Marisqueiras do entorno da Baía de Todos-os-Santos começaram a receber treinamento para o cultivo de algas em cativeiro. Ao todo, 64 mulheres das localidades de Manguinhos e Misericórdia, na Ilha de Itaparica, e do município de Saubara estão cadastradas no projeto, que terá duração de um ano e envolve não só as técnicas de cultivo, mas também de manejo, produção e comercialização.

Por meio da Secretaria Estadual da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária (Seagri), a Bahia Pesca vem executando o projeto Maricultura de Manejo de Algas como fonte de renda para comunidades da Baía de Todos-os-Santos, para o cultivo em escala comercial da gracilaria, tipo de alga comum no litoral brasileiro e no litoral baiano.

O primeiro treinamento começou a ser dado para 24 mulheres de Manguinhos, que fazem a capacitação em uma balsa de cultivo já instalada no mar. Outras 20 marisqueiras de Saubara e 20 de Misericórdia também devem começar a receber o treinamento ainda este mês. Nos primeiros três meses da capacitação, elas já poderão iniciar o cultivo, a partir das mudas que serão colocadas nas balsas.

Cada uma das três localidades selecionadas pela Bahia Pesca terá cinco balsas de cultivo. A primeira balsa já foi colocada em Manguinhos e deve receber as mudas de algas ainda este mês. As mudas são nativas da própria Baía de Todos-os-Santos. Em cada uma das balsas poderão ser empregadas, no mínimo, três famílias com capacidade para produzir, ao fim de três meses, até 600 quilos de algas secas.

Conhecimento

Quem já está inserida no projeto, como a marisqueira Cleide Santa Rita de Oliveira, 37 anos, de Manguinhos, a capacitação é uma oportunidade não apenas de renda, mas de conhecimento.

“A gente vai ter a oportunidade de trabalhar em conjunto e, principalmente, realizar negócios”, disse Cleide. Atualmente o quilo da alga seca está custando, em média, R$ 3 e o produto é utilizado pelas indústrias farmacêuticas, alimentícias e de cosméticos e como biocombustível.

O diretor-técnico da Bahia Pesca, Marcos Rocha, explicou que cada ciclo de cultivo dura, em média, três meses. Nesse período, a expectativa é que os primeiros cultivos estejam gerando resultados que permitam análises mais profundas para serem implantados em escala comercial.

Para a implantação dos projetos na Baía de Todos-os-Santos, os técnicos da Bahia Pesca tomaram como parâmetro os resultados de experiências bem-sucedidas com a alga gracilaria no Ceará e no Rio Grande do Norte, além de Ilha Bela, no Rio de Janeiro.

Na Baía de Todos-os-Santos, eles analisaram os bancos naturais de algas, profundidade e salinidade, observando que a região oferece condições propícias para a implantação do projeto.

Produção mundial

Em todo o mundo, são produzidos anualmente sete milhões de toneladas de algas para fins alimentícios e outras 300 mil toneladas para uso diverso pela indústria química. Os maiores produtores são a China, as duas Coreias, Japão, Filipinas e Indonésia. Na América do Sul, o maior produtor é o Chile. O Brasil desponta como grande exportador de algas, mas tem ainda baixa industrialização do produto.

Além dos fins alimentícios e indústria química, o cultivo de algas pode ser aproveitado como biocombustível na produção do etanol, na indústria de cosméticos, na produção de sabonetes e cremes, na bebida, associadas a sucos de frutas, e na indústria farmacêutica.