O projeto de Mapeamento dos Espaços de Religião de Matriz Africana no Território de Identidade do Recôncavo foi lançado nesta quinta-feira (21), Dia Nacional de Combate a Intolerância Religiosa, pela Secretaria de Promoção da Igualdade (Sepromi). O evento foi realizado na Biblioteca Municipal da cidade de Cruz das Almas e reuniu prefeitos, secretários, gestores municipais, vereadores e representantes de comunidades de terreiro dos 19 municípios do Território.

O projeto é realizado a partir dos convênios firmados entre a Sepromi e a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), em parceria com as prefeituras e organizações da sociedade civil dos municípios envolvidos.

Segundo o consultor do projeto de Mapeamento, Jocélio Teles Santos, esta é uma experiência pioneira no âmbito estadual, que propõe o levantamento de dados para a criação de políticas públicas direcionadas a estas comunidades. Jocélio, que também coordenou iniciativa semelhante em Salvador, acredita que este mapeamento também possibilitará uma maior visibilidade para as comunidades e suas demandas nas questões socioeconômica, cultural e ambiental.
Para a secretária de Promoção da Igualdade, Luiza Bairros, com este projeto o Estado poderá trabalhar para atender as demandas especificas, ainda não pontuadas. Desta mesma forma, objetiva-se amenizar os anos de discriminação do Estado para o povo de santo.

Intolerância – Na oportunidade, Luiza aproveitou para relembrar os dez anos da morte de Mãe Gilda, o caso mais conhecido de Intolerância Religiosa no estado. A yalorixá adoeceu e veio a falecer depois de ter sua foto publicada, como capa do jornal Folha Universal, da Igreja Universal do Reino de Deus, com o título Macumbeiros charlatões lesam o bolso e a vida dos clientes. A família de Mãe Gilda entrou com ação na justiça, que condenou a Igreja Universal, em agosto de 2009, a pagar uma indenização.

“Só assim saberemos quantos e quem somos nesta região, para nos organizar e exigir soluções para as necessidades, como a isenção dos impostos. Se outra religião construir um templo, ela tem isenção. Mas se formos construir uma casa, mesmo que seja na favela, temos que pagar imposto”, disse Raimundo Gilberto de Pinho, Tateto Inkise do Terreiro Cafungê Navilla, de Nazaré das Farinhas.

Raimundo ainda acrescenta que a família de Santo é muito grande, assim como a necessidade de respeitabilidade. “Seja aos ancestrais, aos mais velhos, à natureza. E isto tem que vir da sociedade, das outras religiões e das autoridades. Precisamos respeito ao nosso espaço, às nossas folhas sagradas, as águas”.

Pesquisa deve durar 15 meses.

Iniciado em dezembro de 2009, com a publicação do edital de seleção de 20 estudantes para desenvolver a pesquisa de campo, o Projeto de Mapeamento deverá ser concluído em 15 meses. Abrangendo os espaços religiosos dos Territórios de Identidade do Recôncavo Baiano e do Baixo Sul, os dados coletados serão disponibilizados em uma publicação e na internet.

As pesquisas coletarão informações sobre origem e história dos espaços, nação a que pertencem, tempo de fundação, trajetória de resistência, perfil das autoridades religiosas, condições físicas e infraestrutura, recursos ambientais, além de levantar subsídios para construção de ações governamentais.

“Meu terreiro precisa de vocês, então devemos aproveitar a oportunidade para lutarmos juntos para fazer com que tudo aconteça”, disse Genilde Cerqueira de Amorim, Mãe Cacho do Terreiro Ilê Ibecê Alaketu Axé Ogum Megege, de Governador Mangabeira. De acordo com o prefeito de Cruz das Almas, Orlando Filho, este é um momento importante para a cultura da região, tendo em vista que o Recôncavo é um território de tradições afro-brasileiras marcantes.

No Recôncavo, as entrevistas serão realizadas de fevereiro a agosto, nos municípios de Varzedo, Santo Antônio de Jesus, Muniz Ferreira, Nazaré, Dom Marcedo Costa, Conceição do Almeida, Castro Alves, Sapeaçu, Muritiba, Cruz das Almas, São Felipe, Maragojipe, Saubara, São Felix, Cachoeira, São Francisco do Conde, Santo Amaro, Governador Mangabeira e Cabaceiras de Paraguaçu.

A coordenação do projeto pretende lançar o Mapeamento no Território do Baixo Sul até o final de fevereiro, nas cidades Camamu, Igrapiúna, Pirái do Norte, Gandu, Wenceslau Guimarães, Teolândia, Presidente Tancredo Neves, Valença, Jaguaripe, Aratuípe, Valença, Cairu, Tapeorá, Nilo Peçanha e Ituberá.