Símbolo de resistência do povo negro e baiano. Assim o padre Gabriel Santos, da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, no Pelourinho, definiu a baiana do acarajé, durante missa em comemoração ao dia delas, nesta terça-feira (25).

Ele vê as baianas como “um canal de religiosidade para o povo da Bahia e do mundo”. E muito mais que preparar e vender acarajé, abará, bolinho de estudantes e quitutes, “essas mulheres também apresentam e oferecem o invisível – o amor, a fraternidade, a paz e a luta”.

Numa cerimônia marcada pelo sincretismo, mais de duzentas baianas de todas as idades, vestidas com seus trajes de festa, cantaram e dançaram ao som de tambores, hinos religiosos, de protesto e agradecimento a Deus.

A festa, segundo o pároco, abre o ciclo de cerimônias religiosas que precedem o Carnaval e foi acompanhada por baianos e turistas que durante a cerimônia bateram muitas palmas em homenagem às baianas presentes.
Para o secretário de Turismo do Estado da Bahia, Domingos Leonelli, “a baiana é a face mais conhecida da Bahia no Brasil e no mundo, um símbolo do turismo baiano”.

A vice-presidente da Associação das Baianas de Acarajé e Mingau (Abam), Rita Santos, considera a baiana como símbolo do país. “Quando você viaja para fora, o nome do Brasil vem com uma baiana embaixo”, destacou.

A baiana acredita que o reconhecimento da profissão foi um avanço para as baianas de acarajé, que hoje podem se aposentar por sua atividade e não como cozinheiras, como no passado. “Meu passaporte tem como profissão baiana de acarajé”, enfatizou.

Gregório do Acarajé, que há 18 anos atua na profissão, tem orgulho de ser filho de Chica do Acarajé, que criou nove filhos fazendo e vendendo acarajé. “Ela criou meus irmãos e hoje estou criando meus filhos”, afirmou.
Para ele, o acarajé tem uma ligação forte com as raízes do candomblé e da religiosidade africana, o que deixa a festa do dia da baiana ainda mais bonita.

A baiana Sebastiana Maria Pereira dos Santos aproveitou o dia para agradecer a Deus e compartilhar sua felicidade com amigos e parentes. Uma data por ela considerada maravilhosa, apesar de ser um dia “como outro qualquer, porque ser baiana é sempre importante”.

Visão de fora

Turistas brasileiros e de diversos países prestigiaram a missa em homenagem às baianas. A argentina Eugênia Arano, que visita a Bahia pela segunda vez, passava pelo Pelourinho e acabou assistindo a toda a missa.

“É indescritível o que estou sentindo. É uma das festas mais lindas que presenciei”, disse. A carioca Ana Gabriela Salcedo Teixeira Mendes, de férias em Salvador, viu pela primeira vez a festa das baianas e ficou emocionada. “É uma festa bonita que dá uma emoção grande de ver que a religião aqui é levada a sério e respeitada”, afirmou.

Marisa Godói, de Vitória (ES), visita há dez anos a Bahia e sempre prestigia a missa das baianas. “É lindo e passa uma energia positiva para a gente”. As irmãs Sélia Maria da Luz, 60, e Alcemira da Luz Santos, 66, vieram de São Paulo para conhecer a Bahia e já estão há trinta dias no estado.

Elas têm aproveitado para conhecer as tradições de origem e influência africana e prometem que estarão em Salvador no próximo ano, para celebrar o dia da baiana.

O italiano Élio Lázaro, que vive há seis anos no Brasil e há dois na Bahia, diz que se reaproximou da religião graças ao sincretismo baiano. “Fui criado católico, mas questionava os ritos. Aqui passei a ir às missas mais relaxado e a admirar as cerimônias”.