Para marcar o bicentenário do nascimento do cientista britânico Charles Darwin, pai da teoria da evolução das espécies pela seleção natural, foi lançado na manhã desta quinta-feira (12), no Cemitério dos Ingleses, o projeto “Darwin na Bahia”. Na programação, estão previstos simpósios, exposições interativas e ações de popularização da ciência, na capital e no interior do Estado, durante todo o ano.

Na oportunidade, mudas de árvores nativas da Mata Atlântica, bioma estudado pelo cientista em sua passagem pela Bahia, foram plantadas e o site oficial da programação www.darwinnabahia.ba.gov.br foi lançado.

O Estado vai interagir com um programa internacional de eventos relacionados ao cientista, o Darwin 200. Na Bahia, essas ações serão coordenadas pelas secretarias estaduais de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti) e do Meio Ambiente (Sema), além da participação da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb), da Universidade Federal da Bahia (UFBA), do Consulado Britânico e do Grupo Ambientalista Gérmen.

“A experiência da Mata Atlântica, que Darwin conheceu melhor ao visitar o que, hoje, é o Subúrbio Ferroviário, foi fundamental na mudança de seu ponto de vista, o que deu uma guinada definitiva do criacionismo para o evolucionismo”, afirmou o professor Charbel El-Hani, do Instituto de Biologia da UFBA.

Em 28 de fevereiro, data em que o navio Beagle aportou em Salvador, o Grupo Gérmen promoverá um cortejo carnavalesco, para recordar a participação de Darwin na folia momesca. Da programação comemorativa consta ainda a instalação de um monumento sobre a passagem do cientista pela Bahia, no passeio do antigo prédio do jornal A Tarde, erguido sobre as ruínas do que fora o Hotel Universo, onde Darwin se hospedou, segundo pesquisas do professor El-Hani e sua equipe.

“Salvador foi o ponto de encontro do cientista com a Floresta Atlântica, então temos que aproveitar esse histórico para sensibilizar a sociedade para a questão ambiental”, afirmou o secretário de Meio Ambiente, Juliano Matos. Ele lembrou ainda que as atividades em comemoração à passagem de Darwin por Salvador terá um intenso trabalho transversal das instâncias do Governo. “O Darwin é um modelo de produção científica, e os seus estudos sobre o meio ambiente são fundamentais para o trabalho de educação ambiental, por exemplo, então temos a oportunidade de um verdadeiro trabalho transversal, entre a Sema e a Secti”, disse Matos.

Segundo a diretora da Fapesb, Dora Leal, no programa anual de popularização da ciência, promovido pela instituição, serão inseridos eventos relacionados ao “Ano Darwin”. “Em outubro acontece a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, e teremos dentro dela muitas atividades relacionadas ao Ano Darwin”, afirmou Leal.

Eventos confirmados

No dia 25 de março, o tema será ‘Aplicações tecnológicas do pensamento evolutivo: computação bio-inspirada’, com professores da Faculdade Mackenzie, São Paulo, da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs) e da Universidade Federal da Bahia (Ufba).

Nos dia 3 e 4 de junho, acontece o simpósio ‘Integrando o conhecimento atual sobre evolução’, com palestrantes da UFSC, UnB, Uerj, USP, e UFBA.

Para outubro, está programado o encontro ‘Darwin na Bahia’. Os eixos temáticos serão: História do pensamento evolutivo; A recepção do Darwinismo no Brasil; O pensamento evolutivo hoje.

Darwin no carnaval de Salvador

Que relação pode haver entre a Teoria da Seleção Natural sobre a Origem das Espécies, do cientista britânico Charles Darwin, com o Carnaval de Salvador, já que a folia momesca está mais associada à evolução coreográfica das escolas de samba e tecnológica do trio elétrico? Aparentemente nenhuma. Mas há um laço incidental entre a ciência e a festa: em 1832, há exatos 177 anos, Darwin, então um jovem cientista mais ligado à geologia do que às espécies animais e vegetais, participou do carnaval baiano, ao lado dos amigos Bartholomew James Sullivan e Clements Wickham, ambos tenentes da Marinha Real.

Os três turistas incidentais aportaram na cidade a bordo do Beagle, que permaneceu no Porto de Salvador até 18 de março, tempo suficiente para um passeio carnavalesco, registrado no diário de Charles Darwin, da seguinte forma: “Hoje é o primeiro dia de Carnaval, mas Wickham, Sullivan e eu não nos intimidamos e estávamos determinados a encarar seus perigos. Estes perigos consistem principalmente em sermos, impiedosamente, fuzilados com bolas de cera cheias de água e molhados com esguichos de lata. Achamos muito difícil manter a nossa dignidade, enquanto caminhávamos pelas ruas”.

Como qualquer navegante, Charles Darwin ficou impressionado com a beleza da Baía de Todos-os-Santos, ao avistá-la, pela primeira vez. Vejam o que o cientista escreveu em seu diário, no dia 1º de março de 1832: "A vista da cidade é magnífica. Ninguém seria capaz de imaginar nada tão belo quanto a antiga Cidade da Bahia.

Ela fica docemente aconchegada num bosque exuberante de lindas árvores e, situando-se sobre uma colina íngreme, descortina as águas calmas da grande Baía de Todos-os-Santos. As casas são brancas e altivas. Os conventos, os pórticos e os prédios públicos quebram a uniformidade das casas; a baía é repleta de grandes navios. Em suma, e o que mais se pode dizer? Ela é uma das paisagens mais lindas dos Brasis".

De família que combateu a escravidão, como seu avô Eramus Darwin, o jovem Charles encontrou em Salvador uma cidade “suja, colonial e com 52% da população de negros, entre libertos e escravos”, segundo o historiador Ubiratan Castro, e o atual Subúrbio Ferroviário foi descrito, pelo naturalista, como “uma floresta luxuriante”.