Diretamente da África para o Pelourinho, a Galeria Solar Ferrão comemora o Dia da Consciência Negra com a abertura da mostra internacional Luanda I Smooth and Rave (Luanda I Suave e Frenética). A exposição, sob a curadoria de Fernando Alvim, será lançada às 19h desta sexta-feira (20) e marcará o início dos eventos prévios da 2ª Trienal de Luanda no Brasil, que será realizada em 2010.

O evento, promovido em Salvador pela Diretoria de Museus do Ipac (Secult/ BA), Fundação Sindika Dokolo e Soso Arte Contemporânea Africana, apresenta produções artísticas atuais, com criações em vídeo, instalação e fotografias dos artistas africanos Ihosvanny, Cláudia Veiga, Kiluanji e Yonamine.

A exposição

Luanda I Smooth and Rave (Luanda I Suave e Frenética) chega com o objetivo de difundir e contribuir para a legitimação dos fenômenos artísticos criados no continente africano. “Para o público local, é uma chance rara – e, tenho certeza, surpreendente –, de conhecer o trabalho de jovens artistas angolanos com amplo trânsito entre a Europa e África, todos conectados com temáticas e estéticas contemporâneas que muito se assemelham às tensões que impulsionam os artistas daqui”, afirma o diretor de Museus do IPAC, Daniel Rangel. “Este projeto orgânico e emocional propõe uma plataforma que assenta na ausência de um epicentro de análise, permitindo observar as mutações da história recente de uma cidade generosa e inclusiva”, considera o curador, Fernando Alvim, diretor da Trienal de Luanda e vice-presidente da Fundação Sindika Dokolo.

Além de desconstruir uma percepção exótica a respeito da África, a mostra pretende apresentar Luanda e sua trajetória a partir dos olhares diversos dos quatro artistas. As 13 obras que serão expostas na Galeria Solar Ferrão expressam as transformações sociais vivenciadas na cidade e as tensões causadas por um passado colonial recente, já que só em 1975 Angola tornou-se independente. “Na mostra, vemos um país que está se formando dentro de um contexto globalizado. As cores da África são representadas, mas esse não é o ponto de tensão principal das obras, pois os trabalhos tratam de temas contemporâneos, como a relação com a cidade, o patrimônio e a sociedade”, explica Rangel.

Sobre os artistas

Os quatro artistas que irão expor na Galeria Solar Ferrão nasceram em Angola, na década de 70, e acompanharam a reestruturação de um país recém-independente. Participaram, em 2007, do Primeiro Pavilhão Africano na 52ª Bienal de Veneza, com o projeto “Check List – Luanda Pop”. Cláudia Veiga é formada em Arquitetura de Interiores e em Fotojornalismo. Entre 2005 e 2008, foi coordenadora de Imagética da Fundação Sindika Dokolo. Já Ihosvanny é autodidata e promoveu, em Havana, as exposições individuais “Simbiosis”, na Associação de Beneficiários da Catalunha, em 2003, e “A Ritmo de tambor”, na Galeria Frida Khalo, em 2002, além de ter participado das coletivas “INPUT – Coleção Sindika Dokolo”, no Museu Nacional de História Natural (2008), e “BAI Arte 2005”, na Sede do Banco Africano de Investimentos, ambos em Luanda.

Kiluanji tem explorado áreas artísticas como teatro e música e atualmente vem se dedicando à fotografia. Em 2006, participou da Feira Internacional de Arte Contemporânea (ARCO), em Madrid. Expôs também na 3ª Trienal de Guangzhou, no Museu de Arte de Guangdong, na China, em 2008. Sua produção artística já foi vista por públicos da Alemanha, Itália e África do Sul.

A primeira Trienal de Luanda, em 2007, teve um papel fundamental na formação do artista plástico Yonamine, que este ano expôs na 9ª Bienal de Sharjah, em Dubai, um dos maiores eventos culturais do mundo árabe. Participou também, junto com artistas angolanos, brasileiros, cabo-verdianos e moçambicanos, da exposição “Réplica e Rebeldia”, que foi promovida em cidades do Brasil, Moçambique e Cabo Verde.

A 2ª Trienal de Luanda

Com o tema Geografias Emocionais, Arte e Afetos, a 2ª Trienal de Luanda está estruturada a partir de sete áreas: Artes Visuais, Arquitetura, Projetos, Arte Pública, Artes Cênicas, Exposições e Cidades. O evento, programado para o período de setembro a novembro de 2010, se estende para além de Angola, envolvendo ações que serão realizadas em 30 cidades, em países diversos. Luanda, por exemplo, vai receber a exposição brasileira Três pontes, montada para essa trienal, com curadoria de Daniel Rangel. Ayrson Heráclito, Dedé, Denissena, Eneida Sanches, Gaio, Ieda Oliveira, Marcondes Dourado, Naum Bandeira e o Grupo GIA estão entre os nomes confirmados para a mostra, que pretende atualizar a visão africana em relação à Bahia contemporânea.

O curador

Fernando Alvim, curador desta exposição e da II Trienal de Luanda no Brasil, é um dos principais responsáveis pela divulgação da arte contemporânea africana. Artista múltiplo, foi um dos curadores do Pavilhão da África na 52ª Bienal de Veneza e da exposição África Remix, que percorreu os principais centros de arte do mundo. Atualmente é também o vice-presidente da Fundação Sindika Dokolo em Angola, que detém uma das maiores coleções de arte contemporânea africana e é a realizadora da Trienal de Luanda.