Ao serem atendidas nos Centros de Referência de Assistência Social (Cras) as pessoas terão acesso a propostas que visem a equidade de raça. Esta foi uma das sugestões discutidas nesta terça-feira (7) na Conferência de Promoção da Igualdade Racial de Valença, primeira de uma série que serão realizadas nos municípios baianos, visando a preparação para a versão estadual do debate.

O objetivo é a avaliação dos avanços, desafios e perspectivas da política estadual de promoção da igualdade racial na Bahia, estado que concentra 35% dos 100 municípios mais negros do país, e apontar caminhos que possam conduzir a eliminação das desigualdades raciais no Brasil.

Das plenárias nos municípios sairão os delegados da II Conferência Estadual e da II Conferência Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, que acontecem, respectivamente, de 24 a 26 de maio, em Salvador, e de 23 a 25 de junho, em Brasília. Na Bahia, a atividade é coordenada pela Secretaria de Promoção da Igualdade (Sepromi), em parceria com o Conselho de Desenvolvimento da Comunidade Negra (CDCN).

Questões relativas a saúde, educação, trabalho e renda, segurança, religião e quilombo foram eixos do debate em Valença, município do Baixo Sul, cuja população de aproximadamente 86 mil habitantes é, em grande proporção, composta por negros, que vivem da agricultura de subsistência, da atividade turística e da pesca.

“Acho que precisamos tirar daqui um grupo de trabalho permanente porque esse debate tem que ir além da conferência”, acredita Cátia Costa, representante da União de Negros pela Igualdade (Unegro), de Valença. Para o representante do Instituto Cultural Caipora, Ivanildo de Jesus dos Santos, a conferência é uma forma de alertar as pessoas para a sua realidade e para a luta pelos seus direitos.

O professor da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), Sérgio Herrera, fez pela manhã uma abordagem histórica da trajetória do negro no Brasil, caracterizando a falta de políticas públicas voltadas para este segmento da população brasileira desde o período da escravagista. “É por isso que os negros, hoje, precisam lutar pela conquista de direitos numa sociedade que o discrimina não somente do ponto de vista econômico, mas também social e cultural”, disse.

Enquanto não assumirmos que somos negros, discriminados e que temos pouco acesso a educação, não teremos como interferir nas políticas públicas”, completou o acadêmico, lembrando a responsabilidade do cidadão no processo de democratização e de oferta de serviços públicos.

Provocado sobre as políticas públicas que podem ser implementadas em Valença, visando a promoção da igualdade racial, Herrera destacou que o ponto de partida pode ser a realização de pesquisas e censos demográficos que caracterizem as demandas econômicas, sociais e culturais da população negra do município.

A coordenadora de Intersetorial da Sepromi, Luci Góes, sugeriu a inclusão do quesito raça/cor nos cadastros que já são feitos nas diversas áreas para facilitar a identificação dessa população. A proposta foi completada pelo psicólogo do Cras de Valença, Mário Neto, que apontou a possibilidade dessa abordagem no questionário de anamnese psicossocial aplicado no Cras.

A técnica da Secretaria Municipal do Planejamento, Camila Sobral, destacou a importância da contribuição da sociedade civil para a construção de políticas públicas, tanto nas conferências quanto através de programas como o Territórios da Cidadania. “Além de discutirmos, precisamos também cobrar as decisões que forem tomadas aqui”, destacou.