O acajutibense Ademir Ramos da Silva, 59 anos, conhecido como Gavião, há 10 anos encontra-se no Conjunto Penal de Jequié. Há um ano e cinco meses ele utiliza as horas fora da cela para cuidar do viveiro florestal que existe no local. “Eu nunca tinha tido contato com terra, mas tinha vontade de aprender. Na cela eu fico agoniado, já no viveiro, sinto o contato com a natureza. Pra mim, o viveiro é uma incubadeira e eu cuido com amor”, disse.

Assim como Gavião, outros 40 detentos, muitos já em liberdade, passaram pelo viveiro construído no presídio. O projeto existe desde março de 2009 e tem o suporte técnico da Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema), que auxilia os internos na produção de mudas, além de informar técnicas de clonagens de produtos.

O viveiro florestal ocupa uma área de mais de 300 metros quadrados e já conta com 20 mil mudas de espécies nativas, exóticas e frutíferas. O dinheiro obtido na venda das mudas é revertido para investimento no próprio viveiro e uma porcentagem é repassada para os detentos.

Pioneirismo 

De acordo com o coordenador da Pastoral Carcerária de Jequié Francisco Fernandes, a ideia da criação do viveiro surgiu como uma forma de estender as atividades aos internos. “Nós vamos a passos de formiguinha, reconhecemos a importância da atividade, da ocupação para a mente deles”. Segundo Fernandes, o viveiro florestal no presídio de Jequié é pioneiro no país.

De acordo com o técnico da Sema, João Barros, a iniciativa surgiu com o objetivo de plantar 100 mil mudas anuais, mas hoje a produção chega a 8 mil mudas mensais. Ele informa que as mudas são repassadas para produtores rurais, prefeitura e para pessoas da comunidade interessadas na recuperação de áreas degradadas, na formação de bosques, pomares e árvores frutíferas.

Para o agente penitenciário David Marques, que trabalha há onze anos no presídio, o viveiro tem uma importância para os detentos, já que obtêm conhecimento técnico e ambiental, além de se tornarem pessoas mais sociáveis. “Esta é uma oportunidade deles criarem uma perspectiva do amanhã. É como terapia ocupacional e tem sido responsável pela queda de ociosidade entre eles”, pontuou Marques.

Detentos ganham compensação de um dia na pena por três trabalhados

A cada três dias trabalhados no viveiro florestal, os internos têm um dia de redução na pena. Alexandro Sampaio, 32 anos, foi um dos beneficiados. Ele esteve no presídio por 11 anos e ao trabalhar na produção das mudas, teve a pena reduzida. “Eu tinha curiosidade de conhecer como se formavam determinadas espécies. Achava que era por enxerto, mas percebi que ela nasce naturalmente quando regada e reservada da luz”, narra entusiasmado com o aprendizado.

Em liberdade e com experiência adquirida, Alexandro dedica boa parte do seu tempo a propagar, em escolas e seminários, a importância de preservar o meio ambiente. “Eu divulgo para que esse trabalho não desapareça”, defendeu. Alexandro conta ainda que, com o plantio, percebeu a importância do homem interagir com a natureza. “Eu não sabia o que significava exótica e nativa, não passava pela minha cabeça que esse papel branquinho vinha de uma árvore”, conta.

Prestes a recuperar a liberdade e cheio de ansiedade para reencontrar a família, Antônio Reis Moreira, 38 anos, conta que já tinha um pouco de experiência com plantação, mas que trabalhando no viveiro pode aprimorar os conhecimentos. Quando o assunto é cultivo de frutas, ele fala com empolgação. “Frutíferos é preferência. Eu também não sabia trabalhar com clonagem e hoje já sei”, conta ele, que diz ainda que pretende usar o espaço ao fundo da casa, quando tiver em liberdade, para investir na produção de frutas.