Aos 11 anos, Natanael Santos teve que trocar a brincadeira pelo trabalho na zona rural de Euclides da Cunha, na Bahia. Foi um ano vivendo de maneira diferente de todos os seus amigos, até que teve a sua realidade transformada com o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti). Hoje, aos 14 anos, ele percebe no boletim escolar o progresso em sua vida.

“Antes eu tirava notas baixas, porque tinha que trabalhar e não tinha tempo de estudar. Hoje eu posso brincar e me dedicar aos estudos. Minhas notas agora são todas azuis”, afirmou Natanael.

Sua experiência foi revelada durante o lançamento da Caravana Estadual de Erradicação do Trabalho Infantil, realizado nesta quarta-feira (23), no auditório do Ministério Público, no bairro de Nazaré. Ele é um dos 110 mil baianos que não fazem mais parte da estatística do trabalho infantil.

Para ampliar esse número, representantes do poder público e de instituições ligadas aos direitos da criança assinaram um documento que permite a passagem da caravana por mais de 190 municípios do Semiárido baiano, atendendo cerca de 120 mil jovens até 2010.

Segundo o secretário estadual de Desenvolvimento Social e Combate à Pobreza, Valmir Assunção, o projeto tem como principal meta sensibilizar a sociedade civil.

“Essa é uma tarefa de governo, juntamente com a sociedade civil. Não podemos permanecer com esses números. Para isso, a sociedade precisa se conscientizar. Afinal, para acabar com o trabalho infantil é preciso combater a pobreza”, afirmou Assunção.

Para o representante do Unicef, Ruy Pavan, as estatísticas devem ser analisadas com cuidado, pois podem ter diversas formas de interpretação.

“Em números absolutos, de fato a Bahia tem um dos maiores índices. Mas, em termos proporcionais, o Paraná sai na frente. Tem que ter cuidado na análise desses números, porque pode ter uma conclusão precipitada. Vale ressaltar que na Bahia os índices estão caindo por causa das ações do governo. Esperamos que a caravana renda frutos e que as classes mais pobres tenham acesso à educação e às políticas públicas para equilibrar as pontas”, explicou.

O primeiro roteiro começa no próximo domingo (27) e vai até 9 de outubro, abrangendo 18 municípios do Território de Identidade do Semiárido Nordeste 2, como Euclides da Cunha, Banzaê, Cícero Dantas, Ribeira do Pombal e Antas.

Termo de doação de cisternas de emergência

Na ocasião, foi firmado um termo de doação de cisternas de emergência para 18 municípios do Semiárido baiano. Serão distribuídas 505 unidades. A ação é coordenada pelas Voluntárias Sociais da Bahia, em parceria com a Coordenação Estadual da Defesa Civil (Cordec). A iniciativa integra o pacto nacional Um Mundo para a Criança e o Adolescente do Semiárido, proposto pelo Unicef.

Para a presidente das Voluntárias Sociais e presidente do comitê gestor estadual do pacto, Fátima Mendonça, a doação vai ajudar a manter os alunos nas escolas.

“A ideia é todos se unirem e colocar cisternas nas escolas. Estamos dando uma condição melhor. O pacto este ano é que todas as escolas tenham cozinha, banheiro e água”, disse Fátima Mendonça.

As cisternas de emergência têm capacidade para armazenar oito mil litros de água, de carros-pipa ou da chuva.