Portador de deficiência visual, o estudante do 2º ano do Centro Educacional Carneiro Ribeiro, Liomar Santiago de Jesus, 26 anos, até tentava se interessar pelas aulas de química, mas não havia jeito de se familiarizar com aquele universo repleto de fórmulas. Bastou ter acesso às aulas práticas da disciplina pelo método tátil que o conceito do estudante com relação à matéria é outro. O resultado da experiência desenvolvida pela professora Sandra Lúcia Pita Pereira com os alunos deficientes visuais foi apresentada nesta quinta-feira (27), no Instituto Anísio Teixeira (IAT), durante a 1ª Mostra de Popularização das Ciências. A mostra reuniu 15 projetos bem sucedidos na área das ciências, desenvolvidos por escolas da capital.

Ao constatar que as dificuldades dos alunos deficientes visuais, para assimilar o conteúdo das disciplinas, era ainda maior que a dos demais, a professora passou a buscar um método de tornar o aprendizado mais fácil e prazeroso para este público. Eles saem da sala de aula e vão para o laboratório. Como não podem visualizar as substâncias, as sentem, através da temperatura e espessura. “O projeto nasceu da necessidade de orientá-los para um aprendizado mais significativo”, explica a professora, que passou a ensiná-los a separar as misturas pelo método de decantação, identificar as substâncias, entre outras atividades.

O resultado é constatado no próprio desempenho dos alunos. “Sempre tive dificuldades com fórmulas, agora aprendo melhor com a prática. Só ouvindo a gente não aprende nada”, avalia o estudante. A mostra visa a promover a popularização da Ciência e Tecnologia, e é traduzida em experimentos, atrações interativas e outros meios que oferecem, à luz da ciência, uma leitura criativa do cotidiano de aprendizagem entre alunos e professores.

No caso dos alunos do Colégio Estadual Rotary, eles aprenderam, por exemplo, que misturando o morango com detergente, água morna, sal e álcool gelado é possível extrair o DNA da fruta. Também aprenderam como elaborar um bafômetro alternativo, determinar o teor do álcool na gasolina, entre outros experimentos.

“Não se aprende só na teoria e a prática é a melhor técnica para formação do conhecimento. Para mim, que pretendo fazer biomedicina, o uso do laboratório abriu uma grande porta para o conhecimento”, diz a estudante do 3º ano, Lorrane Carvalho, 16 anos.

Para a professora da unidade, Selma Cristina Lira, a proposta é conseguir proporcionar, pela prática, um aprendizado mais significativo. “A disciplina biologia, por exemplo, é cheia de palavras difíceis que dificultam a assimilação. A prática vem reforçar a teoria para que ela não fique no abstrato”, explica a professora Selma.

Além de expor os projetos, a mostra tem como propósito compartilhar conhecimentos e desenvolver a cidadania, para despertar o interesse pela ciência, sobretudo, nos jovens. Participarão da mostra projetos de 15 escolas da rede estadual que se destacaram após formação de professores da área de Ciências da Natureza, realizada pela Fiocruz.

A mostra reuniu projetos sobre o cultivo de hortaliças como base de pesquisa científica, o estudo da ciência através do grafite, prevenção de doenças infecciosas e parasitárias, entre outros. Para a SEC, as mostras de ciências contribuem para que a comunidade escolar tenha a oportunidade de apreciar e de entender as etapas de construção do conhecimento científico, envolvendo a problematização, a pesquisa, a interação, a análise e a conclusão, fortalecendo a criatividade e o raciocínio lógico.