Os painéis de azulejo da Igreja da Misericórdia, raros e de grande valor artístico e histórico, foram entregues no sábado (21), em solenidade no Museu da Misericórdia, Centro Histórico de Salvador. Os três painéis, que compõem a decoração da nave da igreja, passaram por uma restauração que durou quatro meses. O ato marca o início das comemorações dos 460 anos da Santa Casa de Misericórdia.

Segundo o técnico de conservação e restauração, Edson Félix, para devolver a aparência original aos azulejos, a equipe precisou utilizar ferramentas como bisturi, seringa, pincel, espátula e lâmina. “Para que os originais não se perdessem, foi preciso um trabalho artístico e minucioso. Nada é criado, tudo é original. Tudo isso depende de estudos, técnica e dedicação”, explicou.

Criados em Lisboa por Antonio de Abreu, os painéis de azulejo retratam cenas religiosas, como a Procissão do Fogaréu, uma cerimônia realizada na quinta-feira da Semana Santa nos séculos 18 e 19. O outro painel que também foi recuperado retrata a Procissão dos Ossos, realizada para recolher os corpos de escravos e pessoas pobres abandonados nos matagais e rios e que porventura viessem a ser expostos.

A Procissão dos Ossos aconteceu pela última vez na Bahia em 1825. Estudiosos avaliam esses painéis como dos mais importantes do país. Os outros painéis retratam a Procissão do Fogaréu, que dramatiza a perseguição a Jesus para a crucificação, e a tradicional Procissão do Senhor Morto.

“Esta é mais uma cultura baiana preservada e que retrata a história e os costumes de uma época. Por meio destes painéis é possível conhecer como aquelas procissões eram realizadas, o que hoje já não existem mais. É importante apresentarmos esta história aos brasileiros”, afirmou o secretário estadual de Cultura, Márcio Meirelles, que representou o governador Jaques Wagner na solenidade.

A restauração é uma realização da Santa Casa de Misericórdia da Bahia coordenada pela Associação Espírito Santo Cultura e patrocinada pela Fundação Calouste Gulbenkian, com supervisão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), com investimento de 180 mil euros (cerca de R$ 463 mil).

Durante o evento foi assinado um aditivo ao contrato original entre a Santa Casa com as instituições portuguesas, que visa a recuperação completa do teto (com pinturas em encaixes de madeira) e altar. No total, serão investidos R$ 9 milhões, com aporte financeiro de Portugal, buscando também recursos através da Lei Rouanet.