Saia de ração ou axó, coloridas, brancas, de algodão ou de richelieu. Batas, camisus, torço ou ojá. Panos-da-costa ou alaká. Aprender a confeccionar esses trajes especiais para atender à demanda do Povo de Santo foi o que fizeram os jovens da comunidade de São Gonçalo do Retiro, bairro carente de Salvador, ao participar do curso de Arte e Costura Afro.

A ação é da Secretaria de Desenvolvimento Social e Combate à Pobreza (Sedes), em parceria com a Associação Solidários pela Vida (ASV). Durante o curso, realizado este ano, os alunos aprenderam que todos esses trajes portam técnicas seculares de corte e costura e estão para além da moda ou elementos decorativos.

São indumentárias ligadas ao uso sagrado nos rituais do Candomblé, que consagram as personalidades dos orixás ou simbolizam os laços emocionais com uma pátria, da qual foram arrancados os ancestrais da diáspora negra. “Muita gente usa o ojá e não sabe o sentido disso”, ressaltou o aluno de corte e costura afro, Leonardo Fernandes, 21, referindo-se ao torço que as religiosas de matriz africana usam na cabeça.

Segundo o jovem, não é comum um curso de corte e costura especificamente voltado para os costumes de povo de Terreiro. “Foi uma oportunidade de conhecer melhor sobre a cultura afro-baiana e a indumentária de cada orixá”. Assim como outros alunos, ele pretende, em breve, comprar uma máquina de costura para garantir a sua autossustentabilidade e contribuir com a preservação dos costumes das comunidades de terreiro.

Reafirmação

“Ensinar e aprender a confeccionar esses figurinos também é religião”, disse a ekedi (cargo feminino de grande valor no terreiro) e professora do curso, Terezinha Bárbara Ferreira. Ela destaca que esta é uma oportunidade de muitos jovens negros e pobres reafirmarem suas origens e resgatarem a história construída pelos seus ancestrais.

O projeto, orçado em aproximadamente R$ 144 mil, além de corte e costura afro, também desenvolve várias outras oficinas ligadas à cultura afro-baiana como artesanato em palha da Costa, macramé, bordados e aproveitamento de retalhos. Além disso, os 80 jovens beneficiados com o projeto foram capacitados em gestão de cooperativismo, monitoramento da produção e comercialização dos produtos.

“Essa ação faz parte da política de juventude do Estado, cujo objetivo maior é ensinar aos jovens, a transformar essas oportunidades em crescimento e protagonismo”, enfatizou a superintendente de Inclusão e Assistência Alimentar da Sedes, Ana Torquato.

“Somos guerreiros. Investir em gente não é fácil, porque temos que vencer muitos obstáculos até construir uma alternativa”, afirmou a presidente da ASV, Terezinha Simoa, referindo-se à vitória sobre as influências às quais as juventudes pobres estão sujeitas no seu dia a dia como o tráfico de drogas e outros tipos de violência.