“O nosso desafio é acabar com as zonas tampão que ainda existem no estado. Não é justo termos uma Bahia que pode vender carne e outra Bahia que não pode. Isso não é bom para o pecuarista nem para a ovinocaprinocultura”. A afirmação foi feita, nesta segunda-feira (3), pelo secretário da Agricultura do Estado, Roberto Muniz, na abertura do 4º Congresso Internacional de Boi de Capim, no Bahia Othon Palace, onde representou o governador Jaques Wagner. O evento prossegue até esta quarta-feira (5), reunindo pesquisadores, especialistas, acadêmicos, pecuaristas, empresários e investidores do setor.

O secretário enfatizou a importância do congresso para a estruturação da cadeia produtiva da carne, afirmando que o boi de capim é especial porque “já nasce diferenciado e atende aos anseios do mercado internacional”. No entanto, lembrou os desafios que precisam ser enfrentados como discutir o meio ambiente, a portaria 304 do Ministério da Agricultura, e a importância da vacinação e controle sanitário.

Segundo Muniz, “a agropecuária e o meio ambiente devem estar em sintonia e é preciso pensar em um processo produtivo em que todos se sintam comprometidos com o resultado final, valorizando o rebanho e oferecendo ao consumidor carne saudável e de qualidade. Não se vende mais apenas carne. Devemos vender sanidade e qualidade”.

O secretário disse ainda que a Bahia “faz o seu dever de casa, com números expressivos na primeira etapa da campanha de vacinação deste ano, alcançando a marca de 96,5% de cobertura vacinal e mantendo o status de estado livre da aftosa com vacinação”. Porém, o resultado mais animador foi na região da zona tampão da região norte, no Território Sertão do São Francisco, que faz fronteira com os estados do Piauí e Pernambuco. Ali, registrou-se o maior percentual de cobertura, inclusive de vacinação assistida, dos últimos quatro anos.

O diretor geral da Agência de Defesa Agropecuária da Bahia (Adab), Cássio Peixoto, também presente ao evento, disse que, além dos números da vacinação foram alcançados outros resultados expressivos na região norte como o cadastro de rebanho e de propriedades, que foi quadruplicado, e o cadastramento de transportadores de animais, que até então não existia. Cássio informou ainda que “os números obtidos foram avaliados e considerados positivos pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Mapa”.

Frigoríficos

O secretário destacou que não basta a implantação da Portaria 304 do Ministério da Agricultura se os produtores, principalmente os pequenos, não tiverem ponto de abate mais próximo do local da produção, com qualidade, segurança e sanidade. A Portaria 304 regula o abate de bovinos, caprinos e ovinos, visando a sanidade e o combate ao abate clandestino. Para isso, impõe normas à construção dos equipamentos e a existência de câmaras de refrigeração.

Para atender a essa demanda, o secretário informou que a Seagri está executando um projeto de regionalização e descentralização de frigoríficos e finalizando uma planta padrão, observando todos os critérios exigidos para garantir a qualidade e a sanidade da carne. “Vamos colocar esta planta mínima à disposição do governo, das prefeituras, dos produtores e dos empresários”, disse Muniz.

Bahia tem potencial para exportar carne

Disponibilidade de terras, boa genética do rebanho, mentalidade empresarial moderna, consciência ecológica produtiva, efetivo controle sanitário e de sanidade. Com todas essas vantagens competitivas, favoráveis ao desenvolvimento pecuário, a Bahia tem grande potencial para a exportação da carne bovina.

Para agregar valor ao produto e estimular a concorrência, estão sendo discutidas alternativas, com foco na ampliação de mercados. Para o secretário Roberto Muniz, a produção da carne, sistematizada enquanto cadeia produtiva deve estar inserida de forma processual ou em rede.

“É necessário que todos se sintam responsáveis pela produção final, daí, a necessidade de um sistema de integração ou parceria entre os setores primário (produtor) e final (frigoríficos)”, justificou Muniz.

O especialista e responsável pela comissão de científica do congresso, Guilherme Vieira, afirmou que a parceria também deve envolver o mercado de insumos, orientando para o uso correto. “Com os produtores capacitados, a aplicação correta de insumos agrícolas, vai ser possível definir um tempo de abate e padronizar a carcaça animal, exigidos para a exportação”.

Sobre a aceitação do boi natural de pastagens, o “boi de capim”, Muniz disse ser necessário a valorização do rebanho que, por meio de uma alimentação à base de gramínea, produz carne mais saudável.

O estado tem evoluído muito, sobretudo na administração da custosa Zona Tampão, erradicando a Febre Aftosa nessas fronteiras. É como avalia o presidente do Conselho Nacional da Pecuária de Corte, Sebastião Guedes. “Vantagens competitivas como essa, tornam a Bahia merecedora de uma melhor infraestrutura frigorífica”, defendeu. Como alternativa para a competitividade, Guedes defende ainda a adequação dos empreendimentos de abate e a exportação de gado vivo.

O 4º Congresso Internacional de Boi de capim é uma ação conjunta entre a Associação Baiana de (Abexpo) e do Governo do Estado, por meio da Secretaria da Agricultura, Irrigação e reforma Agrária (Seagri).