Elivanilson Souza, 18 anos, aluno do Colégio Estadual Vítor Soares, é amante do tai-chi chuan, mas também se dedica à capoeira, ao basquete, ao hip-hop e ao futsal. Entre as modalidades esportivas que pratica, já conquistou 11 medalhas.

Mais do que os títulos obtidos, o esporte lhe concedeu outros ganhos significativos que repercutem em toda a sua vida. Com necessidades educacionais especiais, o estudante disse que a prática regular de esportes foi fundamental para que passasse a ter um maior controle sobre si mesmo, tendo condições, inclusive, de administrar melhor as situações do dia-a-dia.

“Fiquei mais calmo”, explicou Elivanilson, que atribui também à mudança comportamental como um dos fatores que o ajudaram a conquistar uma vaga no mundo do trabalho.

No Colégio Vítor Soares, localizado na Ribeira, o esporte é considerado uma das ferramentas de inclusão e integração dos estudantes. Com 2.088 alunos, distribuídos nos três turnos, ele atende a 400 pessoas com necessidades educacionais especiais. Desse total, 80% possuem deficiências intelectuais nos mais variados níveis e, dos 400, aproximadamente, 80 estão incluídos no ensino regular.

A escola conta com o Núcleo Sócio-recreativo e Esportivo, que oferece atividades diárias nas modalidades de xadrez, dança, tai-chi chuan, capoeira, música, teatro, handebol, futsal, vôlei, basquete e atletismo.

Apontado pelo professor de Educação Física, Luciano Bonfim, como um dos melhores alunos de tai-chi chuan, Elivanilson afirmou que até tentou seguir a carreira esportiva, mas não encontrou espaço.

Embora anônimo para o grande público, na escola ele é considerado uma estrela. Mas não brilha sozinho. Ao lado dele, estão outros estudantes da educação especial, a exemplo de Anailton Oliveira Magalhães, 18 anos, que desde os sete anos pratica esporte na modalidade de basquete, mas também é disputado pelas equipes de atletismo e futsal.

Desempenho nas competições

O bom desempenho de Elivanilson lhe garantiu a participação em torneios em diversas cidades e estados e uma coleção que, por enquanto, soma 30 medalhas. “Tenho prazer em estudar e jogar”, contou.

Segundo a coordenadora da oficina de ensino especial, Roseni Dutra Cavalcante, quando se lida com as diferenças não existe um tempo para a inclusão. “Temos que identificar o ritmo deles. Tudo é diferente, principalmente o tempo, porque há alguns alunos que se desenvolvem mais rápido”, destacou.

“Eles ficam muito empolgados e como a participação nas competições está condicionada a um bom comportamento, acabam sendo estimulados a ter melhor desempenho na sala de aula”, observou a coordenadora do Núcleo Sócio-recreativo e Esportivo do Vítor Soares, Ivete Helena Fortes. Na Olimpíada da Adversidade, por exemplo, o colégio conquistou o primeiro lugar no futsal, o terceiro no handebol e algumas medalhas no atletismo.

Lições de vida

Para o professor Luciano Bonfim, além de proporcionar prazer, a prática de esportes beneficia os estudantes com lições de vida diárias. “Eles aprendem a ter limites, disciplina e a conviver com regras. É uma atividade que socializa”, declarou Bonfim, que, volta e meia, surpreende-se.

“Tive um aluno hiperativo, que não conseguia permanecer na sala de aula. Tinha um comportamento que ninguém aguentava. Até que ele se interessou pelo tai-chi chuan, que mexe muito com a concentração, faz meditação, e isso promoveu mudanças significativas na vida dele”, explicou o professor sobre o estudante, que conseguiu ser inserido no ensino regular e cursa o segundo ano do ensino médio.

Diante do leque de opções esportivas, os professores vão identificando os interesses e habilidades dos estudantes e os distribuem nas atividades. “A educação preconiza que a gente tenha terminalidade. Aqui, temos a laboral, social e educativa. A inclusão tem que ter um tripé. Não adianta incluir só na escola, no trabalho ou no social. Tem que atuar nas três vertentes para que o indivíduo possa exercer sua cidadania”, disse Roseni.

Informações do último censo escolar mostram que há 35.906 estudantes da educação especial na Bahia, sendo que 52,7% deles já estão inseridos no ensino regular.

O coordenador de Educação Especial da Secretaria Estadual da Educação (SEC), João Prazeres, afirmou que, além de elevar a autoestima dos estudantes, o esporte funciona como uma excelente ferramenta de inclusão. “É justamente por ter essa compreensão que a secretaria apoia a prática nas escolas, além de viabilizar a aquisição de materiais esportivos e as condições das equipes participarem dos torneios em outras cidades e estados”, ressaltou.