Uma pesquisa, iniciada há dois anos, cujo resultado vem revolucionar a caracterização de enzimas (ou proteases) deu à equipe coordenada pelo professor Carlos Priminho Pirovani, do Departamento de Ciências Biológicas da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc), no sul do estado, o primeiro lugar, na categoria Inventor Livre, no Concurso Ideias Inovadoras, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb).

Enzimas são um grupo de substâncias orgânicas de natureza geralmente proteica, com atividade intra ou extracelular que têm funções catalisadoras de reações químicas que, sem a presença delas, aconteceriam a uma velocidade demasiado baixa. São fundamentais ao metabolismo dos seres vivos. A capacidade catalítica das enzimas torna-as adequadas para aplicações na indústria alimentar, farmacêutica e na investigação laboratorial.

A pesquisa desenvolveu a construção de armadilhas para a captura de proteases presentes em extratos proteicos de diferentes origens: folhas, sementes, tecidos vegetais infectados por patógenos, cultura de microrganismos, micélio fúngico ou outro material biológico que contenha tais enzimas.

A armadilha com inibidores, desenvolvida no Laboratório de Proteômica do Centro de Biotecnologia e Genética da Uesc, tem se mostrado eficiente na captura de proteases de diferentes tecidos do cacau, e também do fungo Moniliophthora perniciosa, causador da vassoura-de-bruxa do cacaueiro.

O método pode viabilizar também a identificação e caracterização de novas proteases para a aplicação em segmentos da indústria alimentícia, como fabricação de queijos, produção de carnes tenderizadas por enzimas, bebidas e hidrolisados proteicos diversos.

Impactos

Outro fator positivo, destacado pelo professor Pirovani, é o ganho representado pelo uso de armadilha com inibidores em relação aos métodos clássicos que requerem maior dispêndio com reagentes, desgaste de equipamentos e tempo aplicado.

Outra vantagem desse método é que somente as proteases ativas se ligam aos inibidores, podendo ser eluídas da armadilha com concentrações elevadas e submetidas diretamente à análise e identificação ou destinadas ao uso industrial. “Essas armadilhas de captura de proteases terão impactos tecnológicos e científicos em curto prazo”, afirma o pesquisador.

A tecnologia será também de grande importância na identificação e purificação de novas enzimas para uso em processamento de alimentos, se for considerado que as indústrias de biscoitos já usam proteases como aditivos para melhorar a moldagem nas massas de pães, liberando aminoácidos livres e peptídeos, que formam a casca do pão. Com isso, previne o enrugamento do produto e acentua o odor da massa, evitando que se deformem no forno.

O mesmo se dá na fabricação de bebidas em que as proteases podem ser utilizadas para melhorar a clarificação do produto e o rendimento de polpas. Na fabricação de cerveja, a ação de proteases promove a produção de peptídeos que auxiliam na estabilidade da espuma e na melhoria do sabor e do aroma.

Hidrolisados proteicos com o uso de proteases podem também ser empregados na fabricação de rações e suplementos alimentares para aumentar a massa muscular de atletas e ainda na formulação de pomadas para o tratamento de feridas, facilitando a cicatrização, além de outras aplicações.

Doutor em Genética e Biologia Molecular, o professor Carlos Pirovani tem como companheiros de pesquisa, os professores Júlio de Mattos Cascardo e a graduanda em Biologia, Ana Camila Oliveira Freitas, bolsista de IC/Fapesb.