O mercado de trabalho da Região Metropolitana de Salvador (RMS) é o segundo mais exigente do país na hora de contratar. O tempo de estudo se sobressai como o mais importante dos pré-requisitos exigidos pelos empregadores, seguido de experiência profissional. As informações são do Boletim Especial sobre Estratégias de Procura do Trabalho, Uso do Seguro-Desemprego e Qualificação Profissional na Região Metropolitana de Salvador, realizado pela Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED).

Segundo o documento, de maio a outubro de 2008, um total de 1,461 milhão de pessoas com 14 anos ou mais fizeram parte do contingente de ocupados na RMS, dos quais 73,2% foram identificados como assalariados. Em 61,2% dos casos de emprego, foram exigidos níveis específicos de escolaridade. A segunda mais importante exigência, ocorrida em 34,6% das contratações, foi a experiência anterior.

Entre as seis regiões pesquisadas pela PED – São Paulo, Salvador, Porto Alegre, Recife, Belo Horizonte e Distrito Federal -, a Região Metropolitana de Porto Alegre é onde se exige mais pré-requisitos dos trabalhadores, em 80% dos casos a contratação esteve sujeita ao atendimento de exigências. A RMS aparece em segundo lugar, com taxa de 74%, superior à da Região Metropolitana de São Paulo (68,4%), na terceira posição.

O Boletim Especial foi elaborado a partir da Pesquisa Suplementar Informações para o Sistema Público de Emprego, Trabalho e Renda, realizado pelas instituições do Sistema PED em parceria com o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), entre os meses de maio a outubro de 2008.

Na Região Metropolitana de Salvador (RMS), este trabalho se concretizou com os esforços da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), autarquia da Secretaria do Planejamento (Seplan), da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (Setre), da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

Rede de contatos é importante meio para colocação no mercado de trabalho

A rede de contatos pessoais, por meio de parentes, amigos ou conhecidos, foi decisiva para 63,5% dos assalariados conquistarem seus atuais postos de trabalho. Em seguida, os contatos diretos com o empregador, 19,7%, e o engajamento em concursos públicos, 12,6%, sendo que este percentual passa para 64,6% quando se trata especificamente do emprego público, foram formas utilizadas para a obtenção do trabalho em empresas, órgãos públicos ou domicílios.

Em menor proporção, as estruturas especializadas para a intermediação da força de trabalho foram utilizadas por 4,3% dos trabalhadores assalariados. A quantidade de empregados que relataram ter obtido o trabalho atual por meio de contatos pessoais foi mais elevado entre os trabalhadores domésticos, 95,7%, seguido do setor privado, 67,7%, e do setor público, 26,5%.

Escolarização é principal condição para a obtenção de emprego

As condições requeridas dos assalariados foram, principalmente, de níveis específicos de escolaridade, 61,2%, e experiência profissional, 34,6%. Em menor medida, aparece a necessidade de comprovar a realização de cursos ou deter conhecimentos específicos, 28,0%.

A escolarização é muito requerida para aqueles que se engajam pela via do concurso público, 95,3%, e por meio de agencias privadas de intermediação, 90,4% e postos públicos de intermediação, 86,1%. Já a experiência de trabalho é mais cobrada entre os que se utilizaram do contato direto com o empregador, 47,5%, e pelos que o fizerem por intermédio de parentes, amigos ou conhecidos, 35,1%. Já cursos e conhecimentos específicos foram mais exigidos nas seleções realizadas diretamente pelos empregadores, 40,6%.

No setor privado, as exigências de níveis específicos de escolarização foram critério definidor para 63,3% dos contratados e a experiência anterior de trabalho foi um crivo para 42,9%. No setor público, a escolarização foi exigência para 87,7% dos assalariados, enquanto cursos ou conhecimentos específicos foram requeridos de 24,6%. Além disso, a proporção de servidores públicos para os quais experiência anterior foi decisiva na contração alcançou 12,7%.

O emprego doméstico responde por parcela expressiva da ocupação metropolitana, 8,4%, constituindo-se, na maior parte dos empregos, em espaço de absorção da força de trabalho de mulheres negras. Neste caso, as exigências se restringem exclusivamente a experiência anterior, 21,0%.

População da RMS é a terceira que mais busca qualificação

A pesquisa reitera a importância da qualificação profissional para a inserção no mercado de trabalho ao apresentar indicadores como taxas de desemprego mais baixas e rendimentos maiores para os segmentos mais qualificados.

Nos últimos três anos, 27,1% da população com 14 anos e mais de idade na Região Metropolitana do Salvador participou de cursos destinados à qualificação profissional. Este percentual se aproxima muito do identificado na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), 27,3%, e está aquém do observado no Distrito Federal, 36,8%, à frente das demais regiões pesquisadas.

Conforme a inserção ocupacional e condição socioeconômica, é maior o contingente daqueles que buscaram qualificação nestes últimos três anos entre os atuais desempregados, 40,1%, seguidos dos ocupados, 32,3%, e inativos, 14,7%. Em qualquer uma dessas inserções, é certa a relação entre iniciativas de qualificação e renda disponível por membro da família. Mais de dois terços dos desempregados do grupo de maior patamar de renda familiar per capita participaram de cursos formativos, em face de apenas 29,5% dos desempregados do grupo de menor rendimento médio per capita.

Além da renda e dos atributos pessoais, outra variável que mantém relação próxima com a qualificação profissional por cursos ou treinamento é a escolaridade, o que se evidencia com a incorporação de recortes de renda. Quanto maior a escolaridade, maior o percentual de participação em cursos preparatórios para o trabalho, o que se acentua com o ensino médio completo e níveis de renda mais elevados.

As razões para não qualificação na RMS, particularmente daqueles residentes que demonstram necessidade e interesse, recai sobre dois obstáculos: a falta de recursos 27,8% e a falta de tempo 17,5%. A ausência das condições mínimas para o financiamento de ações formativas aflige mais acentuadamente àqueles que se inserem em agrupamentos familiares de menor renda, 44,2% do grupo de menor renda, enquanto a escassez de tempo foi registrada em maior proporção entre indivíduos que contavam com a maior disponibilidade de renda de suas famílias 23,9%, no grupo de maior renda.

Uso do Seguro-desemprego na Região Metropolitana de Salvador

Na RMS, 15,5% dos residentes com idade igual ou superior aos 14 anos utilizaram o suporte financeiro dado pelo seguro-desemprego em algum momento ao longo dos últimos oito anos. Até outubro de 2008, um contingente de 440 mil pessoas serviram-se deste mecanismo para sustentação temporária de renda, no período compreendido entre janeiro de 2000 e outubro de 2008.

Balizado o volume de postos de trabalho perdidos (1,5) que, a princípio, habilitam ao recebimento das parcelas do seguro-desemprego, foi observado que o número médio de uso desse benefício ficou bem mais restrito (1,3 vezes).

Entre as razões que limitaram o acesso efetivo ao seguro-desemprego pelos trabalhadores da RMS, estão o fato de o tempo de permanência no posto perdido não alcançar o limite mínimo de 6 meses, 30%, seguido por Outros Motivos, 26,5%, e devido ao afastamento do trabalho ter ocorrido por iniciativa do empregado, 15,4%. Já a finalização de contratos temporários de trabalho motivou o não recebimento do seguro por 14,2% dos trabalhadores que perderam postos assalariados regulamentados.

Quando esta população usuária do seguro-desemprego é examinada sob a perspectiva de sua inserção econômica atual, destaca-se que foi de maior expressão daqueles que utilizam ou utilizaram este instrumento entre os ainda economicamente ativos, 13,8%. Esta situação, por sua vez, decorreu da proporção mais elevada dentre os trabalhadores atualmente ocupados, 10,3%, que acumulam perdas de postos assalariados com carteira de trabalho assinada nos últimos oito anos.

Dentre os desempregados, que no momento das entrevistas pressionavam a estrutura produtiva da RMS buscando uma oportunidade de trabalho, apenas 3,5% estavam usando ou usaram o seguro entre 2000 e 2008. Entre os inativos, esta proporção era de 1,7%.