Duas toneladas de tilápias criadas em tanques-rede da Bahia Pesca, no município de Caculé, a 700 quilômetros da capital, chegaram ao mercado consumidor da Região Metropolitana de Salvador, na quinta-feira (5). Os peixes foram adquiridos pelo empresário Fernando Kassato, de Mata de São João, à Associação dos Pescadores da Barragem do Truvisco, que mantém na região uma produção estimada em 16 toneladas de pescado em cativeiro.

Implantado no final do ano passado, o projeto de cultivo de peixes em tanques-rede, feito pela Secretaria da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária (Seagri), por meio da Bahia Pesca, em parceria com a Universidade Estadual do Sudoeste (Uesb), atende a 25 famílias de pescadores no município de Caculé, que vivem da pesca no lago da Barragem do Truvisco.

Na barragem foram colocados 40 tanques-rede, que receberam os alevinos no início deste ano, levados da Estação de Piscicultura que a Bahia Pesca mantém em Jequié. A primeira despesca (quando o peixe em tamanho adulto é capturado depois de seis a oito meses de criação) possibilitou a comercialização de 1.834 quilos de peixes, destinados ao comércio local e dos municípios de Licínio de Almeida e Jacaraci.

Contudo, foi a primeira vez que os pescadores conseguiram realizar a venda única de duas toneladas de pescados para um único comprador fora da região. “Com isso, abrimos mercado e podemos hoje vender tilápias para todo o estado”, comemorou o presidente da associação, Manoel Neri de Oliveira, 59 anos.

Além de Caculé, a Bahia Pesca, em parceria com a Uesb, mantém unidades de cultivo de peixes em tanques-redes nos municípios de Anagé, Vitória da Conquista, Caraíbas, Tremedal, Paramirim, Ibiassucê, Jequié, Maracás e Floresta Azul, todos na região sudoeste do estado. Um tanque-rede pode produzir, ao fim do ciclo de alevinagem (entre seis a oito meses) de 700 quilos a uma tonelada de pescados, cujos peixes pesam, cada, entre 700 a 900 gramas, em média.

Comercialização

Este ano, de maio até o final de outubro, quando foram iniciadas as despescas, nos projetos mantidos pela Bahia Pesca, na região sudoeste, foram comercializados nos 10 municípios, 9.456 quilos de peixes, além duas toneladas vendidas em Caculé. À exceção da venda feira para um empresário de Mata de São João, todo o pescado foi comercializado nos municípios da própria região.

O maior produtor este ano foi Anagé, que já comercializou 10,5 toneladas de tilápias, seguido de Ibiassucê (7,8 toneladas), Caculé (7,8 toneladas), Paramirim (6,8 toneladas), Caraíbas (6,5 toneladas), Vitória da Conquista (2,7 toneladas), e Jequié e Maracás, que, juntos, produziram 6,5 toneladas. Em Floresta Azul, a previsão da primeira despesca é para fevereiro a marco de 2009.

O cultivo de peixes em tanques-rede é um dos principais projetos implantados pela Bahia Pesca. Em menos de um ano, de janeiro até agora, mais de mil unidades já foram implantadas, beneficiando, diretamente, mais de 30 municípios.

Além dos tanques-redes, a Bahia Pesca utiliza a técnica de peixamento em aguadas públicas. “É um processo de custo baixo, com bom rendimento em curto espaço de tempo. A piscicultura é a saída para o pequeno produtor rural, que muitas vezes sofre os prejuízos na agricultura, mas encontra no cultivo de peixes em cativeiro uma alternativa para a produção de alimentos”, diz o presidente da Bahia Pesca, Isaac Albagli.

Pescadores consideram o começo de um longo processo

Coube às pescadoras Geisa Correia de Brito, 21 anos, e Silvana da Silva Cruz, 29, a tarefa de fazer as anotações de cada carregamento de tilápia que era retirado dos tanques-redes e colocado no caminhão com destino ao município de Mata de São João. Munidas de calculadora e balança de precisão, elas são as contadoras da associação, em todo processo de comercialização ao longo do ano.

Filha do pescador José Fernando de Brito, 53 anos, Geisa diz que faz de tudo, desde a alimentar os alevinos nos tanques-rede com ração, a exames de biometria, seleção e repicagem dos peixes. “O nosso maior trabalho é evitar a ação dos predadores, traíras, piranhas e aves. Mas quando a gente vê o resultado vale a pena todo o esforço”.

Num trabalho que começou às 5h e foi até o meio-dia, os 25 pescadores esvaziaram três tanques-rede, cujos peixes foram colocados em grandes vasilhames com gelo e transportados para o caminhão frigorífico da Bahia Pesca.

“Para a gente, isto aqui é mais que uma festa. É a nossa fonte de renda futura”, disse o pescador Luiz Carlos Guerra, 42 anos, com uma tilápia que chegou a pesar 1,8 quilos. Os peixes que foram comercializados na quinta chegaram a pesar mais de um quilo, o que é considerado um excelente resultado em se tratando de tilápia, cujo peso médio é de 800 gramas.

Os pescadores acreditam que com a venda, outros empresários de dentro e de fora do estado venham a se interessar pela produção na região. “Isto apenas é o começo de um longo processo”, diz o presidente da associação, Manoel Neri de Oliveira, esperando que mais pescadores sejam inseridos no projeto.