A Fundação Pedro Calmon, vinculada à Secretaria da Cultura (Secult), iniciou, nesta segunda-feira (17), a capacitação de bibliotecárias – em especial as contadoras de estórias infantis – das cinco bibliotecas públicas do estado, na Lei 10.639/03, que altera a LDB 9.394/96 e torna obrigatório o ensino da história e cultura africana e afro-brasileira em todas as áreas e níveis de ensino.

A formação acontece na Biblioteca Infantil Monteiro Lobato (Nazaré), até esta quarta-feira (19), por meio do curso Reeducação para as Relações Étnico-Raciais, ministrado pela educadora Maria Anória Oliveira.

O curso integra as ações da Fundação no Programa Novembro Negro 2008, em comemoração ao Mês da Consciência Negra, e se estende a profissionais dos variados setores das unidades, especialmente os ligados às atividades infantis, sendo uma iniciativa pioneira para estes profissionais na Bahia.

A educadora Maria Anória, que é doutoranda em Letras pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e professora da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), apontará os desafios que se colocam para os profissionais ligados à educação ao se tratar da questão racial na literatura infantil.

Serão focados os estereótipos de personagens e as abordagens utilizadas em atividades literárias como contação de histórias, criação de textos e as demais voltadas para a leitura.

“Diariamente, nas bibliotecas, têm historinhas contadas para as crianças. Trabalhamos com contos tradicionais e, muitas vezes, criamos outros para estimular sua imaginação, o que deve ser feito com muito cuidado, pois é nessa fase que conceitos são formados e identidades são construídas”, afirma a gerente do Sistema de Bibliotecas, Cristina Santos, que coordena as atividades lúdico-literárias das unidades.

Segundo Oliveira, para as crianças negras esta preocupação já é de longa data. “Ao se pensar em histórias infantis, muitas são as preocupações levantadas, principalmente, em torno dos personagens que habitam o imaginário das crianças afro-descendentes. Temos um histórico deles que inferiorizam a condição negra, como Tia Anastácia, Saci Pererê, Boi da Cara Preta, o Patinho Feio”, enfatiza.

Ela explica que a pretensão do curso é incentivar a inovação sobre essas histórias e fazer uma releitura crítica do acervo disponível para esses tipos de atividades literárias nas unidades. “Iremos também apresentar muitas obras que já existem neste sentido, para que os profissionais possam divulgá-las entre os usuários”.

Legislação

O diretor da Fundação, Ubiratan Castro, explica que o objetivo da capacitação é fazer com que as contadoras, em especial, estejam preparadas para saber respeitar a diversidade de seus ouvintes, suas culturas e, principalmente, suas identidades negras. “É importante que tenhamos cuidado com o que contamos e construímos no imaginário infantil, para evitar o reforço de estereótipos já ultrapassados nestas literaturas”, acentua. Mais informações pelos telefones (71) 3116-6676 e 3117-6041.