O Fundo de Cultura, uma das principais modalidades para manutenção, conservação e recuperação do patrimônio cultural baiano, através do Governo do Estado, pode salvar a pintura do teto da nave principal da Igreja do Santíssimo Sacramento e Sant’Ana, em Salvador.

O templo católico é originário do século 18 (1746), tombado como patrimônio nacional pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 1941 e é a primeira grande edificação sacra no Brasil a ser construída com tecnologia e materiais 100% nacionais, porque antes os mestres e os itens das obras eram importados de Portugal.

“Reformamos o telhado via Fundo de Cultura e conseguiremos salvar a pintura do teto com a mesma fonte de recursos”, afirmou o padre Abel Pinheiro, responsável pela Paróquia de Sant’Ana.

A sugestão de utilizar o Fundo de Cultura foi dada pelo secretário estadual de Cultura, Márcio Meirelles, durante solenidade de entrega do altar restaurado de São Benedito, que aconteceu nesta quinta-feira (20).

Além do secretário estadual, participaram da solenidade o arcebispo-primaz do Brasil, cardeal dom Geraldo Agnelo, e representantes do Tribunal de Contas do Estado e Delegacia do Turismo, entre outros órgãos.

O altar e o santo foram recuperados por uma equipe de 30 profissionais, entre mestres marceneiros, carpinteiros, pintores e restauradores do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (Ipac), autarquia da Secult especializada em restauração de bens culturais imóveis, que são as edificações, e móveis, que podem ser imagens e outras peças artísticas.

No teto da igreja está uma perspectiva arquitetônica ilusionística (1813) atribuída ao pintor brasileiro Franco Velasco (1780-1883), autor da pintura da nave da Igreja do Bonfim (1818-1820), além de famosos retratos de D. Pedro I, Conde dos Arcos e do então arcebispo da Bahia, Dom Romualdo Coelho, entre outros. Sua obra é estilisticamente classificada na transição entre rococó e novos elementos do neoclássico introduzidos com a Missão Francesa. O pintor gozou de alto apreço e suas obras eram encomendadas até mesmo em Portugal.

Expertise e R$ 50 milhões em obras

Segundo o diretor geral do IPAC, Frederico Mendonça, a arquitetura da igreja de Sant’Ana é considerada peculiar. “Sua planta baixa procura conciliar o típico das matrizes e igrejas de irmandade do começo do século 18 com a planta jesuítica romana – de cúpula no cruzamento do transepto -, mas, eliminando as capelas laterais”, explica Mendonça. Esta é a única igreja baiana de corredores laterais que apresenta uma cúpula. A expertise dos arquitetos e restauradores do IPAC é reconhecida em todo o país. “Esses profissionais já atuaram nas principais restaurações realizadas no patrimônio cultural da Bahia, considerado um dos mais importantes das Américas, quando se trata da herança colonial-barroca no nosso continente”, explica Mendonça.

Atualmente, o IPAC está responsável pelas restaurações completas do Palácio Rio Branco, igreja e cemitério do Pilar, igreja do Boqueirão, casa das Sete Mortes, igreja Rosário dos Pretos e Oratório da Cruz do Pascoal. Todos esses monumentos estão localizados no Centro Histórico de Salvador e cinco deles são tombados pelo IPHAN como Patrimônios Culturais do Brasil. Em Cachoeira e Lençóis, através do Monumenta (Iphan/MinC) o IPAC administra a restauração de mais de 100 imóveis e logradouros públicos, como orlas e ruas, totalizando, em todo o Estado, no período de dois anos e meio, mais de R$ 50 milhões investidos em obras de recuperação do patrimônio cultural construído na Bahia.