No penúltimo dia de carnaval, o circuito Dodô (Barra-Ondina) foi passarela para o desfile de mais dois trios do programa Carnaval Pipoca, da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (Secult). Primeiro, durante o pôr-do-sol, o ritmo do reggae invadiu a avenida com o Trilogia do Reggae. Já à noite, o trio Retrofolia 2010 fez o público se divertir ao som de música instrumental. Tendo como objetivo a diversificação de atrações e estilos presentes no carnaval de Salvador, e o oferecimento de qualificadas opções para o folião-pipoca, o Programa é reconhecido pelo público como uma iniciativa importante e bem-sucedida.

No trio Trilogia do Reggae, as batidas típicas deste gênero universal e contagiante ficaram sob o comando de Dionorina, Gilsan e Jorge de Angélica. Artistas de referência do estilo na Bahia, os três cantores vêm de Feira de Santana, interior do estado, representando a cidade e o chamado “reggae de raiz” no carnaval soteropolitano. Ninguém ficava parado enquanto a música tocava. Dançarinos no “palco” – três mulheres e um homem – também serviam de inspiração. Os foliões caíram no balanço e entraram na pipoca no cenário de fim de tarde da orla da Barra. “Este é o carnaval da diversidade autêntica. O carnaval e a música da Bahia são muito mais do que tem sido mostrado!”, disse Gilsan ao microfone, aplaudido pelo público. Dentre os seguidores do trio, um animado rapaz que se identificou como Totô, vigilante de 31 anos, concordou. “Reggae também é a cara do carnaval. Tem que ter!”.

Mais tarde, por volta das 22h, foi dada a largada do desfile do Retrofolia 2010. Em cima do trio, estava a banda anfitriã Retrofoguetes, acompanhada dos guitarristas Julio Moreno, argentino radicado na Bahia, e Robertinho Barreto, além do grupo paraense La Pupuña. A concentração de pessoas na espera do início do show era expressiva e, em todo o trajeto, muita gente foi levada pelo som que homenageava os 60 anos do trio elétrico e seus criadores, Dodô e Osmar.

Um dos pilares do rock baiano, o trio instrumental Retrofoguetes pôs na avenida, pelo segundo ano consecutivo (a banda participou também da primeira edição do Carnaval Pipoca, em 2009), a sua “Retrofolia” – um projeto próprio, já tradicional dessa época festiva no cenário alternativo da cidade. No repertório, marchinhas, frevos, canções carnavalescas, sucessos do trio elétrico Armandinho, Dodô & Osmar e músicas autorais: tudo com três guitarras baianas, empunhadas pelos dois guitarristas convidados e por Morotó Slim, integrante dos Retrofoguetes. Já a La Pupunã mostrou seu trabalho baseado na guitarrada, gênero resultante da mistura de carimbó, merengue, cumbia e marchas. O diálogo musical entre as duas escolas de guitarras brasileiras – as guitarradas paraenses e a guitarra baiana – fez sucesso.

Na pipoca do Retrofolia, estavam presentes o maestro Letieres Leite e o baixista Joe, integrante da banda da roqueira Pitty, que também tocou em trio do Carnaval Pipoca neste carnaval. “Sou suspeito para falar, mas isso aqui é massa!”, comemorou Joe. Segundo ele, o carnaval não precisa de cordas, mas sim de pluralidade. “Não acho que o carnaval deva ser segmentado, com um espaço de rock fora dos circuitos, por exemplo. A gente quer vir aqui curtir também. Além do mais, é bom que o grande público se depare com isso e veja que existe uma outra cena, que é muito bacana e produtiva, na música baiana. Estou adorando!”.

O publicitário Ricardo Longo, de 26 anos, acha que a diversidade é sinônimo de inclusão. “Venho pouco para o carnaval justamente porque encontro poucas atrações que me interessam. Hoje, estou aqui só por causa deste trio e estou achando ótima esta iniciativa do Estado”. Lorena Saavedra, produtora cultural, 28 anos, também foi para a rua por causa deste desfile. “Vim ver La Pupuña, e estou achando maravilhoso. Vale muito investir no carnaval do folião pipoca”, opinou.

Ainda dentro do programa Carnaval Pipoca, as atrações do trio Retrofolia 2010 promovem a festa “Retroressaca”, também gratuita, na próxima quinta-feira (18), no Largo Pedro Archanjo, no Pelourinho, a partir das 20 horas.

Afro e Afoxé

Uma das mais tradicionais entidades que fazem parte do Programa Ouro Negro, também da Secult, formou seu tapete branco entre Barra e Ondina nesta segunda: os Filhos de Gandhy atravessaram a avenida sob o sol de uma linda tarde. Além de seus 10 mil associados, que fazem um dos mais belos espetáculos do carnaval de Salvador, o bloco atrai muitos foliões que fazem questão de assistir à sua passagem. Já o bloco Cortejo Afro, outro integrante do Ouro Negro, repetiu presença no circuito e fez seu último desfile neste carnaval.

O programa de fomento Carnaval Ouro Negro apoia pelo terceiro ano consecutivo o desfile de blocos de matriz africana. Neste ano, 120 entidades, entre afoxés, blocos afro, de índio, de samba, de reggae e de percussão, foram contempladas com recursos entre R$ 15 mil e R$ 100 mil, num total de R$ 4,96 milhões de investimentos. O Programa também inclui cursos de formação em gestão cultural e a publicação de um catálogo bilíngue com 128 entidades mapeadas pelas inscrições dos últimos três anos. Visite o site www.carnavalouronegro.com.br para fazer o download gratuito do catálogo.