Em 1944, o cenário teatral brasileiro assistiu a criação do Teatro Experimental do Negro (TEN), idealizado, fundado e dirigido por Abdias Nascimento, um dos maiores ícones brasileiros na luta pela igualdade racial e direitos humanos, com o objetivo de valorizar a participação do negro neste ramo das Artes. Atualmente, as ideias pioneiras de Abdias ainda são postas em prática por diversos grupos teatrais como o Bando de Teatro Olodum.

Para homenagear o criador do TEN, um dos principais representantes da luta contra o racismo no país, a Fundação Pedro Calmon, autarquia da Secretaria de Cultura do Estado (Secult) realizará mais um encontro do projeto Segundas da Literatura Negra, na segunda-feira (16), às 14h30, na Biblioteca Juracy Magalhães Jr., no Rio Vermelho.

Com o tema Dramaturgia Negra, o encontro contará com a participação do ator do Bando de Teatro Olodum, Érico Brás, o Reginaldo da série Ó paí, ó e da mestre em Estudos de Linguagens da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), Lindinalva Barbosa. O Grupo de Teatro Omi Dudu fará uma apresentação para encerrar a atividade.

Durante o evento, o público poderá conferir leituras da obra de Abdias feitas pelo ator Érico Brás. Além de peças teatrais, o ativista social é autor de livros de poemas e de reflexões sobre a realidade racial brasileira. “Ele é um dos pioneiros do Teatro Negro no Brasil, rompeu com uma série de barreiras e abriu as portas para que a gente pudesse fazer teatro hoje em dia”, diz Brás, referindo-se à criação do Teatro Experimental do Negro.

A experiência criada por Abdias trabalhava pela valorização social do negro no Brasil, aliando educação, cultura e arte. “Abdias tem uma importância muito grande para a cultura afrobrasileira. Ele participou praticamente de todo o processo de organização do Movimento Negro, desde a década de 30”, ressalta Lindinalva Barbosa. Como tema da tese de mestrado, a pesquisadora analisou a única publicação em versos do dramaturgo – Axés do Sangue e da Esperança: Orikis.

Homenageado

Abdias Nascimento foi um dos fundadores da Frente Negra Brasileira, movimento social iniciado em São Paulo. Além de participar intensivamente no teatro, é autor de livros como Sortilégio, Dramas Para Negros e Prólogo Para Brancos, O Negro Revoltado, entre outros.

Nas últimas décadas, esteve envolvido com as conquistas sociais dos negros, sobretudo na área teatral. “É inegável que, ao longo do século 20, Abdias assume um papel importante na luta antirracista”, enfatiza Lindinalva Barbosa.

Segundas da Literatura Negra

O projeto é realizado pela Fundação Pedro Calmon e, durante este mês, celebrará a Consciência Negra, promovendo encontros gratuitos com pesquisadores, especialistas e representantes da música e do teatro sobre temas que evidenciam as lutas e conquistas do povo negro por meio da literatura.

Os próximos encontros debaterão os temas “Literatura Negra, Direito e Reparação” e a “Música Negra”, com a participação do promotor de Combate à Discriminação do Ministério Público da Bahia, Almiro Sena, o poeta e educador Hamilton Borges, o pesquisador da música negra, Ari Lima e os cantores e compositores Dão e Lazzo Matumbi.