Para um grupo de ambientalistas, artistas, intelectuais, professores, estudantes e admiradores da ciência, o Carnaval de Salvador não terminou. No sábado pós-festa (28), o trecho entre o Campo Grande e o Farol da Barra vai ser novamente palco da folia momesca, sem trio elétrico, cordas e o inevitável empurra-empurra, mas uma festa democrática, com muita animação e uma pitada científica.

Tudo para marcar a passagem pelo Carnaval da Bahia do naturalista inglês Charles Darwin, o pai da teoria da evolução das espécies pela seleção natural, cujo bicentenário do nascimento foi comemorado em todo o mundo no último dia 12, inclusive na Bahia, com a participação da Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti).

O cortejo pós-carnavalesco está sendo organizado pelo Grupo Defesa e Promoção Sócio Ambiental – GERMEN, a mais antiga ONG ambientalista da Bahia. Com alas simbolizando a Mata Atlântica, que tanto encantou Darwin na Bahia, plantas, flores e animais, como o mico-leão, os tripulantes do navio Beagle e até a tradicional burrinha, o cortejo sairá às 10h do Campo Grande, com destino ao Farol da Bahia, onde se encontrará com um grupo da professora Regina Lira, do Instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia, que encenará uma peça inspirada no cientista britânico.

“Será também uma maneira ludopedagógica de contribuir com a popularização da ciência”, definiu o presidente da ONG Germen, Marcell Moraes. Segundo ele, todos que amam o conhecimento e gostam de festa são bem-vindos para engrossar o cortejo. Moraes disse que o cortejo pretende virar tradição, pois a ideia é que se repita todo 28 de fevereiro.

Darwin no carnaval do século 19

Em 1832, há exatos 177 anos, Darwin, então um jovem cientista – mais ligado à geologia do que às espécies animais e vegetais-, participou do carnaval baiano, ao lado dos amigos Bartholomew James Sullivan e Clements Wickham, ambos tenentes da Marinha Real.

Os três amigos chegaram à Bahia a bordo do navio Beagle, que permaneceu no Porto de Salvador até 18 de março. Foi tempo suficiente para um passeio carnavalesco, registrado no diário de Charles Darwin, da seguinte forma: “Hoje é o primeiro dia de Carnaval, mas Wickham, Sullivan e eu não nos intimidamos e estávamos determinados a encarar seus perigos. Estes perigos consistem principalmente em sermos, impiedosamente, fuzilados com bolas de cera cheias de água e molhados com esguichos de lata. Achamos muito difícil manter a nossa dignidade, enquanto caminhávamos pelas ruas”.