A história e o acervo do Museu de Arte Moderna da Bahia são o tema do 27º volume da série “Museus Brasileiros”, iniciada em 1982. O livro, editado pelo Instituto Cultural J. Safra, com o apoio do Ministério da Cultura, será lançado, nesta quarta-feira (10), às 19h, na sede sedo MAM-BA, no Solar do Unhão.

A publicação, com 360 páginas e ilustrada por fotografias de obras de arte que expressam ricos momentos da produção da arte brasileira, desde o nascimento do Modernismo até a estética Contemporânea, reproduz, no final, em fotogramas, todo o acervo de 1.133 peças do museu, assumindo, assim, o papel de verdadeiro catálogo-guia da instituição.

Criado a partir de um decreto estadual de 23 de julho de 1959, o MAM abriu sua primeira exposição em 1960, no foyer do Teatro Castro Alves. Instalou-se no Solar do Unhão apenas no ano de 1966, após a obra de reestruturação e readequação realizada pela primeira diretora do museu, a arquiteta italiana Lina Bo Bardi.

Como destaca a atual diretora, Solange Farkas, no texto de apresentação do livro, o conjunto de obras do acervo da instituição é equiparável em importância ao patrimônio físico representado pelo Solar do Unhão, conjunto colonial do século 17, à beira da Baía de Todos os Santos.

Ela assinala que, “riquíssimo pelas camadas de história que integra, esse conjunto arquitetônico de beleza rara não se separa do patrimônio imaterial, também essencial: o próprio conceito de museu da genial arquiteta italiana (Lina Bo Bardi, autora do projeto inicial de restauração do Solar do Unhão, em 1959), que via a instituição ligada à arte como espaço de interação, criação e troca”.

“Foi um projeto radical de reinvenção do espaço, integrando edifícios de diversos usos e feitios… como nada do gênero tinha sido feito no Brasil até então”, assinala em texto especial a jornalista Mara Gama, especializada em design.

O antigo Solar do Unhão, que entre 1820 e 1926 chegou a ser fábrica de rapé, herdou o seu nome do desembargador Pedro de Unhão Castelo Branco, que o teria construído. Em completo abandono e ameaçado pelo traçado de uma avenida, em 1943 foi tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, sendo reaberto, em 1963, para visitação.

O projeto de Lina Bo Bardi para a instalação do MAM no Solar, no entanto, foi interrompido em 1964, com a demissão da arquiteta, a primeira diretora da instituição.
Porém, a partir de sua concepção e sob encomenda do museu, em 2007, o arquiteto André Vainer desenvolveu um projeto de recuperação que vai ampliar as áreas do acervo, modernizando a reserva técnica, atualizando usos e funções de laboratórios de criação e propondo espaços multimídias.

Acervo valioso

O MAM-BA teve seu acervo composto inicialmente com a doação, pelo governo baiano, de 87 obras que estavam no Museu do Estado – a maior parte produzida nos dez anos anteriores à sua criação.

Entre essas primeiras obras, pinturas de alguns dos maiores expoentes do Modernismo, como o carioca Emiliano Di Cavalcanti, um desenho do pernambucano Vicente do Rego Monteiro, uma xilogravura do carioca Oswaldo Goeldi e uma paisagem do pintor e escultor carioca Quirino da Silva.

Dessa primeira geração de modernistas, o Museu integrou, mais tarde, a pintura “O Touro”, de Tarsila Amaral, a escultura “Auto-Retrato Psicológico”, uma das três únicas conhecidas de Flávio de Carvalho, e a obra “Vendedor de Passarinho”, de Cândido Portinari.

Do chamado Grupo Santa Helena – nome de antigo palacete em São Paulo, onde Francisco Rebolo tinha seu ateliê – formado por artistas e artesãos que se opunham ao intelectualismo dos modernistas, o museu tem em sua coleção obras como a pintura “Paisagem” do mesmo Rebolo, “Preguiça”, de Aldo Bonadei, uma pintura de 1957 e três serigrafias de Volpi, e uma série de gravuras em metal de Clóvis Graciano.

Além dessas, duas gravuras – dois painéis de grandes dimensões, com representações de Porto Seguro – pintadas pelo também escultor gaúcho Carlos Scliar.

Ex-diretor do museu após o afastamento de Lina Bo Bardi, em 1964, o escultor Mário Cravo Júnior está representado no acervo do MAM por peças como “Antonio Conselheiro”, obra de tratamento expressionista, exposta no Parque das Esculturas, reaberto para visitação em dezembro de 2008.

Em 2007, ano em que Solange Farkas assumiu a gestão do MAM e iniciou o projeto de requalificação dos espaços do museu e conservação do acervo, ele foi interditado para reforma e restauro completo de suas obras, hoje, acessíveis ao público.

Entre os integrantes do grupo de artistas viajantes que compõem o acervo do MAM, destacam-se o pintor, gravador, ilustrador e ceramista Carybé, argentino naturalizado brasileiro, que chegou à Bahia na década de 30.

Entre as peças, o painel que fecha o percurso do Parque das Esculturas e os gradis que circundam a entrada do museu. Também são representativas as fotos do antropólogo francês Pierre Verger, a pintura “Marinha”, do paulista José Pancetti, a pintura a óleo “Flores”, de Burle Marx, e a tela “Sol Tierno”, do argentino Emílio Pettoruti.

Dos artistas baianos que participaram da mostra inaugural do MAM-BA, em 1960, Rubem Valentim tem 50 obras na coleção entre esculturas, pinturas e serigrafias O Mestre Didi, filho da famosa Ialorixá Mãe Senhora, está representado por três obras, uma delas, também fixa no Parque das Esculturas.

Coleção é referência

Um dos objetivos do Instituto Cultural J. Safra é o de contribuir para a divulgação e o resgate das tradições históricas e culturais do país, por meio da edição de livros sobre os principais museus.

A cada ano é acrescentado um novo volume à série “Museus Brasileiros”, iniciada em 1982. Desde o primeiro livro, com a história e a reprodução de obras do MASP, ao último, sobre o Museu de Arte Moderna da Bahia, foram 27 edições totalizando tiragem acumulada superior a 350 mil exemplares.

A consistente coleção virou referência e fonte permanente de pesquisa para museólogos, pesquisadores e interessados em arte do país e do exterior.