“Salvador agora tem suas heroínas. Chega de histórias protagonizadas por homens brancos. Nossas antepassadas construíram esta cidade”. Com esta proposta de reparação, a mestra de cerimônia, Lúcia Reis, abriu a solenidade comemorativa do Dia Municipal da Mulher Negra e Dia Internacional da Mulher Afro-latinoamericana e Caribenha, terça-feira (28), na Câmara de Vereadores de Salvador.

Quarenta mulheres, entre elas, a secretária de Promoção da Igualdade do Estado, Luiza Bairros, foram homenageadas com o prêmio Mulher Guerreira Maria Felipa, honraria também concedida a professoras, médicas, capoeiristas, desembargadoras, chefes de família, jornalistas.

Realizada pela Comissão Municipal de Defesa dos Direitos das Mulheres, em alusão às duas comemorações do dia 25 de julho, a sessão especial teve como propósito, evidenciar a contribuição de mulheres negras contemporâneas para o desenvolvimento social, político, econômico e cultural da cidade de Salvador.
Embalada pelos tambores da banda ‘Mulherada’, a solenidade teve um plenário lotado por defensoras da releitura da história baiana e brasileira sob a ótica do protagonismo negro, numa das noites mais bonitas e festejadas da Câmara Muncipal.

Segundo a vereadora Vânia Galvão, idealizadora do prêmio, o Maria Felipa propõe o reconhecimento da força das mulheres negras na construção da cidade, da capital baiana. “São mulheres que sabem lutar pelos seus direitos e ideais”.

O evento ressaltou ainda a importância da atuação da mulher negra no combate à desigualdade social e racial, nas conquistas políticas, apesar de, quase sempre, estas atitudes serem sublimadas pelo racismo e pelo sexismo.

Entre as homenageadas, Rosângela de Araújo “Janja” (capoeirista), Mokota Valdina Pinto (educadora), Vilma Reis (socióloga), Anhamona Brito (ouvidora da Defensora Pública), Alaíde do Feijão (empresária), Mãe Stela de Oxossi (Ialorixá do Ilê Axé Opô Afonjá), Wanda Chase (jornalista), Marluce Barbosa (gerente comercial de televisão), Neusa Alves (desembargadora), Tânia Nogueira (feminista), Negra Cris (educadora), Lúcia Helena (sindicalista).

Maria Felipa

Em 1823, Maria Felipa liderou a resistência de dezenas de homens, índios e mulheres em fuga estratégica pelas matas, durante a queima de 42 embarcações de guerra portuguesas, aportadas na Praia do Convento. Junto com outras personagens como Zeferina e Luiza Mahim, lutou e resistiu às barreiras do preconceito, participando ativamente da construção da história da capital baiana. Apesar disso, estas heroínas negras não constam nas listas dos livros de história do Brasil.