Lúcio Conceição Santos, pequeno produtor do município de Canudos, viajou 250 quilômetros até a cidade de Juazeiro, no norte da Bahia, para contribuir na construção da política estadual de educação ambiental. Ele foi um dos 120 representantes de comunidades tradicionais, sociedade civil, universidades e poder público que participaram do Seminário de Consulta Pública da Minuta do Projeto da Lei de Educação Ambiental.

O evento pretende identificar os conflitos socioambientais e as potencialidades dos 26 territórios de identidade do estado, levantando indicativos para a construção dos planos de educação ambiental. O primeiro seminário se encerra nesta sexta-feira (28), no Grande Hotel de Juazeiro, abrangendo 10 municípios do Território Sertão do São Francisco – Remanso, Casa Nova, Sento Sé, Pilão Arcado, Sobradinho, Curaçá, Campo Alegre de Lurdes, Uauá, Canudos e Juazeiro.

“Eu, que nasci, cresci e aprendi a conviver com a seca da caatinga, sei da realidade do meu povo”, disse Lúcio, ao destacar que na região “tudo dá, mas tem que saber trabalhar a terra”. Segundo ele, que é presidente da Associação de Fundo de Pasto de Canudos, todas as famílias que moram na zona rural criam gado não só como fonte de renda, mas para garantir o alimento da família. “A nossa tarefa é orientar os vizinhos a fazer o manejo correto e a reconstituição da caatinga”, explicou.

Para a coordenadora-executiva da Comissão Interinstitucional de Educação Ambiental (CIEA), Lilite Cintra, esse encontro é uma forma democrática de consultar os territórios, para que possam manifestar suas peculiaridades e estar inseridos no processo de levantamento das suas necessidades. “Os seminários servem para levar informações sobre educação ambiental e para colher dados da vivência de quem atua nessa área na região”, afirmou.

Características do território

O representante da entidade coordenadora do Território Sertão do São Francisco, Dário Nunes dos Santos, destacou como peculiaridades da região o Rio São Francisco e o bioma caatinga. “Os problemas ambientais que prejudicam o rio são os despejos de esgotos das cidades ribeirinhas, os drenos dos projetos de irrigação, o uso indiscriminado dos recursos hídricos e a pesca predatória”, citou.

Ele disse que o território totaliza 58% da população animal de caprinos e ovinos da Bahia. “A supressão de áreas de vegetação para implantação de projetos agrícolas e para criação de bode em sequeiro é um dos conflitos que afetam a biodiversidade do bioma caatinga”, afirmou.