O Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM/BA) completa 50 anos de fundação com uma programação anual especial. A ideia é reviver por meio de exposições e atividades socioculturais um pouco dessa história e a contribuição da arquiteta Lina Bo Bardi e de importantes personalidades ligadas às artes e à educação para o surgimento do MAM na Bahia.

O calendário expositivo ganha uma temática também comemorativa. “O fato de comemorar os 50 anos do museu faz com que busquemos alguns projetos específicos na pauta, como a abertura de Bo no MAM/1959-1964, de Mário Cravo Neto”, comentou a diretora e curadora do MAM/BA, Solange Farkas.

A mostra, que entra em cartaz juntamente com a exposição coletiva de artistas mineiros Geometria Impura, tem abertura marcada para 16 deste mês, às 19h, no casarão e na Galeria Subsolo do MAM, respectivamente. Elas ficam em cartaz até 12 de abril. A entrada é gratuita.

Dentro das comemorações dos 50 anos do MAM, outros museus da cidade também integram a programação especial, como o Museu de Arte da Bahia (MAB), que vai abrigar uma exposição com as 87 obras modernistas que originaram o acervo do MAM baiano.

Composto de mais de mil obras de arte, o acervo do MAM vai ganhar exposições diferentes, com recortes de períodos e de artistas, com destaque para Rubem Valentim, Tarsila do Amaral, Carybé e Cícero Dias, que vão acontecer no Centro Cultural Solar Ferrão. O ano comemorativo se encerra com a exposição de Ana Tavares, especialmente voltada para Lina Bo Bardi, no MAM, em março de 2010.

Histórico e Lina Bo Bardi

Em 1959, a arquiteta italiana Lina Bo Bardi, que na época dava aulas na Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia (Ufba), é convidada para projetar o Museu de Arte Moderna da Bahia. Ela então propõe ao governo baiano restaurar e revitalizar o Solar do Unhão para sediar o MAM.

As obras incluíram a retirada de divisórias e escadas, o que resultou na ampliação dos pavimentos do casarão, possibilitando a construção da famosa escada helicoidal, com encaixes feitos com o sistema de travamento usado em carros de boi.

Criado legalmente em 23 de julho de 1959, o MAM baiano foi inaugurado em 6 de janeiro de 1960, quando passou a funcionar provisoriamente no Foyer do Teatro Castro Alves, com uma exposição de obras de arte modernistas doadas pelo Museu de Arte da Bahia.

Além do planejamento arquitetônico, Lina estava à frente da concepção conceitual do MAM. Para ela, o museu deveria ser um centro propulsor de conhecimento, funcionando como um museu-escola. “Nosso museu deveria se chamar Centro, Movimento, Escola”, dizia a arquiteta.

Paralelo ao MAM, Lina também foi responsável pela criação do Museu de Arte Popular, para ser focado no diálogo entre a indústria e a arte popular brasileira (artesanato), com vistas à criação de uma aproximação entre o popular e o erudito. Após o golpe militar de 1964, ela foi afastada da direção dos museus, que foram unificados posteriormente, na direção de Mário Cravo Júnior.

Bo no MAM/1959-1964

Uma homenagem ao trabalho visionário de Lina Bo Bardi para o nascimento do Museu de Arte Moderna da Bahia. Este é o tema de Bo no MAM/1959-1964, exposição de Mário Cravo Neto no ano em que o museu está prestes a completar 50 anos.

“O fato do MAM comemorar 50 anos entre 2009 e 2010 faz com que busquemos inserir projetos especiais em nossa pauta, como é o caso do site specific Bo no MAM/1959-1964, de Mário Cravo Neto, marcando a abertura de uma programação anual especial”, afirmou Solange Farkas.

O trabalho é um site specific, ou seja, foi criado especialmente para o térreo do casarão e consiste na plotagem de imagens do Solar do Unhão produzidas pelo fotógrafo baiano Voltaire Fraga (1912-2006), antes das intervenções de Lina Bo Bardi.

Segundo Solange Farkas, são fotografias que atestam o estado do conjunto do século 17, quando a arquiteta Lina Bo Bardi (1914-1992) começou a concretizar o projeto visionário da reforma que transformaria o Unhão no Museu de Arte Moderna da Bahia. “Décadas de abandono e usos disparatados, como fábrica, depósito, serraria, desfiguravam o prédio-símbolo do conjunto e estão ali registradas”, explicou.

Mário Cravo Neto observou que a ideia para a instalação nasceu dentro do próprio museu. “Durante a realização do livro Museu de Arte Moderna da Bahia, editado em 2002, onde sou o autor da maior parte das imagens, vim a descobrir um pequeno álbum encadernado com arame contendo uma dúzia de fotografias de Voltaire Fraga feitas anteriormente ao inicio das obras de restauração do magnífico conjunto arquitetônico do Solar do Unhão. Feitos os scans, guardei as imagens e a ideia para o futuro”, destacou.

O artista disse que o trabalho é composto por diversos elementos, os registros de Voltaire Fraga e o engajamento de Lina Bo Bardi na concepção do MAM. “Não é somente o registro fotográfico de Voltaire que cria um encontro entre o passado e o presente. Ele registrou o passado e o desmazelo que vivia o conjunto arquitetônico do Solar do Unhão. Lina o recuperou com carinho e dedicação”, afirmou.

Geometria Impura

A relação do homem com o espaço é aprofundada nos trabalhos que compõem a exposição Geometria Impura, que entra em cartaz na Galeria Subsolo do MAM, também a partir de 16 deste mês. A mostra coletiva traz sete artistas com obras que dialogam e revelam uma maneira peculiar de perceber o espaço.

As sensações de peso e leveza, de perfeição e falha, do vazio chamam a atenção para as múltiplas possibilidades de utilização das técnicas. “Através da utilização de diferentes suportes e da aposta no inusitado, apropriando-se de nuances do prosaico, do cotidiano, daquilo que não percebemos é que esses artistas criam novas figuras e objetos, evidenciando diferentes percepções das formas geométricas e do conceito de pureza”, avaliou Solange Farkas.

Geometria Impura reúne trabalhos dos artistas mineiros Isaura Pena, Pedro Motta, Francisco Magalhães, Renato Madureira, Júnia Penna, Ricardo Homen e Rodrigo Borges.

Para Júnia Penna, apesar da diversidade de meios e interesses, os artistas apontam alguns procedimentos afins em suas pesquisas plásticas: a forma de trabalhar a espacialidade, a noção de vazio, o sentido construtivo de como o desenho se estabelece para cada um dos artistas do grupo. “O desenho é uma forma de expressão comum a todos. Por meio dele, transitamos entre a escultura, a pintura, a fotografia e a instalação”, declarou.

Todo o trabalho de curadoria foi realizado pelos artistas, considerando os interesses e os procedimentos que eles comungam no trajeto de suas pesquisas.