Mais de 100 pessoas, entre representantes de organizações não-governamentais (ONGs) e de associações de classe, além de secretários municipais, participaram na tarde dessa terça-feira (3) da Oficina Preparatória de Audiência Pública para Licenciamento Ambiental, na cidade de Eunápolis, no extremo sul baiano. À semelhança de outros municípios da região, Eunápolis vive às voltas com a expansão desordenada da cultura do eucalipto.

Um dos objetivos da oficina, promovida pelo Instituto do Meio Ambiente (IMA), foi discutir a proposta da indústria de celulose Veracel de duplicar sua fábrica, localizada na área rural do município.

No último domingo (01), um jornal de Salvador publicou uma espécie de radiografia da cultura do eucalipto no sul da Bahia. No caso de Eunápolis, que possui uma área total de 1.197 km², 20% desse território já abriga plantações de eucalipto, atingindo o teto máximo estabelecido pela determinação do Conselho Estadual do Meio Ambiente (Cepram).

“Estamos aqui para discutir com os vários setores da sociedade a pretensão da Veracel em ampliar sua fábrica e área de plantio. Essa oficina tem o objetivo de acompanhar e aprofundar as angústias expressas pela população, que convive com muitos conflitos e descontroles, estabelecidos antes da nossa gestão à frente do IMA. Vamos recuperar o controle da situação, orientando a sustentabilidade local”, afirmou a diretora-geral do IMA, Beth Wagner.

Quem também vê com preocupação a expansão do eucalipto na região é o promotor João Alves da Silva Neto, do Ministério Público Estadual. Presente à oficina, ele disse que a cultura do eucalipto vem sendo desenvolvida desde 1993, quando as indústrias começaram a se estabelecer no extremo sul.

“Sem qualquer estudo ou avaliação, a atividade foi sendo gradualmente implantada, em paralelo à retirada da vegetação nativa”, informou o representante do MP, ressaltando que um estudo recente elaborado pelo IMA ajudou a traçar um perfil bem mais elaborado da situação.

Questionamentos e respostas

Para o secretário de Meio Ambiente de Eunápolis, Gelton Freitas, a oficina promovida pelo IMA foi importante para equalizar a situação no município. “Estamos aqui com três visões, com três escalas: o governo estadual, o empreendedor e o município, aí inseridos os diversos setores da sociedade. Realmente, na primeira etapa da implantação do eucalipto, houve muito impacto, o que não deve ocorrer agora”, observou.

Já a representante da ONG Associação Flora Brasil, instalada na vizinha Itamaraju, elogiou a atuação do IMA. “O IMA trouxe questionamentos e respostas. Em Itamaraju, não temos o expediente do fomento (subsídios dados pelas empresas a agricultores para o plantio do eucalipto). Ainda bem, porque na nossa região a cultura do cacau e outras que convivem com ela ajudam a preservar a vegetação nativa. Lá só temos uma plantação de cerca de 200 hectares de eucalipto. Já pensou no desastre que seria substituir, implantar uma monocultura?”, disse.