Vinicius Souza, um estudante de 13 anos residente em Camaçari, vítima de queimadura por combustão de álcool líquido, foi o segundo paciente beneficiado, na Bahia, com uma cirurgia reparadora para implante de pele artificial. O procedimento, que durou cerca de três horas, foi realizado na tarde da segunda-feira (27), na Unidade de Tratamento de Queimados do Hospital Municipal de Cruz das Almas, pelo cirurgião plástico Carlos Briglia. Segundo o médico, a cirurgia transcorreu conforme esperado, e o paciente está se recuperando de forma satisfatória.

A primeira cirurgia para implante de pele artificial, totalmente custeada pelo SUS (Sistema Único de Saúde), foi realizada por Briglia em abril deste ano, também na UTQ de Cruz das Almas, beneficiando uma menina de 11 anos, natural de Mucugê. A diferença entre a cirurgia realizada ontem e a anterior foi o material utilizado para substituir a área queimada: enquanto na primeira cirurgia a pele artificial implantada era composta por colágeno de tendão bovino e silicone, dessa vez foi aplicado, pela primeira vez no estado, o Pelnac, tecido artificial obtido a partir de pele de porco.

O material sintético (matriz dérmica) aplicado na cirurgia de Vinicius Souza foi doado à Secretaria da Saúde do Estado pela SP Intervention, empresa com sede em São Paulo que detém a representação do produto no Brasil. De acordo com a enfermeira Maria Aparecida Camoiço, representante da empresa, o Pelnac, que começou a ser usado no Brasil este ano, já foi aplicado em pacientes do Rio Grande do Sul, São Paulo e Santa Catarina.

Tecido compatível

Há um ano e oito meses, na casa de um vizinho, Vinícius teve parte do pescoço e do tórax atingidos pela combustão de álcool líquido. O adolescente foi atendido em Camaçari e, em seguida, transferido para o Centro de Tratamento de Queimados (CTQ) do Hospital Geral do Estado, onde ficou internado durante 61 dias e foi submetido a uma série de procedimentos cirúrgicos, inclusive enxertia usando a pele do próprio paciente. Como seqüela do acidente, além da cicatriz, ficou com limitações nos movimentos do pescoço e uma alteração postural na área atingida.

Na cirurgia realizada ontem, foram retiradas cicatrizes da queimadura e implantada a matriz de regeneração dérmica (Pelnac). Durante o processo de cicatrização, o tecido sintético se integra à pele do paciente, que recupera os movimentos na área afetada pela queimadura, ao contrário do que ocorre com o enxerto de pele retirada do paciente. Segundo Maria Aparecida Camoiço, com 100% de colágeno, “o Pelnac é o tecido artificial mais compatível e que mais se aproxima do humano”.

Para Briglia, a utilização do novo tecido sintético abre mais uma alternativa terapêutica para vítimas de queimaduras graves. “Os procedimentos que realizamos em Cruz das Almas, utilizando os dois tipos de pele sintética, são os mesmos realizados nos Estados Unidos e em outros centros avançados”, conta o cirurgião plástico.

“A gente vinha sonhando com essa cirurgia”, disse Antônio Fábio Ferreira, pai de Vinicius Souza, poucos minutos antes de ser iniciado o procedimento. Desempregado, o mecânico industrial disse que ele e a esposa não teriam como pagar pelo tratamento cirúrgico, e que seu maior desejo é ver o filho sem as cicatrizes e as limitações decorrentes das mesmas. “Tenho que agradecer a Deus e ao doutor Briglia. Espero que outras pessoas também possam ter acesso a esse tipo de tratamento”, disse Antônio Fábio, lembrando que daqui a 15 dias o filho deve se submeter a outra cirurgia, para complementar o tratamento.