A Bahia é um dos estados campeões em acidentes por escorpiões. A afirmação foi feita na manhã de hoje (10), no auditório da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), pelo coordenador da área técnica de animais peçonhentos do Ministério da Saúde (MS), Daniel Sifuentes, durante a abertura do curso de capacitação em controle e manejo de escorpiões.

A capacitação, que prossegue até a próxima sexta-feira (14), no Laboratório Central de Saúde Pública Professor Gonçalo Moniz, do Laboratório Central de Saúde Pública da Bahia (Lacen), é uma iniciativa do Ministério da Saúde, em parceria com a Secretaria da Saúde do Estado (Sesab), por meio do Lacen e Centro de Informações Antiveneno (Ciave). O curso é parte da estruturação do Programa de Controle e Manejo de Escorpiões. A partir da capacitação, o Laboratório de Entomologia do Lacen atuará na identificação de escorpiões.

Técnicos do Lacen, Ciave, Vigilância Epidemiológica (Divep), Centros de Controle de Zoonoses de Salvador, Feira de Santana e Barreiras, e de oito diretorias regionais de Saúde (Dires) que concentram maior incidência de casos de escorpionismo, estão participando da capacitação e atuarão como multiplicadores de informações para técnicos das demais regionais.

Números da Bahia

Na Bahia, no ano passado, foram registrados quase 7 mil acidentes com escorpiões, com 11 óbitos. As regionais de Caetité, Vitória da Conquista, Jequié, Itaberaba, Feira de Santana, Barreiras, Santa Maria da Vitória e Amargosa são as mais atingidas pelo escorpionismo, respondendo por 69% dos casos notificados no ano passado.

Do total de acidentes notificados no ano passado, 853 foram atendidos diretamente pelo Ciave e 90 ocorreram em Salvador, onde os bairros mais atingidos pelo problema são: Santa Cruz, Nordeste de Amaralina, Saboeiro, Cabula, Paralela (área de Alphaville), São Cristóvão e Engenho Velho de Brotas.
Também presente à instalação do curso, a diretora do Ciave, Daisy Schwab, lembrou que na Bahia, o escorpionismo chegou a responder pelo maior percentual de óbitos, e continua sendo um problema muito grave, com risco maior para crianças menores de sete anos e idosos.

A toxicologista explicou que a picada de escorpião provoca dor forte no local da agressão, com sensação de formigamento e que todas as pessoas agredidas devem ser encaminhadas a uma unidade de saúde, se possível levando o escorpião para identificação.

Medidas propostas

Conforme Sifuentes, entre as medidas propostas para o controle do escorpionismo estão: o mapeamento das espécies de importância em saúde, o treinamento de profissionais de saúde para a identificação das espécies e o controle das populações de animais, a vigilância e investigação dos óbitos e disseminação de educação em saúde para a prevenção dos acidentes.

Durante sua apresentação, Sifuentes lembrou que, enquanto na região Norte o escorpionismo ocorre predominantemente na zona rural, no Sul e no Nordeste quase 80% dos casos se concentram na zona urbana. Ele falou ainda sobre o avanço da espécie Titus serrulatus, uma das mais tóxicas, e disse que a maioria dos óbitos acontece dentro de casa e as vítimas são crianças.

Escorpionismo no Brasil

O coordenador mostrou dados apontando que, entre 2000 e 2008, os óbitos decorrentes de acidentes por escorpiões aumentaram 5,4 vezes no Brasil (de 16 para 87) e o número de casos triplicou (de 12,7 mil para 37,8 mil).

Sifuentes disse que, desde 2004, o número de acidentes por escorpiões vem ultrapassando o de ofídios (cobras), que está em torno de 20 mil/ano. Ele disse também que, nos últimos anos, o escorpionismo está ocorrendo em áreas onde não havia registro de casos.

Segundo Sifuentes, a Bahia foi um dos estados selecionados pelo MS para sediar a capacitação, que já foi realizada no Paraná e em Minas Gerais, e deverá também contemplar profissionais do Pará e de alguns estados do litoral do Nordeste, como a Paraíba, Sergipe e Alagoas.

Além das capacitações, o Ministério da Saúde elaborou e está distribuindo em todo o país um manual para controle de escorpiões, como uma das estratégias para impedir o aumento na proliferação do animal em diversas regiões, com crescente incidência de acidentes e óbitos.