A construção de um sistema para tomadas de decisões dos países da América Latina e do Caribe e a defesa de uma relação igualitária com os países desenvolvidos, principalmente os Estados Unidos, foram os temas dominantes nesta quarta-feira (17), em Costa do Sauípe, Litoral Norte da Bahia, na Cúpula da América Latina e Caribe sobre Integração e Desenvolvimento (Calc).

"Protagonizamos aqui, na Bahia, quatro cúpulas de importância histórica, e em todas ficou claro que precisamos de um espaço político onde nossos países possam partilhar pensamentos e promover debates para o fortalecimento desse bloco", afirmou a presidente da Argentina, Cristina Kirchner.

A crise econômica também foi destacada por Kirchner, que aproveitou o encontro para criticar o Fundo Monetário Internacional (FMI). "Exigências aplicadas aos países em desenvolvimento pelo FMI nunca foram cumpridas pelos Estados Unidos, que agora exportam a sua crise, iniciada porque só um pequeno grupo de países decidia sobre a economia mundial", disse a presidente da Argentina, reforçando a necessidade de maior participação das nações em desenvolvimento nos rumos econômicos do planeta.

Em tom afinado com outros líderes latino-americanos, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, afirmou que a recessão na economia de diversos países é fruto de uma ação irresponsável do mercado financeiro. Ele também criticou os Estados Unidos e defendeu a criação de um sistema financeiro latino-americano, para fortalecer a região. "Eles impuseram esse sistema ao mundo", disse.

Chávez aproveitou para comemorar o fracasso da instalação da Associação de Livre Comércio das Américas (Alca), proposta pelo presidente norte-americano, George W. Bush. "Como estaríamos agora se a Alca fosse aprovada?", questionou o venezuelano.

O presidente da Bolívia, Evo Morales, disse que a criação de um fundo de receitas seria importante para o fortalecimento dos países do Mercosul. Ele também propôs a implantação de uma moeda única para o bloco, assim como para todos os países da América Latina.

Morales defendeu, ainda, a entrada de Cuba na Organização dos Estados Americanos (OEA) e declarou que espera do presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama, a suspensão do embargo econômico à ilha. “Caso isso não seja possível, eu sugiro que todos [presidentes e primeiros-ministros da AL] façamos um bloqueio econômico aos norte-americanos, além do fechamento de embaixadas deles em nossos países”.

Segundo Morales, Cuba é um país solidário e que tem muitas experiências a acrescentar ao mundo, principalmente nas áreas da Saúde e Educação, com a prestação de serviços gratuitos à toda a população do país.

O líder boliviano também criticou instituições do o Banco Mundial (Bird) e o Fundo Monetário Internacional que, segundo ele, nunca apresentaram soluções para os problemas financeiros da América Latina. Evo Morales se mostrou contrário à privatização de empresas de setores estratégicos e disse que o caminho correto é a nacionalização destes serviços.

Apesar disso, ele destacou a parceria com o Brasil para a recuperação de refinarias bolivianas e pediu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, um auxílio financeiro de US$ 500 milhões para investimentos em ações de segurança alimentar e programas sociais. “Isso para o Brasil não é nada”, brincou.