aluno, assim que concluir o curso, esteja apto a entrar direto no mercado de trabalho”, explicou Leonelli.

De acordo com o titular da Setur, entre 2008 e 2009, o Estado investirá R$ 12 milhões em qualificação de mão-de-obra para o turismo, beneficiando diretamente 4 mil pessoas. “Em gestões passadas, nunca se investiu mais de R$ 500 mil ao ano em capacitação profissional”, informou.