Pesando hoje 104 quilos, a assistente de cabeleireiro Heliene Teles, 26 anos, diz que está “mais bonita, mais feliz e mais saudável”. Ela foi submetida a uma cirurgia bariátrica em dezembro de 2008, depois de ter tentado, de todas as formas e sem sucesso, reduzir os 157 quilos que pesava na época.

Heliene faz parte das 313 pessoas que foram contempladas pelo mutirão de cirurgia bariátrica, desencadeado pela Secretaria Estadual da Saúde (Sesab) em outubro do ano passado, e que se reuniram nesta segunda feira (11) no Centro de Diabetes e Endocrinologia da Bahia (Cedeba), em Salvador. Alguns dos pacientes aguardavam há oito anos em uma fila para a realização da cirurgia, que hoje está zerada.

Segundo Heliene, que aos 19 anos descobriu que estava com hipertensão, devido à obesidade, e aos 20 anos estava pré-diabética e com problemas circulatórios, agora não toma mais remédios para essas doenças. “Sinto também que mudou a aceitação na sociedade. Quando a gente é gorda, sofremos preconceito no mercado de trabalho, nas lojas de roupa, em todo lugar”, afirmou.

A assistente de cabeleireiro reconhece que “se não fosse esse mutirão” não teria condições de fazer a cirurgia. “Pesquisei e encontrei valores de até R$ 75 mil, envolvendo a cirurgia, medicamentos, equipe multidisciplinar, e para quem é assalariado fica difícil”, explicou.

O comerciante Carlos Alberto Santos, 45 anos e 160 quilos, que também participou da reunião e vai fazer a cirurgia, acha que ao alcançar os 100 quilos estará no peso ideal para os seus dois metros. “Sou hipertenso, diabético, tenho problemas de circulação e quero ter uma velhice com maior qualidade de vida”, destacou.
Ele disse que a obesidade é uma constante em sua família. “Tive uma tia que morreu na cama, obesa, sem conseguir se locomover. Não quero isso pra mim”, declarou.
Para a coordenadora do mutirão e responsável pelo Serviço de Obesidade do Cedeba, Tereza Arruti, podem passar pela cirurgia bariátrica pacientes com obesidade mórbida que não tiveram sucesso no tratamento clínico com dietas, medicamentos e atividades físicas. Ela informou que o paciente já sai da cirurgia sem diabetes e com uma grande melhora da hipertensão arterial.
Tereza observou que a iniciativa acabou com a demanda reprimida no estado e quem tiver problemas de obesidade mórbida deve procurar os postos de saúde da sua cidade ou do seu bairro. “O médico vai fazer a avaliação, preencher um protocolo e encaminhar o paciente ao Cedeba, ao Hospital Roberto Santos ou ao Hospital das Clínicas para acompanhamento”, afirmou.

Um bom exemplo da PPP

O governador Jaques Wagner disse que o mutirão é um bom exemplo da Parceria Público-privada (PPP), com envolvimento de médicos, anestesistas e as equipes dos hospitais particulares. “Foi um preço intermediário, em torno de R$ 8 mil cada cirurgia, mais ou menos o dobro do que pagamos no SUS e a metade do cobrado para a cirurgia particular”, afirmou.

O secretário estadual da Saúde, Jorge Solla, destacou que o procedimento realizado no mutirão é o mesmo utilizado nos tratamentos particulares. “Inclusive, as equipes envolvidas no processo, especialmente dos hospitais Espanhol e da Cidade, fazem também pela saúde suplementar”, observou.

Solla disse que o resultado do mutirão foi muito positivo, mas que o trabalho não acabou. “A atenção à saúde dessas pessoas não se encerra na cirurgia, porque elas vão continuar sendo acompanhadas pelo Cedeba, com orientação profissional, psicológica, para que a evolução seja satisfatória”, comentou.

O presidente da Regional Bahia da Sociedade Brasileira de Endocrinologia, Fábio Trujilho, elogiou o mutirão, principalmente a organização dos procedimentos. “Tudo foi realizado com muita transparência, critério, acompanhamento, respeitando-se a ordem da fila. É o maior e mais bem feito programa que tenho notícia”, disse.

Utilizando os critérios do Ministério da Saúde, Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e Conselho Federal de Medicina, o Cedeba selecionou os pacientes para a cirurgia bariátrica de uma lista com 249 pessoas, além da relação do próprio centro, com 286 pacientes acompanhados de 2004 até setembro de 2008. Desse total, 130 não participaram do mutirão por motivos diversos e os outros foram encaminhados para a cirurgia.

Além disso, foi feita a revisão de uma relação de pacientes cadastrados em 2006, selecionando mais 77 que se encontravam na triagem desde outubro do ano passado que desejavam fazer a cirurgia e preenchiam os critérios técnicos. Eles foram avaliados e encaminhados para realizar o procedimento cirúrgico, ampliando para 233 o número de pacientes do Cedeba atendidos pelo mutirão.

A iniciativa foi fruto da parceria entre a Sesab e os hospitais da Cidade, Espanhol e Salvador. O Cedeba, unidade de referência na rede estadual de saúde nas áreas de endocrinologia, diabetes e hipertensão arterial, ficou responsável pela triagem e pelo encaminhamento dos pacientes para o mutirão.