Para marcar o O Dia Internacional de Erradicação do Trabalho Infantil, sexta-feira (12), a Secretaria da Educação (SEC) iniciou, nesta quarta-feira (10) o trabalho de conscientização nas escolas da rede estadual. A SEC em parceria com o Ministério Público do Trabalho (MPT) e movimentos sociais e sindicais lançaram, às 9h, na Escola Estadual Praia Grande, em Periperi, a campanha de mobilização e combate ao trabalho infantil, que tem como tema Com educação nossas crianças aprendem a escrever um novo presente sem trabalho infantil.

Enquanto os estudantes do ensino médio assistiram a filmes abordando a temática, a discussão do trabalho infantil com os estudantes do ensino fundamental foi feita com atividades lúdicas. A programação incluiu distribuição de bala, pipoca e pirulito, apresentação de palhaços, música, oficinas com tinta guache e outras atividades que remetam à infância. Além disso, foi realizada uma oficina de grafite, onde os alunos criaram um painel refletindo à exploração do trabalho infantil.

A estudante da 8ª série, Jéssica dos Passos de Souza, 13 anos, nunca trabalhou. No entanto, acompanha de perto a situação de amigos que precisam trocar a escola por uma atividade que garanta um retorno financeiro para complementar o sustento da família. “São mais os meninos que atuam com carro de mão nas feiras ou como ajudante de pedreiro. Eles não trabalham porque querem, mas porque precisam”, conta Jéssica.

Ela relata ainda a experiência da própria mãe que, aos 12 anos, veio do interior para trabalhar na capital baiana como doméstica. “Minha mãe diz que precisou trabalhar para ajudar a minha avó. Por isso, ela quer que eu estude para ter uma vida diferente da dela”, diz a estudante que sonha em ser médica. A idéia da mobilização é mostrar que lugar de criança e adolescente é na escola e não no trabalho.

A iniciativa visa a sensibilizar pais, professores e dar visibilidade social a uma situação que atinge mais de 400 mil crianças e adolescentes na Bahia. Segundo dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), a Bahia responde por cerca de 10% do total de crianças trabalhando em todo o país e a 45% dos casos registrados na região Nordeste. A idéia é que a campanha, iniciada na Escola Praia Grande, seja expandida para as 1.681 escolas da rede estadual.

“A Secretaria é parceira na articulação. Nossa proposta é realizar um trabalho mais amplo nas escolas, em parceria com o Ministério Público do Trabalho, envolvendo pais, alunos e professores”, informou a coordenadora do Ensino Fundamental da SEC, Ana Elizabeth Costa Gomes. Os números do trabalho infantil na Bahia e no Brasil foram mostrados durante o evento e deixou estudantes surpresos.

No caso do aluno da 8ª série, Murilo Bispo, 14 anos, a própria história de vida faz com que seu pai se esforce bastante para manter os três filhos bem longe do trabalho. Porém, assim como Jéssica, ele tem inúmeros amigos que atuam em feiras carregando sacolas, limpam quintais e ajudam na construção civil para garantir uns trocados para ajudar no sustento da família. “Meu pai não quer que eu passe pelo que ele passou. Ele deseja que eu estude e faça faculdade”, conta Murilo que quer cursar Administração de Empresa e ter o seu próprio negócio.

De acordo com a procuradora regional do Trabalho, Edelamare Melo, a mobilização teve o propósito de assegurar o compromisso dos próprios estudantes em buscar a garantia dos direitos da infância e da adolescência. “Eles precisam ser agentes multiplicadores, na família e na sociedade, do direito deles à educação, a ter uma infância digna. O espaço deles não é nas feiras, devem estar bem acolhidos na escola”, pontuou a procuradora.