A apresentação dos Novos Baianos no circuito Dodô (Barra-Ondina), na tarde de domingo de Carnaval (22), foi uma manifestação popular, democrática e espontânea a favor dos blocos de trio sem cordas, voltados para o público "pipoca". Emoção, lembranças e interação calorosa entre artistas e público marcaram as quase quatro horas de desfile.

Na sua segunda apresentação na folia, depois de mais de 20 anos sem participar, juntos, do Carnaval, Baby do Brasil (voz), Paulinho Boca de Cantor (voz) e os irmãos Pepeu Gomes (guitarra), Didi Gomes (baixo) e Jorginho Gomes (bateria) uniram (curiosamente à sua frente, ao contrário do que diz o tradicional bordão "atrás do trio elétrico") uma multidão de fãs, admiradores e neófitos, numa "ofegante epidemia" que cresceu continuamente ao longo do percurso.

Era visível a felicidade e satisfação dos músicos em tocar novamente em cima de um trio, no aniversário de 40 anos do nascimento dos Novos Baianos. Todas as falas dos membros do grupo demonstravam de forma genuína a alegria rara de estarem reunidos.

O carisma dos veteranos Pepeu, Baby e Paulinho foi reforçado pela beleza e riqueza de composições célebres do grupo, como "De vera" (do primeiro disco, "É ferro na boneca", de 1969), "Dê um rolê" (de 1971), "Preta pretinha" e "Tinindo trincando", ambas do disco "Acabou chorare", que marcou época com sua fusão de rock, samba, frevo, chorinho, baião, bossa nova e afoxé, entre outros ritmos locais e universais.

Canções que foram gravadas com sucesso pelos Novos Baianos também tiveram seu momento no desfile: "Brasileirinho" (Waldir Azevedo), "Brasil Pandeiro" (Assis Valente) e "Samba da minha terra" (Caymmi).

O ijexá, gênero musical estreitamente associado com o afoxé, segmento carnavalesco que é o homenageado oficial do Carnaval 2009, foi lembrado pelo trio Novos Baianos no arranjo de algumas canções, como "Eu Também Quero Beijar" (Pepeu) e "Chame gente" (Moraes Moreira).

Moraes, membro fundador dos Novos Baianos, que deixou o grupo em 1975 para trilhar uma bem sucedida carreira solo e fundar um trio elétrico próprio, foi homenageado na execução de "Chame gente".

Nesse momento, algo surpreendente aconteceu, materializando os versos "a gente se completa enchendo de alegria". Quando o bloco pipoca ameaçou se dispersar no trecho da Avenida Oceânica após o Cristo até o Centro Espanhol, entre Barra e Ondina, os próprios foliões, sem necessidade de comando por parte dos vocalistas, se reagruparam para dançar juntos e formar uma verdadeira panela de pipoca humana no asfalto.

Os rostos e corpos felizes de coroas, de filhos da geração "desbunde" e de jovens da geração MP3 brincaram de roda, de corrida, de trenzinho, e acompanharam o trio até o último minuto autorizado.

Quando o equipamento de som foi desligado, um grupo de foliões chegou a sentar no asfalto, à frente do caminhão, impedindo a passagem do veículo e exigindo que a banda continuasse a tocar. O trio elétrico foi acompanhado pelo público até a ponta final do percurso na Avenida Adhemar de Barros (Ondina).

Baby continuou cantando, sem instrumentos, seguida em coro pela galera. "Acabou chorare" foi a música com que o desfile acabou. "Só assim a gente vai mudar a cara do Carnaval", disse Paulinho. "Vocês têm direito de curtir o que quiserem. "Na segunda-feira, o trio faz nova apresentação, depois das 23h, no circuito Osmar (Campo Grande).