Os caminhos da Ala Nobre da Faculdade de Medicina da Bahia (Fameb), inaugurada nesta quarta-feira (1), é um retorno ao passado. Nas paredes, no teto, na biblioteca, no jardim, em todos os lados estão as marcas de um tempo de desenvolvimento científico, artístico-cultural e arquitetônico.

O prédio da primeira faculdade do Brasil, localizado no Terreiro de Jesus, foi fundado por Dom João VI, em 1808, há 201 anos. “Fico arrepiado quando tento imaginar o que era discutido aqui há 200 anos. Imaginem as primeiras idéias da medicina brasileira sendo tratadas neste espaço!”, disse o governador Jaques Wagner durante cerimônia.

Foi em 1972, após resistir a dois incêndios em 1905 e 1952, que a construção entrou em decadência. Com a faculdade transferida para o Canela, o prédio de estilo neoclássico permaneceu no abandono por 35 anos. Em 2007 é iniciada a reforma da faculdade com recursos do Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet, com patrocínio da Petrobras e coordenação da Fundação de Apoio à Pesquisa e Extensão (Fapex).

De acordo com a arquiteta responsável pela reforma, Naia Olban, foram restaurados o telhado, a cobertura, as pinturas artísticas e decorativas dos forros das salas, da estrutura dos ambientes e do mobiliário, preservando as características históricas.

O prédio também recebeu estrutura moderna, como a do sistema de ar condicionado. A arquiteta explica que foi necessário criar corredores ligando a ala nordeste e o anfiteatro à ala nobre. As intervenções incluíram a acústica e os sistemas elétrico, hidrossanitário e de segurança. Na próxima etapa serão requalificados os anexos que ficam ao fundo do prédio principal, onde funcionará uma unidade de assistência a pessoas viciadas em drogas e a Escola de Saúde Pública.

As aulas de graduação, referentes atenção primária á saúde, voltaram a funcionar desde 2004 no Terreiro de Jesus. Os cursos de pós-graduação estão instalados na unidade desde o ano passado.

No pavimento superior da Ala Nobre está localizado o Salão Nobre, Sala da Congregação, Sala das Lentes, Memorial da Medicina Brasileira, salas da diretoria e do setor administrativo e secretarias. No térreo, funciona o Museu Afro-brasileiro e, no subsolo, o Museu de Arqueologia e Etnologia da Ufba.

Um relatório de conservação preventiva ainda indicará as adaptações técnicas de funcionamento necessárias à conservação e manutenção do local restaurado. Também trará sugestões para continuidade das ações e especificações das necessidades futuras, como, por exemplo, a recuperação das pinturas artísticas descobertas nas paredes, que não foram recuperadas, pois não estavam previstas no orçamento inicial do projeto.

História

O Complexo Monumental da Faculdade de Medicina da Bahia faz parte de um conjunto arquitetônico tombado em 1985 pela Organização das Nações Unidas para a Educação a Ciência e Cultura (Unesco). Possui uma área construída superior a 20 mil metros quadrados e é dividido em Ala Nobre e Ala Nordeste, conjunto de pavilhões e biblioteca, além de contar com três prédios anexos e pátios.

A Famed foi instalada no Hospital Real Militar, que ocupava as dependências do Colégio dos Jesuítas, no Largo do Terreiro de Jesus. Na sacada da faculdade foi acesa a primeira lâmpada elétrica em Salvador, no dia 2 de julho de 1844. Lá foi diplomada a primeira médica brasileira em território nacional, Rita Lobato Velho Lopes, em dezembro de 1887, e criado o primeiro Museu Médico-Legal e Antropológico do Brasil, em abril de 1900.