O pequeno agricultor Mário Cerqueira, 74 anos, do município de Wenceslau Guimarães, sul da Bahia, já plantou feijão, milho, banana, girassol e cacau na sua propriedade de 20 hectares. Hoje, reconhece a importância de buscar uma alternativa econômica para sustentar os 15 filhos. “Naquela época, tudo dava e a família era pequena”, afirmou.

Na perspectiva de ampliar sua renda, ele e mais 60 pequenos agricultores da região aderiram à linha de crédito do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf Florestal), uma parceria dos governos federal, estadual e municipal.

O programa apOia o desenvolvimento rural e incentiva o plantio de espécies de rápido crescimento, a exemplo do eucalipto, em áreas degradas ou de pastagem, para suprir a demanda crescente de madeira na região, evitando o desmatamento das florestas nativas.

Mário conseguiu no Banco do Brasil R$ 2 mil para plantar dois hectares de eucalipto na sua propriedade. “A vassoura-de-bruxa destruiu tudo e com o dinheiro da madeira eu vou comprar uma casinha na cidade pra morar com a patroa”, disse o agricultor, que depois de cinco anos vai poder fazer o primeiro corte.

Ganho social e ambiental

Segundo o secretário estadual do Meio Ambiente, Juliano Matos, a iniciativa modifica a cultura do agricultor familiar ao propor um ganho social e, principalmente, ambiental para a região.

“O programa pretende dar dignidade ao homem do campo, propondo alternativas sustentáveis e condições de trabalho que o tirem da marginalidade, com a extração ilegal de madeira nativa”, explicou Matos. Cerca de 80% da população de Wenceslau Guimarães mora na zona rural e sobrevive da agricultura.

O superintendente da Regional Sul do Banco do Brasil, Gladston Lajes, destacou o compromisso da instituição com o agricultor familiar e informou que o BB disponibiliza R$ 45 milhões para serem aplicados no Pronaf.

“No Brasil não existe falta de dinheiro, mas de bons projetos, objetivos e organizados”, defendeu Lajes. Para ele, os recursos do Banco do Brasil levam esperança e cidadania para os produtores, inclusive para “administrar aquilo que é deles”.

Desenvolvimento

Esta é a primeira vez que o município de Wenceslau Guimarães é contemplado com o crédito do Pronaf Florestal. Cerca de R$ 200 mil serão aplicados na economia da região e mais de 100 mil árvores serão plantadas no local, em áreas degradadas, totalizando 100 hectares.

O superintendente de Florestas, Unidades de Conservação e Biodiversidade da Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema), Marcos Ferreira, observou que isso equivale a mais de mil caminhões de lenha de floresta plantada.

“A biodiversidade da região, principalmente da Estação Ecológica de Wenceslau Guimarães, será preservada, pois essa madeira seria provavelmente retirada das matas nativas”, justificou Ferreira.

Ele ressaltou que o programa incentiva sistemas de consórcio agroflorestal que mesclam o plantio de espécies de rápido crescimento com o cultivo de lavouras, frutas e a criação de animais.

O secretário de Agricultura e Meio Ambiente de Wenceslau Guimarães, Juarez Leal, calculou o ganho ambiental e social do programa com uma conta simples. Leal explicou que uma família de cinco pessoas na zona rural necessita de 12 metros cúbicos de lenha para fazer o feijão e o arroz de cada dia, durante um ano.

“Isso equivale a um caminhão de madeira por família. E se considerarmos que as cinco mil famílias da região queimam lenha no fogão de casa para comer, então são necessários cerca de cinco mil caminhões de lenha, todo ano”, avaliou o secretário.