Publicada às 13h25

Atualizada às 15h15

A cada parede levantada, um futuro melhor para 400 baianos de 18 a 24 anos, moradores do subúrbio de Salvador. O barulho das ferramentas e da serra elétrica pode até incomodar algumas pessoas, mas para os adolescentes beneficiados pelo programa Educar para Construir este é o som de uma vida cheia de oportunidades e de um mercado de trabalho promissor.

A chance começa nas oficinas do Centro de Educação Desportiva e Profissionalizante (Cedep), realizado pelo governo da Bahia, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Social e Combate à Pobreza (Sedes), em parceria com o Sindicato da Construção Civil da Bahia (Sinduscon).

O Educar para Construir, uma vertente do programa Jovens Baianos, oferece cursos na área da construção civil, setor que tem crescido em Salvador. Desde 2007 o programa articula com empresas do segmento a contratação dos jovens aprendizes e alunos formados. No total, 200 adolescentes já estão atuando no mercado de trabalho com carteira assinada.

O Jovens Baianos oferece cursos profissionalizantes em 42 municípios, atendendo cerca de cinco mil adolescentes. Até o final deste ano, mais de 11 mil estudantes serão beneficiados. “É uma oportunidade única. Aqui, estou mesmo me qualificando. O mercado de trabalho exige profissionais especializados, qualificados e o curso me oferece isso”, afirmou Aljamile Santos, 24 anos.

Os alunos podem se qualificar como ajudante prático de pedreiro e pintor, de eletricista, hidráulico e almoxarifado, ou de carpinteiro e cadista (desenhista em Autocad). Todos os cursos oferecem aulas teóricas e práticas, onde os adolescentes vivenciam um canteiro de obra, constroem casas e fazem instalações elétricas e hidráulicas.

“Me surpreendi com o programa, porque imaginava que seria igual a todos os outros que participei. Achei que continuaria desempregado, porque a formação não seria suficiente. Mas não foi isso que ocorreu. Com apenas cinco meses no curso fui selecionado para trabalhar como jovem aprendiz em uma empreiteira. Fiquei muito feliz e gostei da rapidez”, disse Adriano de Jesus Santos, 18 anos, que pretende fazer vestibular para Arquitetura.

Parceria entre governo, Sinduscon e Ong resulta em prêmio para a Bahia

Foi a metodologia inovadora utilizada no Educar para Construir que possibilitou ao governo da Bahia e ao Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon) receberem o prêmio Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) de Responsabilidade Social 2009, entregue nesta quarta-feira (2), durante o 81º Encontro Nacional da Indústria da Construção (Enic), no Rio de Janeiro. O secretário estadual de Desenvolvimento Social e Combate à Pobreza, Valmir Assunção, participou da cerimônia.

O programa, uma parceria entre o Sinduscon-BA, governo do Estado e a Ong Cooperação para o Desenvolvimento e Morada Humana (CDM), insere jovens de baixa renda no mercado de trabalho, alcançando uma empregabilidade de 85% do total de participantes. O projeto foi considerado exemplar pelo presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Paulo Simão.

Para o presidente do Sinduscon-BA,Vicente Mattos, o Educar para Construir comprova a importância da união entre poder público, sociedade civil e terceiro setor na busca de ações eficazes para o combate às desigualdades sociais e inclusão dos jovens no mercado de trabalho.

Esta é a segunda premiação do programa. No ano passado, o Educar para Construir foi um dos vencedores do 5º Top Social Norte/Nordeste. O programa funciona em Plataforma, para jovens moradores dos Alagados, do subúrbio e da região da Via Expressa, que devem ser de famílias beneficiadas pelo Bolsa Família, e alunos de escola pública.

O coordenador do Jovens Baianos, Anderson Santos, destacou que ao final das aulas os adolescentes atuam como agentes de desenvolvimento comunitário, executando projetos sociais nas suas localidades de origem. “O governo não se preocupa apenas com a formação, mas com a inserção deles no mercado de trabalho. Estamos preparando esses jovens para um mercado de trabalho exigente. Temos atingido essa meta de inserção”, explicou.

“É um orgulho ver o nosso programa reconhecido como Top Social da Indústria da Construção, o que mostra que estamos buscando aquilo que é mais importante: promover o desenvolvimento com inclusão social”, disse o governador Jaques Wagner.

Profissionalismo

O curso atende as normas da lei de aprendizagem quanto à formação de jovens aprendizes, que determina que empresas cujas funções demandem formação profissional tenham uma cota de no mínimo 5% e no máximo 15% de jovens aprendizes. Trinta empresas do setor de construção civil são parceiras do programa.

Os jovens são contratados como aprendizes durante um ano, com possibilidade de se tornar um profissional habilitado no setor. Durante esse tempo continuam no curso, participando de quatro horas diárias de formação. O coordenador de Recursos Humanos da Andrade Mendonça, Ademilson Santos, declarou que a quantidade de profissionais especializados não tem acompanhado a grande demanda do setor de construção civil.

Segundo Santos, falta mão-de-obra que atenda as reais necessidades do mercado e a qualificação de jovens para essa atual realidade é uma ótima iniciativa. “Nos interessamos por esses jovens, porque no dia-a-dia de uma construção eles aprenderão muito mais, tornando-se profissionais aptos. As noções que eles recebem no curso ajudam muito”, afirmou.

A coordenadora do Cedep, Jaciara dos Santos, informou que o currículo do curso foi baseado na necessidade das empresas, principalmente na área tecnológica. Os jovens têm aula de Autocad, necessário para desenhos técnicos tridimensionais e específico para arquitetura e engenharia. Entre as disciplinas estão Técnicas de Construção Civil, Português, Introdução ao Canteiro de Obras, Oficina Vocacional e Matemática.