Ampliar o acesso e melhorar a qualidade da assistência prestada aos pacientes renais crônicos, que são submetidos à terapia renal substitutiva (diálise). Este é o principal objetivo da Secretaria Estadual da Saúde (Sesab), que está realizando investimentos visando à implantação de uma nova política para a área de nefrologia, já aprovada pela Comissão Intergestora Bipartite (CIB), expandindo a oferta da diálise peritoneal, modalidade que evita o deslocamento do paciente para os serviços de hemodiálise.

Os investimentos da Sesab na área da nefrologia contemplam principalmente o Hospital Geral Roberto Santos (HGRS), referência na rede estadual para a especialidade e um dos cinco únicos serviços de nefrologia pediátrica existentes no país. Recentemente, o serviço de nefrologia do HGRS recebeu 25 novas máquinas de hemodiálise, possibilitando a substituição de todas as máquinas antigas, que eram 18.

Segundo o nefrologista Sérgio Presídio, coordenador do Serviço de Nefrologia do HGRS, do total de novas máquinas, quatro foram destinadas à pediatria e 18 para pacientes adultos. As três restantes ficam como reserva, para serem utilizadas em eventuais necessidades, a exemplo de manutenção de alguma máquina.

A nefrologista Maria Tereza Martins, coordenadora da Câmara Técnica de Nefrologia da Sesab, contou que a mudança na política de assistência aos renais crônicos em diálise prevê o aumento do número de pacientes em diálise peritoneal, que hoje é inferior a 7%, para 12%.

Para alcançar essa meta, estão previstas ações como a ampliação da diálise peritoneal automatizada intermitente, tipo de diálise que funciona como um ‘treinamento’ para pacientes e seus familiares, até que estejam aptos para a inclusão na diálise peritoneal ambulatorial contínua (CAPD) ou na diálise peritoneal automatizada (APD).

Para Presídio, os dois tipos de diálise peritoneal – CAPD e APD – têm eficácia e resultado semelhantes à hemodiálise, com a vantagem de serem procedimentos feitos em casa, pelos próprios pacientes. No caso da CADP, não é utilizada máquina e os pacientes precisam fazer a filtragem do sangue quatro vezes por dia, enquanto na APD a filtragem é processada por uma máquina, uma vez por dia. “Vale ressaltar que a máquina e demais equipamentos utilizados nos dois tipos de procedimento são disponibilizados gratuitamente para os pacientes”, disse o coordenador.

A implantação de uma unidade de diálise peritoneal intermitente automatizada no Hospital Geral Ernesto Simões Filho (HGESF) é outra ação prevista no projeto da Sesab para assistência aos renais crônicos.

Atualmente, de acordo com Tereza Martins, o HGEFS só disponibiliza diálise na emergência. “Na unidade de diálise peritoneal intermitente, os pacientes serão acolhidos, retirados da situação de emergência e treinados em CAPD ou APD”, explicou, acrescentando que após o treinamento o paciente será encaminhado ao serviço de nefrologia mais próximo da sua casa para o acompanhamento necessário.

Recursos humanos

Difundir o método da diálise peritoneal e capacitar profissionais da área de nefrologia é outra estratégia que vem sendo adotada pela Sesab. A coordenadora da Câmara Técnica de Nefrologia declarou que este ano já foram realizados um simpósio sobre o tema, voltado para médicos nefrologistas, e o primeiro curso de diálise peritoneal. Em agosto acontece o segundo curso, com o apoio da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) e da Universidade Federal da Bahia (Ufba).

O curso constará de três etapas, incluindo dois dias (3 e 4 de agosto) de aulas práticas, voltadas para médicos, para implante do cateter usado pelos pacientes em diálise peritoneal, a serem realizadas nos hospitais Roberto Santos e Universitário Professor Edgard Santos (Hupes).

No dia 7, nos mesmos hospitais, acontecem dois módulos de treinamento prático para enfermeiros, e no dia 6, das 8 às 18h, no auditório do Roberto Santos, serão realizadas as aulas teóricas, abertas para todos os profissionais que atuam na área de nefrologia.

Aumento na prevalência

O Serviço de Nefrologia do Hospital Geral Roberto Santos, referência na rede estadual de saúde, tem capacidade para atender até 160 pacientes em hemodiálise. O coordenador do serviço observou que há um número crescente de pacientes que precisam de diálise, inclusive na emergência da unidade, e que a alternativa para atender essa demanda é a ampliação da oferta da diálise peritoneal, “que já está sendo colocada em prática pela Sesab”.

Além da unidade de hemodiálise, o serviço tem ambulatório pediátrico e adulto, enfermarias de adulto (14 leitos) e pediátrica (cinco leitos) e mais dois leitos para diálise peritoneal.

A coordenadora da Nefrologia Pediátrica do HGRS, Roberta Sobral, disse que até agora o serviço inscreveu no programa de hemodiálise 22 pacientes e que a procura vem sendo crescente.

Para a especialista, isso se deve à maior facilidade de diagnóstico e ao maior acesso ao serviço. “Muitos pacientes pediátricos do interior, com indicação de terapia renal substitutiva, não conseguiam chegar a Salvador e entrar em programa de hemodiálise”, afirmou a nefropediatra, apontando doenças congênitas (má formação do trato urinário) e glomerulopatias (inflamação do trato urológico) como as principais causas de insuficiência renal em crianças.