“Uma farda e a garantia de alimentação enquanto estamos trabalhando muda toda a nossa situação. Esse apoio que recebemos do governo é muito importante. Sem o fardamento somos tratados como mendigos. Fardados, as pessoas nos enxergam como nós somos de verdade, trabalhadores”.

A declaração de dona Maria Bárbara, 46 anos, demonstra o impacto que a Campanha “O Trabalho Decente preserva o meio ambiente” causa aos catadores de resíduos sólidos durante o Carnaval de Salvador.

Realizada há três anos consecutivos, por meio da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (Setre), a campanha, que é executada pelo Complexo de Cooperativas de Reciclagem, consiste em oferecer benefícios como fardamento, alimentação e equipamentos individuais de proteção para as pessoas que trabalham como catadores de resíduos sólidos nos cinco dias de festa.

Este ano, além disso, uma linha de crédito especial, no limite de R$ 75 mil, foi disponibilizada para o complexo de cooperativas, com a finalidade de comprar os resíduos coletados pelos catadores por um preço justo. Cada posto oferecia R$ 1,30 por quilo de latinha de alumínio e tem o papel de agir como agente regulador.

“Esses homens e mulheres desempenham uma atividade fundamental para o bom andamento do Carnaval, mas são pouco reconhecidos. A campanha busca oferecer condições mínimas para exercerem seus trabalhos de forma digna e com chances de ganhos reais”, afirmou o superintendente de Economia Solidária da Setre, Helbeth Oliva, que ainda destacou a possibilidade das cooperativas que atuam no setor de reciclagem passar por processos de incubação e outras ações ao longo do ano.

Cinco postos de coleta e armazenamento estavam distribuídos nos dois principais circuitos da festa, realizando uma média de 500 atendimentos por dia cada. Nos postos, os catadores recebiam orientação dos colegas que já atuam em cooperativas para se organizar em cooperativas ou associações e, após serem cadastrados, recebiam o fardamento e alimentação.

“A única diferença entre nós e os outros catadores é o fato de já estarmos organizados, e isso nos possibilita acesso a diversas coisas. Os catadores avulsos nos escutam, porque sabem que conhecemos a sua realidade. Eles estão percebendo que uma farda oferecida no Carnaval abre portas. Imagine outros benefícios que eles não têm acesso pelo fato de não estarem organizados?”, questionou Moisés Basílio, da Cooperativa Amigos do Planeta, que coordenou o posto do Dois de Julho.

Este ano, a campanha coletou aproximadamente 50 toneladas de resíduos sólidos, transformando o que seria lixo em trabalho e geração de renda para centenas de pessoas.