Publicada às 17:50
Atualizada às 19:05

O reconhecimento da Festa de Santa Bárbara como Patrimônio Imaterial da Bahia e a reforma da igreja do Rosário dos Pretos foram anunciados, nesta quinta-feira (4), pelo secretário estadual de Cultura, Márcio Meirelles, após a missa campal em homenagem a Santa Bárbara, que reuniu 25 mil pessoas, no Largo do Pelourinho, em Salvador.

A festa, que está completando 300 anos, foi transformada em patrimônio imaterial por decreto do governador Jaques Wagner. A igreja do Rosário dos Pretos abriga a imagem de Santa Bárbara. O Mercado de Santa Bárbara, localizado na Baixa dos Sapateiros, foi reformado pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural do Estado (Ipac).

Devoto de Santa Bárbara, o presidente da Fundação Pedro Calmon, Ubiratan Castro, falou que a consagração da Festa em Patrimônio Imaterial da Bahia representa um compromisso do Estado na manutenção da maior festa negra- religiosa realizada na Bahia.

Meirelles que não é católico, disse que fica comovido com a manifestação de fé. “Acredito na energia e na união do povo. Não pense que aqui há unidade religiosa. Apesar da diversidade, todos congregam pacificamente em busca de paz e de um mundo melhor”, observou.

A festa de Santa Bárbara abre o ciclo de manifestações populares da temporada de verão, na capital. “Enquanto outras festas populares estão sendo esvaziadas, com o passar dos tempos, a de Santa Bárbara é a que mais tem crescido e ganhado força”, declarou Meirelles.

Multidão demonstra fé

Debaixo de um sol forte, com temperatura média de 33º graus, 25 mil pessoas, segundo estimativa da polícia militar, assistiram a missa campal, iniciada às 10h, no Largo do Pelourinho (Centro Histórico de Salvador), em homenagem a Santa Bárbara.

A celebração foi conduzida pelo padre Gabriel dos Santos, que antes de iniciar os ritos católicos, entoou um “viva Santa Bárbara guerreira”. A multidão vestida de vermelho e branco respondeu com entusiasmo e devoção.

O sincretismo estava presente durante toda a celebração. No ritual religioso, elementos católicos comungavam pacificamente com matrizes do candomblé. A missa foi celebrada ao som de atabaques e cânticos em Yorubá, oferendas da culinária africana (acarajé e abará) foram colocadas ao pé do altar. Apropximadamente duas mil hóstias consagradas foram distribuídas aos fiéis.

Em meio ao tapete humano, tingido de vermelho, que encobria as ruas do Centro Histórico, o sagrado e o profano se confundiam, fiéis, turistas e ambulantes se misturavam. Por razões diferentes, pessoas dividiam espaços valiosos nas ruas estreitas do Pelourinho. Os ambulantes de souvenires religiosos, por exemplo, aproveitam a data para incrementar as vendas.

No tabuleiro da ambulante Gilmária Pereira os patuás, os terços, as fitinhas e as mini-imagens da santa foram as peças mais vendidas. Nessa época, ela aproveita para reforçar a renda familiar. “Todos querem levar para casa uma lembrança de Santa Bárbara. Por isso, na festa chego a vender R$300. Nos dias normais, o máximo que consigo tirar é R$ 30”.

Desde cedo era grande a movimentação dos fiéis nas ruas do Centro Histórico. No Santuário de Santa Bárbara, localizado no Mercado da Baixa dos Sapateiros, os devotos faziam fila para entrar e depositar rosas vermelhas no altar, renovar a fé e agradecer as graças alcançadas.

O autônomo Claudionor Ribeiro veio da localidade de Tanquinho de Feira agradecer à Santa Bárbara o transplante de pâncreas de sua prima. “Ela esperou na fila de transplante durante cinco anos e há dois anos, no dia de Santa Bárbara, conseguiu o doador, fez a cirurgia e está curada”, testemunhou.

“Esta santa é mesmo milagrosa. Ontem (quarta) estava chovendo e trovejando. Hoje, o sol está brilhando forte. É ela respondendo ao clamor de seus filhos” observou.

Alvorada e procissão

Os festejos em homenagem a Santa Bárbara começaram às 5h, com queima de fogos de artifício, na alvorada, em frente à Igreja Rosário dos Pretos, onde, às 7h, houve uma missa. Após as bênçãos, uma procissão percorreu as ruas do Centro Histórico. O cortejo prosseguiu até o Corpo de Bombeiros, cuja corporação tem a santa como padroeira. A imagem da santa entrou na sede dos bombeiros, sendo saudada com fogos, sirene e jatos de água, deu uma volta no pátio e saiu em direção ao Mercado de Santa Bárbara, onde foi servido o tradicional caruru para os fiéis.

Mártir católica, orixá forte

Segundo a liturgia católica, Santa Bárbara era uma adolescente de 15 anos muito bela e cheia de personalidade. Quando viajava, seu pai a trancava na torre para que ela não arranjasse pretendentes, pois queria ganhar um belo dote casando-a com um homem rico.

Numa das ausências do pai se converteu ao cristianismo. Por sua desobediência foi torturada, teve os seios arrancados e depois decapitada pelo próprio pai.

No candomblé, ela é Iansã, divindade dos ventos, raios e tempestades. Segundo as lendas yorubanas, Iansã foi mulher de Xangô. Ela o abandonou para viver com Ogum, divindade dos trovões e da justiça.