A casa da Fazenda Barão de Paratigi, localizada no município de Rafael Jambeiro, a 217 quilômetros de Salvador, foi tombada como patrimônio da Bahia, este mês, de acordo decreto publicado no Diário Oficial do Estado.

O tombamento havia sido solicitado, desde 2001, ao Conselho Estadual de Cultura pela Fundação de Desenvolvimento Cultural Educacional São Rafael. Segundo o Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac), órgão responsável pelas pesquisas e dossiê que possibilitaram a fundamentação para o tombamento, a casa da fazenda é um dos cinco bens culturais edificados mais relevantes de Rafael Jambeiro.

“A casa é do século 17, construída por mestres de obras treinados na tradição de casas rurais fortificadas, típica do período colonial, e com elementos arquitetônicos evidentes dessa modalidade arquitetônica”, comenta o diretor geral do Ipac, Frederico Mendonça. Entre outros bens culturais, o município tem ainda igrejas do século 18 e casas de fazenda do século 19.

Situada na sesmaria concedida a João Peixoto Veigas, vice-governador da Província da Bahia, por Dom Gerônimo de Ataíde, Conde de Atouguia e governador da Capitania da Bahia, em 10 de abril de 1655, a casa sofreu alterações reversíveis e tem suas estruturas bem conservadas.

O madeirame da cobertura, pisos, esquadrias e guarda-corpos das janelas são todos, itens originais da construção com mais de 300 anos. “É provável que a capela da fazenda tenha sido erguida, posteriormente, já que são raros, no século 17, os exemplos de capela contígua à habitação”, explica Mendonça.

Exemplar do ciclo da pecuária

Formada por sobrado de dois pavimentos com 379 metros quadrados de área construída, paredes autoportantes de alvenaria de pedras e telhado de duas águas, a casa talvez seja um dos últimos exemplares, com essa tipologia e época, preservados do período inicial do Ciclo da Pecuária na Bahia.

Um dos cômodos da casa abre-se, como tribuna, para o interior da capela, que conserva a imagem do Senhor do Bonfim em um retábulo, ambas as peças de madeira policromada.

Em termos de arquitetura residencial, é o único exemplar de edificações do século 17 que ainda perdura. O tombamento e, o eventual aproveitamento, pelo menos em parte, como museu de caráter regional valorizaria a vida cultural e a memória da região.

O atual proprietário, Osvaldino Rodrigues, apóia a utilização cultural do imóvel. “Em princípio, estou aberto a sugestões da prefeitura”, comenta Rodrigues. A região em que se encontra a fazenda foi ocupada por diversos grupos indígenas expulsos do litoral pelos tupis, processo que se iniciou antes da colonização portuguesa e prolongou-se por dezenas de anos.

Foi contra esses povos que lutaram os portugueses quando a cultura pastoril precisou expandir-se para além do Recôncavo, preservada, por expressa determinação de uma Carta Régia de 1701, para a lavoura canavieira.

Deu-se, então, nessa área hoje conhecida como “centro-norte baiano” a inserção da criação do gado na economia baiana, inclusive na área do atual município de Rafael Jambeiro. A casa da Fazenda Barão de Paratigi é o bem cultural edificado mais antigo desse município.